Os sete - andre vianco

Page 38

—Você encontrou o técnico? — Encontrei. Lá vem ele, voltando do almoço. Ainda não conversei com ele; se quiser, pode interrogá-lo. Delvechio aguardou a chegada do rapaz. Era Douglas. — Douglas, o que aconteceu com o ar-condicionado? Você não o desligou? — Ué, teria desligado se houvesse algum ligado. Como assim? Eliana também se espantou com a resposta do homem, juntando-se mais ao professor. — Eu subi no teto do galpão. Realmente existe toda a tubulação do ar-condicionado, mas o aparelho foi arrancado algumas semanas atrás para manutenção. Agora no almoço eu conversei com o zelador do porto. O aparelho só chega no mês que vem. A perplexidade do professor só aumentava. Alais essa agora! — Não tem nenhum aparelho instalado pelo pessoal da USPA lá dentro? — Não que eu saiba, professor. Ao menos não recebi nenhuma requisição. — Vamos, Douglas. Quero que você vasculhe cada canto do galpão. Isso não e possível. A temperatura lá dentro já deve ter atingido zero grau. Sem um refrigerador-monstro funcionando, isso não seria possível. — Acho bem difícil, professor, mas vamos procurar... O homem entrou acompanhado por Delvechio. Levaram meia hora fazendo uma inspeção rigorosa, removendo placas de isopor do teto e descendo aos pequenos porões (havia quatro, um em cada canto do galpão). Nada encontraram que pudesse refrigerar o local com tanta velocidade e potência. — O senhor vai me desculpar, professor, mas o que tá gelando isso aqui não é deste mundo. Parece obra do tição... do capeta. Delvechio irritou-se. Não era obra de coisa nenhuma. Tinha que haver uma explicação, e uma explicação muito boa. Mais importante, teria de haver uma solução, e rápido. Do contrário, o trabalho dentro do laboratório improvisado teria de ser suspenso. Tudo estaria congelado em poucas horas. Delvechio e Douglas abandonaram o pequeno porão que vistoriaram em último lugar, voltando ao laboratório. O único louco que continuava lá dentro entretido com as pesquisas era o doutor Diaz. Com alguma dificuldade, proporcionada pelo frio que se intensificava cada vez mais, Diaz tentava analisar o líquido extraído da narina do espécime. — Delvechio, venha ver esta merda. Não sei o que você encontrou naquela caravela, mas é o negócio mais esquisito em que eu já botei os olhos. Delvechio retirou os óculos para visualizar o líquido, ampliado milhares de vezes pelo microscópio. Delvechio entendia de história, não de biologia. Mesmo assim, não conteve o espanto e a curiosidade ao perceber que aquele estranho líquido continha uma porção de coisas vivas, saracoteando


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.