Revista vox 49 baixa

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Julho/13 • Edição 49 • Ano V - Distribuição gratuita

Holocausto braSILEIRO: A colÔnia — ESPAÇO de segregaÇÃO E MORTE

Inverno com arte Festival de Ouro Preto e Mariana em busca da identidade perdida

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Protestos — As manifestações analisadas por quem FOI ÀS RUAS


ÁGUA DA GENTE. O MAIOR PROGRAMA DE ÁGUA E ESGOTO DA HISTÓRIA DE MINAS. O Governo de Minas e a Copasa deixam claro e transparente o futuro de milhões de mineiros. O programa Água da Gente é o resultado de um compromisso do Governo de Minas e da Copasa com a melhoria das condições de vida dos mineiros e um marco na história de Minas. O programa irá melhorar e modernizar os sistemas de tratamento de água e de esgoto em todo o Estado. Levar água com a máxima qualidade e garantir tratamento de esgoto para milhões de pessoas abrem caminho para o desenvolvimento, para gerar empregos, para melhorar a saúde, para evitar doenças, para preservar os nossos rios e para garantir melhor qualidade de vida para as pessoas.

O maior investimento da nossa história: até 2016, mais de

4,5 BILHÕES DE REAIS. Em 2016, onde tem Copasa

85%

da população terá esgoto tratado.

Em 2003, apenas 10,4 milhões de mineiros tinham água tratada da Copasa. Em 2016, serão mais de

Em 2003, apenas 4,8 milhões de mineiros tinham rede de esgoto da Copasa. Em 2016, serão mais de

15,2 MILHÕES.

10 MILHÕES.

Nos 50 anos da Copasa, o programa Água da Gente mostra que Minas tem trabalho eficiente e resultados para as pessoas.

ATÉ O FINAL DE 2016,

107 NOVAS ETE

S

(ESTAÇÕES DE TRATAMENTO DE ESGOTO)


olhar bh

Crepuscular Foto: Jรกder Resende


Editorial Cenário de incertezas As últimas pesquisas de opinião mostram que as bandeiras das manifestações de rua, por todo o país, foram guardadas, mas a insatisfação continua fazendo parte da vida dos brasileiros. A esperada reforma política, que devolveria a legitimidade perdida dos partidos, estancou em meio a um cenário obscuro de interesses particulares e sustentação de nomes questionáveis na vida pública. Sem eleitores nas ruas, o Congresso “respira aliviado” e o fisiologismo que tem marcado as últimas décadas volta às manchetes.

Carlos Viana Diretor Executivo carlos.viana@voxobjetiva.com.br

“... O povo que conhece o seu Deus se tornará forte e ativo.” (Daniel 11:32)

No embate entre a presidente e o Congresso, entramos em uma fase semelhante ao do último ano de governo do ex-presidente, hoje senador, José Sarney. Enfraquecido nas pesquisas de opinião e por uma inflação galopante na época, o Palácio do Planalto ficou refém de um Congresso que cobrava alto demais para a aprovação dos projetos de interesse do Executivo. Esse mesmo preço terá de ser pago pela presidente Dilma e pelo PT que buscam desesperadamente o recontato com os eleitores perdidos aos milhões em poucas semanas. Temos uma presidente de mãos amarradas, pouco dinheiro em caixa e uma base aliada em rebelião. Não é difícil perceber que estamos repetindo os erros do passado. As crises deveriam servir como lições importantes de fortalecimento e aprimoramento dos poderes. Não como moeda para barganhas de interesses menores. Já se vão mais de 30 anos da era Sarney, mas a política brasileira continua a mesma. Portanto, não evoluímos. Pelo contrário. Vivemos um cenário de incertezas que merece atenção redobrada. As mesmas pesquisas de opinião revelam que o eleitor brasileiro está muito mais resistente, irritado e insatisfeito com os rumos da nação. Não é exagero concluir que o futuro dos partidos políticos brasileiros está à deriva. As intenções cada vez mais altas de votos nulos e brancos confirmam a desconfiança nas siglas que vão disputar as urnas no próximo ano. As bandeiras foram enroladas. O vazio tomou conta do cenário eleitoral. Há uma disputa aberta entre quem dá as ordens e quem tem de aprová-las. A impressão é de que o relógio da história parou ou retrocedeu nas horas. É como se, por ora, nada tivesse acontecido. Mas é apenas uma impressão. Viveremos meses de vazio até as próximas eleições. Decisões importantes devem ser adiadas mais uma vez. Não há como prever que as manifestações voltarão a sacudir as ruas brasileiras na mesma intensidade das de junho. Muito menos, o tamanho da reação de quem sustenta o país pelo voto. Há apenas uma certeza para o futuro: para o eleitor, o tempo pode até demorar, mas nunca atrasa.

Editor: Paulo Filho | Editor Adjunto: André Martins l Diagramação e arte: Felipe Pereira | Capa: Felipe Pereira | Foto de capa: Jáder Rezende | Reportagem : André Martins, Ilson Lima, Jáder Rezende, Paulo Filho | Correspondentes: Greice Rodrigues - Estados Unidos, Ilana Rehavia - Reino Unido | Diretoria Comercial: Solange Viana | Anúncios: comercial@voxobjetiva.com.br / (31) 2514-0990 | Atendimento: jornalismo@voxobjetiva.com.br (31) 2514-0990 | Tiragem: 30 mil exemplares | voxobjetiva.com.br |

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PLANO AGRÍCOLA E PECUÁRIO 2013/2014. COMEÇAR COM CRÉDITO É MUITO MAIS FÁCIL.

O Brasil é um dos líderes da agropecuária no mundo, com recordes de produção a cada ano. Praticamente tudo o que os brasileiros consomem passa pela cadeia produtiva do agronegócio, o que movimenta a economia e garante cerca de 30 milhões de empregos no país. Parte da produção é exportada, contribuindo significativamente para a balança comercial. Por isso, investir na agropecuária é investir no Brasil. Com o Plano Agrícola e Pecuário 2013/2014, mais de 5 milhões de propriedades rurais podem contar com crédito para desenvolver a produção: insumos, equipamentos, irrigação, armazenagem e muito mais. E assim continua o ciclo de crescimento.

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Sumário 29 9

16

Verbo

24

16

12

CIÊNCIA SEM FRONTEIRAS

20

HÁ 15 ANOS

28

QUEM FOI PARA A RUA E POR QUÊ

DANIELA ARBEX Jornalista mineira revela um dos capítulos mais cruéis da história brasileira: o genocídio de cerca de 60 mil pessoas no maior manicômio do Brasil

METROPOLis

9

24

Saiba como funciona o programa brasileiro que enviou milhares de estudantes para qualificação no exterior Greve da PM: melhorou para quem?

