Os sete - andre vianco

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interrogatório. Duas horas mais tarde, por volta das seis da manhã, César foi liberado. As perguntas, feitas por uma mesa de cinco militares contando com o tenente Brites, abordaram desde seu envolvimento no projeto do Departamento de História, sua participação na descoberta da caravela, até o motivo pelo qual resolveu arriscar seu rabo naquela madrugada congelante. Delvechio o ajudara bastante, validando muitas de suas respostas. César mantivera-se calmo durante todo o tempo, não se sentindo implicado na confusão causada pelo espécime fugido. Durante o depoimento, uma informação chamou bastante a atenção dos militares. César descreveu o encontro, ou melhor, o alistamento dos dois sujeitos estranhos caminhando desprotegidos do frio nas ruas nevadas de Amarração A descrição que fizera batia com os dados da Operação. César cruzara o caminho dos dois e saíra vivo, ou quase isso. Quando retornou ao barracão de lona, a agitação era bem menor. A maioria dos operadores estava com a cara cansada, esperando apenas pela rendição da equipe que entraria em seguida. Não havia pistas do paradeiro de Inverno nem de seu novo acompanhante. O ambiente protegido pela lona estava quente, e César começou a transpirar. O dia estava ensolarado, e os sensores espalhados pelo salão marcavam vinte graus. Realmente aquela reviravolta meteorológica não tinha outra explicação senão uma intervenção assombrada. Como poderia fazer um sol de verão com aquele esplendor, logo de manhãzinha, após uma noite congelante daquelas? Um soldado dirigiu-se ao professor, acompanhado do padre, que vinha logo atrás de César, também espantado com o sol radiante. — Isso chegou há uma hora, senhor. Veio de Porto Alegre. — esclareceu o soldado, estendendo ao professor um pequeno objeto cilíndrico. Delvechio observou-o e, após identificá-lo, abriu um largo sorriso. — São as radiografias. O professor e o padre tomaram conta de uma mesa armada no meio do galpão de lona. Amontoaram os vários mapas dispostos sobre a mesa, ganhando espaço para analisar o material recémchegado. César aproximou-se. Delvechio desrosqueou a tampa do cilindro e espalhou várias radiografias sobre a mesa. O padre revirou-as rapidamente, excitado. Sabia exatamente o que procurava. Alberto separou uma chapa e ergueu-a, tentando encontrar mais luz. Os demais faziam o mesmo, com chapas aleatórias, buscando alguma coisa anormal. Alberto queria apenas uma chapa. Aquela que retratava a estrutura óssea do crânio da criatura examinada. Somente com aquela radiografia conseguiria encontrar respostas para suas perguntas. Somente com aquela radiografia conseguiria apegar-se ainda mais à sua tese. — Vejam. — disse o padre.


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