Os sete - andre vianco

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CAPITULO 4 O grupo de biólogos, dirigido pelo experiente doutor Sérgio Diaz, chegou a Amarração por volta das onze da manhã. Portanto, mais cedo do que Delvechio e Eliana previram. Aparentando uma sintonia perfeita, os cinco membros do grupo, incluindo o próprio Diaz, estavam empolgadíssimos com o assunto. Foram direto dar uma boa espiada nos espécimes. Num primeiro contato com o laboratório não estranharam o frio, ao qual toda a equipe já estava acostumada em seu ambiente de trabalho. Passados os primeiros minutos, porém, perceberam que o frio era excessivo. Na hora seguinte, a equipe do doutor Diaz já estava com a mão na massa. Preparavam os sete para serem trasladados para a capital, direto para a Universidade, onde estariam mais bem equipados para os exames profundos. Ali, no laboratório improvisado, poderiam fazer pouca coisa. O combustível maior da viagem de seu grupo era a curiosidade. Ver de perto os espécimes portugueses. Deram início a uma espécie de autópsia. Escolheram o cadáver que parecia menos deteriorado para servir de primeiro objeto de estudo. Os outros seriam submetidos a um ritual mais completo quando estivessem todos devidamente instalados em Porto Alegre. Os sete espécimes estavam cobertos por grossos lençóis. O canto do grande salão onde estavam separados parecia muito mais gelado do que o centro da sala. Diaz olhou para o teto, procurando tubos onde provavelmente ficaria a descarga principal do ar-condicionado. Nada encontrou, mas sua dedução não deveria diferir muito do que acontecia. O frio parecia aumentar a cada meia hora. Todos lá dentro transitavam com blusas grossas. Diaz separou seu espécime dos demais, trazendo-o para debaixo da instalação luminosa. O cadáver estava geladíssimo. Aparentemente estava absorvendo o frio muito mais que os outros. Ao contrário dos demais, esse espécime tinha a musculatura muito mais definida e pouco do aspecto seco do restante do grupo. Era como se houvesse deteriorado bem menos que seus irmãos. Diaz descobriria por quê. O rosto do escolhido apresentava a pele menos danificada, sendo quase possível determinar suas feições exatas. As pálpebras estavam cerradas como as dos outros, mas não eram profundas, aliviando o aspecto bizarro. Realmente era bem diferente dos demais. O corpo estava praticamente nu. Havia resquícios de roupas nos dois punhos e também entre as pernas; o pouco tecido que restara parecia queimado. Enquanto os outros seis possuíam as fossas nasais expostas, este, ao contrário, tinha o nariz ainda formado. Era grande e parecia existir um desvio de septo. Provavelmente o homem havia sido espancado antes da execução. Notou no orifício nasal esquerdo uma cintilação estranha, algo como um líquido, principiando a escorrer para fora. Para Diaz, o mais intrigante, no entanto, era a baixa temperatura que o corpo apresentava. Mesmo com a luva emborrachada, tinha certeza de que, se


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