VILA VIVA

Manifestantes mostram a cara e dizem a que vieram

A necessidade de preparar as comunidades para as mudanças

hORIZONTES

COMIDA DI BUTECO Prestes a completar o 15º aniversário, evento faz levantamento de acertos e prejuízos

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38

KATE MOSS Sinônimo de bons negócios no mundo da moda, Kate Moss é tema de leilão da Christie’s


28

20

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40

46

MONDO CULT

40

FESTIVAL DE INVERNO

PSICOLOGIA • Maria Angélica Falci Primeiro amor

Ouro Preto e Mariana se movimentam com tradicional festival de cultura e arte

Artigos justiça • Robson Sávio As manifestações e alguns de seus significados

IMOBILIÁRIO • Kênio Pereira Quem estimula os golpes no mercado imobiliário

política • Paulo Filho Ebulição, pasmo e tergiversações

38

8

Meteorologia • Ruibran dos Reis

35

A origem da água no planeta Terra

45

crônica • Joanita Gontijo Não espere nada do Candy Crush

50

SALUTARIS

15

RECEITA

23

VINHOS • Danilo Schirmer

Spaguetti al Cartoccio Dicas de harmonização

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artigo

Justiça

As manifestações e alguns de seus significados

robson Sávio Reis de Souza Filósofo e cientista social robsonsavio@yahoo.com.br

8 | www.voxobjetiva.com.br

Para além do voluntarismo e do desdém contra as instituições políticas tradicionais, é preciso enxergar o caráter político das manifestações que tomaram conta do Brasil em junho passado. Agora espera-se que as variadas proposições do movimento desaguem no aprofundamento da democracia participativa e das suas instituições – que precisam processar os clamores populares. O movimento que tomou as ruas do Brasil teve características próprias: demandas individualistas, presença de grupos dos mais variados segmentos sociais, pautas muito diversificadas e falta de coesão de uma pauta reivindicatória específica. Em boa medida, o movimento das massas teve suas origens nas redes sociais, onde não há hierarquias de comando nem centralização. Pelo contrário. Há uma horizontalidade nas formas de participação. Porém, o lado mágico da internet estava presente: a ideia de que a vida e as instituições, como num clique de computador, mudam milagrosamente num segundo. É importante observar: no espaço público, a ausência de líderes para a negociação pode ensejar manipulações de grupos pouco escrupulosos. Nessas condições, o perigo de uma guinada conservadora e/ou autoritária é real. Políticos conservadores, filhos do chamado “pacto das elites”, tentam computar louros. Por outro lado, jovens das classes média e alta, muito presentes nas manifestações, nem sempre lutam por reformas estruturais e transformadoras. Muitas vezes, querem manter o velho status quo de uma sociedade de privilégios (não de direitos). Para além de demandas gerais, registrem-se muitas especificidades. Por exemplo: a denúncia de um modelo de cidade de megaeventos que é altamente segregador. Percebe-se nas arenas construídas para a Copa que tais empreendimentos são para quem tem dinheiro; é uma cidade de e para poucos. Muitos grupos de cidadãos rejeitam um modelo urbano imposto por entidades privadas externas. Muitos movimentos sociais presentes nas manifestações não tinham canais de visibilidade para a vocalização de suas preferências. Sempre foram tratados com desdém e repressão pelo poder público. Ignorados pela grande mídia, esses grupos estavam presentes e atuantes nos protestos. Por falar em mídia, não podemos esquecer que a imprensa teve papel decisivo na onda de reivindicações. Ao observar que a opinião pública estava favorável aos protestos, os poderosos grupos de comunicação, em uníssono, começaram a inflar o movimento de forma meio irresponsável. Havia certo clima “do quanto pior, melhor”. Por fim, boa parte da classe média progressista e mesmo os setores da chamada “nova classe média” vinham vocalizando a insatisfação pelo fato de o governo federal não avançar nas chamadas “reformas estruturantes”. O ano 2014 está aí: ano de eleições e de Copa do Mundo. O que podemos esperar?


METROPOLIS

Isabel Baldoni

Vida nova no morro Primeira assessoria para assuntos de vilas e favelas do Brasil trabalha em programas para moradores de aglomerados urbanos e chega onde o poder público não vai André Martins Há muito tempo, as favelas brasileiras carregam um estigma — o da violência. Apropriados por muitos criminosos, os morros e seus moradores passaram a ser vistos com desconfiança. Com a ausência do poder público, outros problemas sociais e estruturais começaram a surgir. Com a cidadania parcialmente suprimida, o cidadão residente nessas áreas tinha que lutar contra um tipo de segregação social originada à base de muito preconceito. Esse é o panorama que vigora em grande parte do Brasil. No entanto, desde 2005, essa deixou de ser a realidade na capital mineira. Se não mudou totalmente, o cenário pelo menos dá sinais de que é possível ser alterado em médio prazo. Pensado pela prefeitura de Belo Horizonte e contando com recursos do Programa de Aceleração do

Crescimento (PAC), do governo federal, o programa Vila Viva trouxe a proposta de reformular a vida nos aglomerados. Gradualmente as favelas têm desaparecido e cedido espaço para vilas e bairros. Moradias dignas substituem os barracos erguidos sem planejamento. A mão de obra utilizada na construção dos conjuntos habitacionais e nas obras de urbanização é majoritariamente composta por pessoas das próprias comunidades onde são desenvolvidos os trabalhos. Enquanto homens se envolvem em obras, mulheres têm o espaço garantido em cooperativas e associações. Além de impactar visualmente o ambiente, o Vila Viva traz uma série de projetos de caráter social. Hoje existem espaços www.voxobjetiva.com.br | 9


METROPOLIS

de convivência, escolas, postos de saúde, água e esgoto tratados. O programa se tornou exemplo para os municípios brasileiros e aglomerados ao redor do mundo. Seguindo o modelo de cidadania participativa, o Vila Viva estimula as comunidades. Em vez de assistirem passivos às mudanças, os moradores têm feito parte dos processos de transformação. Passada a primeira fase de investimentos, que envolveu uma cifra de R$ 1,15 bilhão, as comunidades precisam de orientação para assimilar o que tem acontecido nos últimos oito anos e entender a importância do apoio às ações desenvolvidas. É isso que defende o diretor da Assessoria para Assuntos de Vilas e Favelas, vinculada à Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social (Sedese), Cristiano da Silva - o Cris do Morro. “Não existe uma comunidade em Minas que recebeu mais projetos sociais do que a Comunidade da Serra. Divino Advincula

ção dos aglomerados do estado é a principal iniciativa da assessoria. Minas Gerais é a primeira unidade da federação com um setor voltado para os assuntos pertinentes aos morros. A equipe ocupa um pequeno setor do 14º andar do Prédio Minas, na Cidade Administrativa, e é composta por sete pessoas. Lá eles realizam estudos, fazem levantamentos e chegam às conclusões do que é viável em cada comunidade da Região Metropolitana. “Nós fazemos um trabalho de mediação entre o poder público e as comunidades. Por termos uma visão geral do perfil de cada aglomerado, sabemos o que funciona e o que não funciona em cada localidade”, explica o assessor Wesley Moraes. De acordo com Cris do Morro, um dos maiores desafios da assessoria é trabalhar a mentalidade dos moradores e os estimular a querer e fazer mais. “Há uma falha na política de auxílio no Brasil. Infelizmente, principalmente o governo federal continua preocupado com encher a barriga do cidadão em vez de encher a cabeça dele. Muitos moradores de morros e favelas moram em barracos com ‘gato’ (ligação clandestina) na água, na luz e no telefone. Ele não está preparado para entrar em um apartamento e ter que pagar condomínio, água e luz”, explica. A Cemig tem ajudado na conscientização dos moradores de vilas e favelas. Em visitas, equipes da estatal de energia conversam com os moradores, alertam sobre os perigos do gato e ensinam como reduzir o consumo de energia. Mediante a comprovação de baixa renda, a empresa tem doado os padrões de energia às famílias carentes. JOGO DE EMPURRA

Atividades culturais e de lazer chegaram aos morros a partir do programa Vila Viva

Lá existe o estádio Baleião, o Criança Esperança, uma emissora de rádio, centros culturais, o Vila Viva, linhas de ônibus, um posto de saúde e vários projetos. O que está faltando? Organização. Os projetos existem, mas e aí? Estão vazios. Então isso tudo não se resume apenas a dinheiro; é algo mais”, explica Cris. A Assessoria para Assuntos de Vilas e Favelas foi criada em 2011 pelo governador Antonio Anastasia. Pensar em políticas e ações que atendam à popula10 | www.voxobjetiva.com.br

A assessoria tem realizado também um trabalho de amparo às chamadas favelas de divisa. Localizadas em pontos limítrofes da capital com cidades do entorno, esses aglomerados ficam à mercê do poder público. As prefeituras não se responsabilizam, e isso inviabiliza as ações. A favela de Itaipu, entre Contagem, Ibirité e Belo Horizonte, é uma das que sofrem com a situação. “Os programas sociais de BH não podem ir até lá, os de Ibirité também não podem nem os de Contagem. E aí? Quem vai lá? Esse é um problema grave, porque o traficante está presente e sabe que,


BHZ com essa ausência, é fácil aliciar menores. Dessa forma, a criminalidade se alastra facilmente. Precisamos discutir essas questões. E é para isto que a assessoria surgiu: aproximar governo e favelas”, aponta Cris. LIDERANÇA Há nove anos, Júlio César Evaristo dava um grande passo rumo ao futuro e à vida. Largava o crack para se tornar um exemplo de força de vontade e recuperação. Aos 36 anos, ele é referência para jovens e crianças da comunidade onde nasceu e foi criado: o Morro do Papagaio. Além de dar aulas de silkscreen, Júlio ajuda a promover atividades de cunho cultural e esportivo para os moradores da comunidade. Ele é uma das lideranças por lá há cerca de cinco anos. “O meu trabalho aqui no Morro do Papagaio é voltado mais para os jovens. Eu escuto as solicitações do povo, e tentamos correr atrás de coisas que possam ajudar a comunidade. Fora os eventos promovidos e as aulas de silkscreen, a gente tenta inserir esses jovens em cursos profissionalizantes”, revela. Júlio desempenha um papel importante e estratégico no morro. Pela própria história de vida, ele é tido como um exemplo a ser seguido. Ele tem credibilidade e voz ativa entre os moradores. “Eu conheço todos, e todos me conhecem. Eles sabem que, quando eu falo, não é para prejudicar. Muito pelo contrário. O que eu ganho com tudo isso é ver a pessoa crescendo, trabalhando. Assim como eu fui ajudado um dia, eu procuro ajudar. É gratificante crescer e ver as pessoas acompanharem você”, entende. Cris revela que a Assessoria para Assuntos de Vilas e Favelas pensa em estratégias para a capacitação de líderes comunitários. Segundo ele, esse é o passo inicial para um trabalho mais amplo, uma vez que essas lideranças são ouvidas e o elo e ntre a comunidade e os agentes públicos. “Acho que o poder público tem que começar a observar quem são seus líderes comunitários. Quem que é o cara que está falando naquela comunidade? Qual que é a onda? O que tem acontecido? Ele está preparado? Ele é um bom exemplo? Como está o psicológico e o lar desse indivíduo?”, questiona. “Ajudar esse líder é essencial, pois, a partir dele, a comunidade é alcançada”, conclui.

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METROPOLIS

Conhecimento sem limites

Mais de 20 mil estudantes, desde de 2011, foram estudar fora do país em cursos de graduação e pós-graduação

Greice Rodrigues, de Nova York

Divulgação

Estudar fora do país é privilégio de poucos. Mas um programa do governo federal torna essa possibilidade viável para milhares de estudantes brasileiros. Criado em 2011, o programa Ciência sem Fronteiras já enviou mais de 20 mil estudantes de graduação e pós-graduação para escolas internacionais. Trata-se de uma excelente oportunidade para a descoberta e a formação de jovens talentos. É o caso da estudante Amanda Pesqueira. Aos 22 anos, a paulistana e estudante de zootecnia é bolsista do Ciência sem Fronteiras nos Estados Unidos. Amanda foi uma das primeiras a conseguir financiamento para terminar sua graduação fora do Brasil. “Fiz meu último ano da graduação aqui. Tudo que aprendi e vivenciei ampliou minha visão de mundo e me fez enxergar possibilidades que farão diferença na minha vida profissional”, declara. A estudante conta que escolheu a University of Kentucky. 12 | www.voxobjetiva.com.br

Amanda Pesqueira (de bege) concluiu o último ano da graduação na Universidade de Kentucky. Para ela, participar do programa abriu os horizontes e proporcionou possibilidades profissionais


Orientada por professores da universidade, Amanda inscreveu seu trabalho de conclusão da graduação em um concurso para jovens cientistas promovido pela Alltech – empresa americana líder mundial no setor de nutrição e saúde animal. E foi a escolhida entre mais de 7 mil candidatos. “Minha vida profissional tomou um novo rumo. Se não fosse essa bolsa de estudos, provavelmente eu seria apenas mais uma graduanda no Brasil”. A experiência vivida pela paulistana cumpre bem a proposta do programa. Promover o intercâmbio de conhecimentos de sistemas de ensinos competitivos, qualificando profissionais para atender às demandas do mercado nacional. Universidades de 23 países, entre eles, Estados Unidos, Alemanha, Austrália, Canadá, Espanha e Coreia, integram a lista de instituições parceiras do programa. Os destaques ficam por conta de tops, como Harvard e Massachusetts Institute of Techonology (MIT): duas instituições de ensino americanas dentre as mais importantes do mundo. O objetivo do governo é enviar 100 mil universitários para estudar no exterior até 2015. Vale destacar que o Ciência sem Fronteiras contempla somente estudantes de Ciências, Engenharia e Tecnologia. Essas macroáreas são prioritárias para o governo. Aí se incluem os cursos de química, física, computação, ciências médicas, desenho industrial, entre outros. “São áreas carentes de mão de obra no Brasil. A concessão de bolsas é um incentivo para despertar o interesse dos estudantes, que tem diminuído nos últimos anos”, afirma Emerson Willer, coordenador de ações do programa. Nos próximos anos, o Brasil terá uma carência ainda maior de profissionais dessas áreas, segundo Willer. Para adquirir a bolsa, o candidato não precisa se submeter a nenhum teste. Basta acessar o site do programa e se inscrever. Mas o aluno precisa preencher pré-requisitos básicos. O histórico acadêmico é decisivo para a aprovação. A participação de programas de iniciação científica ou a conquista de algum prêmio na universidade são fatores importantes de avaliação. Outros critérios considerados fundamentais são ter obtido nota mínima de 600 pontos nas edições do Enem, a partir de 2009, e ter domínio do inglês. A fluência em inglês tem sido um obstáculo para muitos estudantes, na avaliação do ministro da Educação Aloizio Mercadante. “Identificamos excelentes alunos, especialmente da rede pública, que foram muito bem no Enem, mas que não têm o domínio da língua. Mas nós não vamos deixá-los para trás. O programa veio para fazer a inclusão de quem tem talento. A língua não será um obstáculo que não possa ser ultrapassado”, garante o ministro.

Roberto Stuckert Filho

A presidente Dilma em discurso na Universidade de Harvard, uma das instituições parceiras do programa

Para viabilizar o acesso desses estudantes ao programa, o governo lançou o programa Inglês sem Fronteiras, que oferece curso de alta qualidade on-line. O estudante só precisa se cadastrar no site e assistir às aulas regularmente. “Queremos incentivar o estudo de outras línguas, principalmente o inglês, que é universal. Não podemos continuar como um país monoglota”, diz Willer. Mas mesmo aqueles que conseguiram a bolsa de estudos podem aprimorar o inglês no país onde forem estudar. Todas as universidades oferecem essa opção aos estudantes. Mesmo aparentemente com bons resultados, o programa Ciência sem Fronteiras vem recebendo críticas. Alguns universitários se sentem prejudicados com a mudança no critério de avaliação dos candidatos. Até o ano passado, a nota do Enem era apenas usada como critério de desempate entre os candidatos. Agora é quesito obrigatório ter nota mínima de 600 pontos no Enem. Os estudantes protestam nas redes sociais. Os universitários que não fizeram o Exame ameaçam entrar com mandado de segurança contra essa mudança no critério de seleção. Mas o governo afirma que não vai ceder. É esperar para ver. www.voxobjetiva.com.br | 13


METROPOLIS

O programa permite que estudantes de graduação e de pós-graduação façam estágio no exterior para manter contato com sistemas educacionais competitivos em relação à tecnologia e inovação. O Ciência sem Fronteiras também tenta fazer o caminho inverso: atrair pesquisadores do exterior que queiram se fixar, por tempo determinado, no Brasil, desenvolvendo trabalhos acadêmicos ou de campo que promovam avanços no campo nacional da pesquisa. Lançado em dezembro de 2011, o programa Ciência sem Fronteiras já concedeu 16.788 bolsas de estudos — 8.762 da Capes e 8.036 do CNPq. A meta do programa é oferecer 101 mil bolsas até 2015. Serão 75 mil por parte do governo federal e o restante com ajuda da iniciativa privada.

A expectativa até o fim deste ano é de chegar a 20 mil bolsas, com investimento aproximado de R$ 1,12 bilhão. Os editais lançados até o momento selecionaram bolsistas para intercâmbio nos seguintes países: Estados Unidos, Canadá, Reino Unido, Alemanha, França, Itália, Bélgica, Holanda, Espanha, Portugal, Austrália e Coreia do Sul. O programa promove a consolidação, expansão e internacionalização da ciência e tecnologia, da inovação e da competitividade brasileiras por meio do intercâmbio e da mobilidade internacionais de estudantes, professores e pesquisadores. A oferta de bolsas prevê as modalidades graduação-sanduíche (quando o estudante cumpre parte dos estudos em uma instituição estrangeira), educação profissional e tecnológica e pós-graduação, doutoradosanduíche, doutorado pleno e pós-doutorado.

Saiba o que é preciso para concorrer a uma bolsa de estudos • Ser brasileiro nato ou naturalizado; • Estar regularmente matriculado em instituição de ensino superior no Brasil em cursos relacionados com as áreas prioritárias do Ciência sem Fronteiras; • Ter sido classificado com nota do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) com, no mínimo, 600 pontos; • Ter bom desempenho acadêmico; • Ter concluído 20% do currículo previsto para o curso de graduação; • Apresentar teste de proficiência de língua inglesa (TOEFL-ITP ou TOEFL-iBT).

Ao ser contemplado, o estudante recebe: • Passagens de ida e volta para o país de destino; • Auxílio para compra de eletrônicos, como laptop ou tablets; • Auxílio-moradia e seguro de saúde. • As bolsas têm duração de 12 a 18 meses. Outras informações podem ser obtidas na página do programa: www.cienciasemfronteiras.gov.br.

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artigo

Imobiliário

Quem estimula os golpes no mercado imobiliário A todo momento vemos golpes praticados por algumas empresas no mercado imobiliário, figurando como vítimas até pessoas instruídas, com boa cultura geral e com alto padrão financeiro. Rotineiramente, a vítima do golpe, após ter o prejuízo, reconhece que achava que sabia de tudo e acaba percebendo que as informações que tinha não eram suficientes para entender tudo sobre o negócio, e que errou por não contratar uma consultoria especializada. Muitos problemas poderiam ser evitados se o Contrato de Compra e Venda tivesse sido elaborado por um advogado especializado que não tivesse interesse na conclusão do negócio, pois assim teria isenção. Logicamente não se pode cobrar do corretor de imóveis e do construtor, que têm interesse na conclusão da transação, que eles levantem dúvidas ou riscos que possam vir a desestimular o negócio que tem diversas etapas complexas. A vontade de levar vantagem, de obter lucro fácil; a falta de informação e o comodismo estimulam os golpistas no mercado imobiliário, pois os compradores fazem tudo para economizar com uma assessoria. Assim eles favorecem o sucesso do golpe.

Kênio Pereira Presidente da Comissão de Direito Imbiliário da OAB-MG keniopereira@caixamobiliaria.com.br

INDIVIDUALISMO NO CONDOMÍNIO

Outra causa que estimula diversos abusos é o fato de as pessoas deixarem de lado seu direito por acharem ser normal tomar prejuízo. As pessoas prejudicadas acreditam que outros deverão tomar providências, e nada é feito, a ponto do mau empresário ficar feliz com a ideia de que o crime realmente compensa. Devemos entender que, na área imobiliária, a má-fé nas atitudes que lesam os consumidores não se enquadra apenas em atos ilícitos sujeitos à indenização pecuniária em processos cíveis. Na realidade, esses empresários podem praticar atos que se enquadram na esfera penal, como o estelionato. A falta de organização dos compradores que não se unem no condomínio numa Comissão de Representantes assessorada por profissionais experientes estimula a construtora a enganá-los com a apresentação de “Projeto Transparência”, o qual esconde que os valores recebidos estão sendo desviados para outras obras. O excesso de esperança e a ingenuidade dos compradores têm aumentado o prejuízo diante do fato de a construtora utilizar-se de mecanismos engenhosos para continuar a receber as prestações de empreendimento que, às vezes, nem saiu do chão e que está atrasado há anos. É importante os compradores entenderem que, a partir do momento que a construtora vende as frações do terreno, ela deixa de ter total autonomia na incorporação, pois a lei proíbe que a construtora altere o projeto e determina o dever de cumprir o cronograma de obras dentro do prazo, podendo a Comissão de Representantes destituí-la diante do atraso injustificado. O medo de agir, a desinformação e o individualismo motivam o surgimento de casos semelhantes ao da Construtora Encol, a despeito dos diversos avisos sobre como evitar os riscos. www.voxobjetiva.com.br | 15


Comida di Buteco

EMpreendimento DI BUTECO De Belo Horizonte para 16 cidades do país, o Comida Di Buteco faz balanço e prepara décima-quinta edição Ilson Lima Uma boa ideia, bem trabalhada, sempre é bem-sucedida. Que o digam os idealizadores do Comida Di Buteco, Eduardo Maya e Maria Eulália Araújo. Preparando-se para a organização para o próximo ano, quando completa 15 anos, o Comida Di Buteco já é um dos maiores acontecimentos gastronômicos e culturais do país. O evento já se espalhou pelo Brasil. Nascido em Belo Horizonte, em 2000, o Comida Di Buteco teve a sua primeira edição por iniciativa de Maya e Maria Eulália. Eles trabalhavam na extinta Rádio Geraes FM. A emissora, por meio de primeiro proprietário, João Guimarães, foi quem bancou o concurso em seus cinco primeiros anos. A rádio 16 | www.voxobjetiva.com.br

se retirou do evento quando mudou de dono em 2005. O concurso se tornou independente a partir daquele ano, passando a ser uma empresa de sociedade limitada. Em 2008, dois executivos, Ronaldo Perri e Flávia Rocha, decidem se agregar ao negócio e viabilizam a expansão do concurso para outras cidades. Os números confirmam a evolução do negócio: em sua primeira edição, o evento teve a participação de dez botecos e um público de 30 mil pessoas. A edição deste ano ocorreu simultaneamente em 16 cidades, com a participação de 388 botecos e de um público de 3,8 milhões. Os estabelecimentos movimentaram a cifra nada desprezível de R$


METROPOLIS

31 milhões. Em 2009, a arrecadação dos bares com o evento foi de R$ 14 milhões. Ainda na década passada, quando se restringia a Belo Horizonte, o Comida Di Buteco foi citado no New York Times. Em 2008, o evento foi executado em três capitais: Rio de Janeiro, Goiânia e Salva-

dor. Desde o ano passado, 16 cidades participam do concurso. Foi a primeira edição em São Paulo, capital. Números da edição de 2013, realizada de 12 de abril a 30 de maio simultaneamente em 16 cidades do país:

CADEIA DE VALOR (em milhões de reais) Itens

2009

2010

2011

2012

2013

Fornecedores

7,3

8

9,5

11

13

Botecos

14

16

19

27

31

Mídia espontânea

14

16

17,6

34

37

SUSTENTABILIDADE (em milhares) 2009

2010

2011

2012

2013

Empregos

7,3

8

9,5

11

13

Turistas

14

16

19

27

31

Público (em milhões) Público

2009

2010

2011

2012

2013

1,4

1,9

2,3

3,3

3,8 Fonte: Comida Di Buteco

Críticas são pontuais

Um dos pontos-chave da iniciativa para a manutenção do seu sucesso é ter sabido contornar as adversidades surgidas em sua trajetória. Insatisfações e possíveis discordâncias com relação aos critérios estabelecidos pelo concurso ou sobre o retorno que os bares têm como participantes do evento vêm sendo discretamente superadas nesses anos. De certa forma, essa condição revela a competência da organização do evento, conforme admitem os críticos. Três donos de bares contatados pela Revista Vox Objetiva ―de regiões diferentes de Belo Horizonte ― se dispuseram a falar. A pedido deles, nem os nomes deles nem de seus estabelecimentos vão aparecer. Os comerciantes questionaram alguns pontos, mas elogiaram muito a iniciativa, reconhecendo seus pontos positivos.

Esses comerciantes apontam as falhas e indicam pontos de melhoria. Para eles, os donos dos bares participantes precisam ter mais poder de decisão nos critérios estabelecidos. O retorno em público e renda para os estabelecimentos nem sempre compensa os gastos. O período do concurso (12 de abril a 12 de maio) se reflete negativamente em alguns bares que têm freguesia assídua nos fins de semana. “Somos meros participantes. Não apitamos nada na organização do evento”, afirmou um dos entrevistados. Por outro lado, alguns donos de bares admitem que o evento serviu para impulsionar seus negócios. Sócia da empresa que administra e organiza o concurso, a empresária Maria Eulália Araújo rebate as críticas e disse estranhar esse tipo de manifestação. “Estranho esse tipo de crítica, porque a pré-produção do concurso com os donos de botecos começa www.voxobjetiva.com.br | 17


METROPOLIS

Que fatos e números confirmam o sucesso da proposta do Comida Di Buteco como evento gastronômico e cultural? Alguns valores comprovam que a iniciativa tem sido muito bem-sucedida: - Valorização e resgate do boteco como importantíssimo espaço de sociabilidade; - Valorização e resgate da cozinha de raiz, por meio do estímulo à pesquisa, da criação e do desenvolvimento de novos petiscos, ano a ano, nos botecos participantes. A gastronomia de raiz como um todo tem ganhado muito com o Comida Di Buteco. Além de os estabelecimentos participantes pesquisarem e criarem receitas, todo o setor se movimenta; - Demarcação de um roteiro turístico, mapeado pela cozinha de raiz, que estimula o endoturismo e atrai turistas. Em 2012, 7 mil turistas votaram; Comida di Buteco

O Caracol de Perfil, do Café Palhares, apresentado pelos chefes da casa

- Visibilidade nacional para as cidades onde o circuito acontece, com ampla mídia espontânea que todos os anos o concurso gera; - Geração de emprego e renda;

com quase um ano de antecedência. Ele (o dono de bar) vive com a nossa produção várias etapas prévias, desde a elaboração da receita, a produção das fotos dos petiscos até a reunião para a adesão. Nessa fase, o regulamento com todas as informações sobre o concurso é entregue ao participante. Além disso, tem curso de qualificação gratuita com o Senac. Só não faz quem não deseja fazer”, replica. A empresária também repele os questionamentos feitos aos critérios do Comida Di Buteco. Segundo Maria Eulália, os critérios são discutidos todos os anos com todos os participantes. “Em todos os anos, público e jurados avaliam quatro critérios básicos: tira-gosto, higiene, atendimento e temperatura da bebida. O peso do júri e do público é de 50% cada. Tudo é feito de forma democrática e transparente”, garante. ENTREVISTA

Sócia da empresa defende que evento é um sucesso e se diz apaixonada por ele. 18 | www.voxobjetiva.com.br

- Inclusão social; E, por último, o concurso pode ser considerado uma plataforma de desenvolvimento socioeconômico em todas as cidades onde é realizado. Em Belo Horizonte, obviamente, a sua força como plataforma de desenvolvimento é ainda mais relevante e poderosa. Que critérios têm norteado a proposta? Houve mudanças nesses critérios? Desde a sua criação, o Comida Di Buteco tem a missão de resgatar e valorizar a cozinha de raiz. Com a renovação da missão, o evento vem contribuindo para um novo desenho da cozinha de raiz brasileira e vem se tornando um transformador de negócios e de vidas. No planejamento anual, nós revemos a missão do concurso. E sempre tentamos incrementar o processo do Comida Di Buteco para que seus valores sejam sempre mais compartilhados e vivenciados por todas as esferas envolvidas: público, donos e funcionários de botecos, imprensa, jurados e patrocinadores.


organização do evento tem alguma forma ― alA guma pesquisa, por exemplo ― para aferir o grau de satisfação dos donos de botecos com o evento? Sim. Ao término de cada edição, em todas as cidades, fazemos reuniões de encerramento com a produção e os donos dos estabelecimentos. Ouvimos críticas e sugestões para debater sobre a edição ocorrida. Nessa reunião é aplicado um questionário de avaliação para os donos dos botecos opinarem sobre todas as esferas de contato: bar, organização, patrocínio, imprensa e equipe geral do concurso. O questionário é tabulado para que tenhamos uma noção plena sobre o grau de satisfação dos empresários. Esse processo também é realizado com os patrocinadores num formato um pouco diferente. E toda a equipe de produção também participa para que possamos obter a avaliação geral da edição. Questionados sobre a avaliação que fazem do evento, alguns participantes/donos dos estabelecimentos (exatamente três) afirmam que são apenas meros participantes. Eles alegam que não têm subsídios para balizar uma resposta justa e abrangente. É assim mesmo que funciona? Estranho, porque a pré-produção do concurso com os donos de botecos começa com quase um ano de antecedência. Ele (o dono de bar) vive com a nossa produção várias etapas prévias, desde a elaboração da receita, a produção de fotos dos petiscos até a reunião para a adesão. Nessa fase, o regulamento com todas as informações sobre o concurso é entregue ao participante. Além disso, tem curso de qualificação gratuita com o Senac. Só não faz quem não deseja fazer. E, duas semanas antes de o concurso começar, fazemos uma grande reunião de abertura, que é tratada como um grande evento, com a participação de todos os donos, patrocinadores e a equipe de produção. Essa reunião geralmente é feita em um local reservado e produzido para esse fim. Os resultados da edição anterior e novas pesquisas que fazemos sobre gastronomia são apresentados, acompanhados de metas e objetivos da edição vindoura e das ações promocionais dos patrocinadores. A reunião dura um período inteiro e é considerada o pontapé inicial por todos os donos de botecos. Ali as informações são clara e amplamente apresentadas, detalhando as etapas e os desdobramentos do concurso.

Isso é feito de novo, porque, no momento do convite de adesão, eles escutam tudo sobre o concurso. Muito me admira saber que houve dono de bar dizendo que não teve informações sobre o concurso. Além de tudo isso, que acontece bem antes de o concurso começar, eles têm suporte amplo da produção, da equipe que vai aos botecos, do nosso escritório e dos próprios sócios da empresa. Nas semanas seguintes à do encerramento, eles são convidados, um a um, para ir ao nosso escritório ou recebem visita de uma pessoa da produção para a entrega do relatório individual que a Vox Populi entrega. O relatório mostra as notas por estabelecimento, por categorias e por jurados, sem citar o nome dos votantes, é claro. Nesse momento, todas as dúvidas que eles têm sobre a votação em si estão aptas a serem respondidas pelo Comida Di Buteco, desde que sejam apresentadas. Pela história do evento, percebe-se a evolução que o Comida Di Buteco teve ao longo de sua trajetória. O evento se expandiu para outras cidades e incorporou outros sócios. Que novidades podem ser adiantadas aos leitores da Revista Vox Objetiva? Estamos ano a ano revendo nossos processos e o nosso conceito. Tentamos sempre levar um concurso melhor e mais “saboroso” para todos, com muita paixão. Somos absolutamente comprometidos e apaixonados pelo Comida Di Buteco.

Arquivo Pessoal

Maria Eulália, sócia do Comida Di Buteco, revela que, ao final de cada edição do evento, são realizadas reuniões de avaliação com a organização e com os donos de bares e restaurantes participantes www.voxobjetiva.com.br | 19


ASPRA/Divulgação

Luta inglória Após 16 anos, conquistas da PM de Minas não se refletem em benefícios para a sociedade Ilson Lima Passava um pouco das 7h da manhã, do dia 13 de junho de 1997, quando centenas de praças do Batalhão de Choque da Polícia Militar mineira (atual Batalhão de Policiamento de Eventos) saíram em passeata da então sede daquela unidade, no bairro dos Caiçara, Região Noroeste da capital. Inaugurava-se, a partir daquele momento, o movimento que abalou as estruturas dessa corporação centenária, e até a do governo do estado. No dia anterior, cerca de 300 praças do mesmo 20 | www.voxobjetiva.com.br

batalhão desobedeceram às ordens dos comandantes de se perfilar e iniciar o policiamento. Puseram fogo em colchões e declararam o que seria a maior rebelião da história da Polícia Militar mineira. Como rastilho de pólvora, o movimento se espalhou pelo país. Pouco mais de 16 anos do movimento que mobilizou os mais de 40 mil policiais militares do estado, é possível dizer que internamente a Polícia Militar nunca mais foi a mesma. As mudanças sofridas impactaram a sociedade mineira.


METROPOLIS

Entretanto, paradoxalmente às melhorias obtidas pelas corporações militares do país, a violência nunca foi tão assustadora.

ASPRA/Divulgação

Um dos líderes dos praças da PM mineira àquela época, o subtenente Luiz Gonzaga Ribeiro, coordenador da Comissão de Direitos Humanos da Associação dos Praças Policiais e Bombeiros Militares da PM mineira (Aspra), aponta os legados do movimento e as causas do aumento da criminalidade no Brasil, que o coloca entre os países mais violentos do mundo. “Com a epidemia das drogas, a violência aumentou ainda mais. O estado está completamente desestruturado em relação à segurança pública. O diagnóstico é ruim”, frisa. Segundo Gonzaga, um dos grandes problemas da área é o modelo de organização do sistema, dividido entre duas polícias - Militar e Civil. A primeira é responsável pelo policiamento ostensivo e a outra, pelo policiamento investigativo. “O que ocorre é que nenhuma das duas se sente efetivamente responsável pelos resultados ruins, mas dos bons elas se apropriam”, avalia. Gonzaga é defensor de uma nova arquitetura para o sistema de segurança pública no país, com a adoção de uma polícia de ciclo completo ― ao mesmo tempo em que é preventiva é investigativa. Para os dias atuais, ele propõe que a Polícia Militar fique responsável pelo procedimento denominado Termo Circunstanciado de Ocorrência (TCO), que é encaminhado para o Juizado Especial Criminal. “O ganho para a sociedade seria enorme nesse momento, pois ia acelerar a tramitação dessas ocorrências e desobrigar a Polícia Civil dessa responsabilidade, dando a ela mais tempo para o seu trabalho principal de investigação”, afirma. A PM de Santa Catariana é a única que adotou essa política. O resultado foi satisfatório no atendimento e na resolução dos crimes de menor potencial ofensivo. Indagado sobre a propalada integração entre as duas polícias, o dirigente da Aspra e da Anaspra alega que a proposta, mesmo sendo bem-intencionada, não trouxe os resultados esperados. Segundo alguns especialistas da área, a divisão histórica entre as duas polícias não permite que haja essa integração no trabalho das duas instituições.

Gonzaga defende nova “arquitetura” para a segurança pública

Legados

O movimento de 1997 deixou alguns legados, conforme revela Gonzaga. O salário de ingresso na PM chega a quase R$ 3 mil. E houve dois outros ganhos: o fim da pena de prisão por falta disciplinar, com o direito à ampla defesa no devido processo penal, e o reconhecimento dos policiais militares como trabalhadores, legitimando sua organização sindical. Ainda que a violência esteja em seu ápice, o dirigente da corporação mineira avalia que a PM do Estado se democratizou. “Hoje a Polícia Militar é mais cidadã. Não é mais uma polícia para atender governante”, assegura. De acordo com ele, as mudanças que alteram para melhor o sistema de segurança estão sendo feitas pelas diversas entidades das PMs de todo o país. “Cabe aos governos Federal e estaduais, ao Congresso Nacional e às assembleias legislativas tomar a iniciativa para melhorar a segurança pública, adotando as políticas públicas que são urgentes e necessárias”, justifica. No dia 2 de julho, por lei complementar assinada pelo governo do estado, a PM de Minas obteve mais uma conquista considerada histórica: a implantação da jornada semanal de 40 horas. “Essa reivindicação também antiga vai melhorar a prestação de serviço à sociedade”, acredita Gonzaga. Segundo ele, isso vai aliviar a carga de estresse a que os policiais operacionais estão submetidos no dia a dia. www.voxobjetiva.com.br | 21


METROPOLIS

Preocupada com a escalada de violência no país, a Anaspra encaminhou três propostas ao Conselho Nacional de Segurança Pública, subordinado ao Ministério da Justiça. Os pleitos são resultado de decisões tomadas no encontro nacional realizado neste ano. Uma das propostas é a criação do Sistema Único de Segurança Pública, o SUSP, que teria uma estrutura nos moldes do Sistema Único de Saúde (SUS), garantindo, inclusive, a previsão de investimento mínimo para a área, como na saúde e na educação. Conforme Gonzaga, o SUSP faria, entre outras atribuições, a articulação dos órgãos de segurança pública no território nacional e a adoção da polícia de ciclo completo, o que romperia com a baixa resolução dos inquéritos policiais, como apontam as estatísticas. Para a Anaspra, é inconcebível que a segurança pública no Brasil não tenha um ministério próprio, como em outros países. A entidade admite que atualmente existam ministérios

demais. “O fato de termos muitos ministérios, como de fato existem, não invalida a proposta”, alega o dirigente. Gonzaga avalia que a corporação mineira está preparada para as mudanças que a sociedade exige, principalmente para reduzir a criminalidade. “Desde 97 estamos passando por um processo de mudanças, que vêm possibilitando a capacitação da PM em seu nível técnico-profissional, até mesmo invertendo a grade curricular dos praças”. Segundo ele, essa condição só foi possível após o movimento de 97. De fato, após o movimento de 97, nunca mais o comando da PM de Minas decidiu nenhum assunto que atinge a categoria, sem passar pelas entidades dos praças e oficiais. Ao movimento de 97 se seguiram várias negociações vitoriosas nos anos posteriores. Somente a sociedade ainda aguarda ser contemplada também com os reflexos dessas conquistas, com menos violência e mais qualidade de vida.

ASPRA / Divulgação

Amotinados em frente ao Palácio da Liberdade, os policiais exigiam melhores salários e aumento do número de homens para o policiamento no Estado 22 | www.voxobjetiva.com.br


artigo

Política

Ebulição, pasmo e tergiversações Junho de 2013 ficará marcado como o período da “revolta das redes”. As hastags “O Gigante Acordou”, “Vem Pra Rua” e “Tamo Junto” assumiram o papel dos slogans das “velhas“ manifestações. Mais de 1,2 milhão de pessoas, em todo o país, foram para o asfalto protestar por várias demandas, mas, principalmente, pela (má) qualidade dos nossos agentes políticos, gestores, serviços públicos e partidos. As manifestações, difusas e com aura de espontâneas, ainda carecem de tempo e distanciamento para ser mais bem compreendidas. Em Belo Horizonte, no entanto, dois fatos chamam a atenção e merecem ser saudados: as pessoas foram às ruas, mobilizadas pelas redes sociais na internet, sem nenhuma liderança formal à frente das convocações; sem nenhum “dono” que capitalizasse eleitoralmente os protestos. Como resultado disso, aqui foi “instituída” a “Assembleia Popular Horizontal” - um fórum de discussões que, como o próprio nome diz, trata das demandas de todos e com todos no mesmo patamar — sem nenhuma liderança hierárquica. O povo na rua e a forma como isso se deu assustaram e desnortearam muita gente. Políticos – e seus marqueteiros ainda não conseguem construir análises que expliquem a queda na popularidade de governantes que “vinham tão bem”. Alguns se perderam em conceituações equivocadas e até mesmo imbecilizantes, do tipo “são fascistas”, “é a classe média de direita e conservadora”, “é a juventude despolitizada e pautada pela imprensa hegemônica de direita”. Mas as bandeiras, como a da defesa do aborto, de direitos das minorias, da justiça social e pela ética no trato da coisa pública, não são vinculadas historicamente à esquerda e aos movimentos sociais? Os pré-candidatos para as eleições de 2014, já tão assanhados, sumiram do mapa. E a mídia, que foi literalmente chamuscada na onda de protestos (carros queimados, jornalistas hostilizados pelos manifestantes e feridos pelas polícias), foi pega de surpresa: não foi capaz de pautar os acontecimentos e teve de se contentar com correr atrás, a reboque e, no meio do furacão, tentar entender o que estava acontecendo. Nos governos e nos legislativos, além do susto, até agora só ocorreram tergiversações. Prefeitos reduziram centavos nos valores das passagens de ônibus (motivo primeiro da ida às ruas), mas isso é pouco. Nos legislativos, em um surto de produtividade, deram andamento a questões que estavam paradas havia décadas e, assim, fingiram que trabalham. A presidente Dilma, a mais afetada pelas manifestações, oscilou entre o óbvio e o lugar-comum: saudou as manifestações como ferramenta e direito da democracia e propôs, como urgente, uma reforma política. Primeiro, por uma constituinte exclusiva. Não durou 48 horas. Segundo, por um plebiscito. Não durou duas semanas. A presidente também abriu espaço em sua agenda para receber lideranças dos movimentos sociais. Dos que conversaram com ela, uns mais enfáticos, outros menos, a avaliação da presidente no encontro foi a mesma: “despreparada”.

Paulo Filho Jornalista e consultor de Comunicação Social paulo.filho@voxobjetiva.com.br

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Fernando Priamo

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VERBO

“Um dos piores capítulos da história do Brasil”

Jornalista Daniela Arbex revela, em livro, os horrores e as mortes ocorridas em manicômio mineiro entre as décadas de 30 e 80 Paulo Filho Imagens da Colônia: Luiz Alfredo, publicadas originalmente em 1961 O livro “O Holocausto Brasileiro” trata de um dos capítulos mais macabros e perversos da nossa história: a barbárie e a desumanidade praticadas, durante a maior parte do século XX, no maior hospício do Brasil, conhecido por Colônia, situado na cidade mineira de Barbacena. O hospital foi inaugurado em 1903 e continua funcionando, mas o período de maior barbárie aconteceu entre 1930 e 1980, quando pessoas eram internadas sem apresentar sintomas de loucura ou de insanidade.

dos mortos com ácido no pátio da Colônia, diante dos próprios pacientes, para comercializar também as ossadas.

As páginas do livro trazem à luz um genocídio cometido pelo Estado brasileiro, com a conivência de médicos, funcionários do hospital e até da sociedade — nenhuma violação dos direitos humanos mais básicos se sustenta por tanto tempo sem a omissão da população. Pelo menos 60 mil pessoas morreram entre os muros do hospício, a maioria internada à força. Estima-se que cerca de 70% desses “pacientes” não tinham diagnóstico de doença mental. Eram epiléticos, alcoólatras, homossexuais, prostitutas, gente que se rebelava ou que se tornara incômoda para alguém com mais poder. Eram meninas grávidas violentadas por seus patrões, esposas confinadas para que o marido pudesse morar com a amante, filhas de fazendeiros que perderam a virgindade antes do casamento, homens e mulheres que haviam extraviado seus documentos. Alguns eram apenas tímidos. Pelo menos 33 eram crianças.

Formada pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Daniela Arbex tem vários prêmios por suas reportagens sobre direitos humanos. Venceu o Prêmio Esso de Jornalismo em 2000, 2002 e 2012, o prêmio Eloísio Furtado por cinco vezes, além de receber menções honrosas no Vladimir Herzog e no Lorenzo Natali. Daniela é membro da Agência de Notícias dos Direitos da Infância no Brasil e na América Latina.

Como se isso não bastasse, o livro registra que a Colônia dava lucro. Foram encontrados registros de venda de 1.853 corpos, entre 1969 e 1980, para 17 faculdades de medicina do país. O preço médio era de 50 cruzeiros, o que, atualizando a moeda, dá um total de R$ 600 mil reais. Quando o “mercado” deixou de comprar tantos cadáveres, os funcionários passaram a decompor os corpos

A autora, Daniela Arbex, jornalista, durante 30 dias de investigação, descobriu e registrou os passos dessa história de crueldade e extermínio, tendo como ponto de partida as imagens do fotógrafo Luiz Alfredo feitas na Colônia e publicadas originalmente na revista O Cruzeiro, em 1961.

Qual foi a inspiração, o gancho, que a impulsionou a fazer o livro? Meu ponto de partida foram as imagens feitas pelo fotógrafo Luiz Alfredo, da Revista O Cruzeiro, em 1961, publicadas pelo governo estadual no livro Colônia, em 2008. Quando tive acesso a elas, em 2009, fiquei estarrecida, porque não consegui ver em nenhuma foto um hospital e, sim, um campo de concentração. Na hora, eu me perguntei: como minha geração não sabia nada sobre essa história? Mais tarde, descobri que o Brasil desconhecia sua pior tragédia. Por que o uso do substantivo Holocausto, já que a palavra tem vários significados históricos, mas sempre no sentido de extermínio e/ ou massacres? Acha que houve um Holocausto mesmo? www.voxobjetiva.com.br | 25


VERBO

O mundo sabe que, do final do século XIX até meados do século XX, países desenvolvidos fizeram “experiências científicas/ biológicas” usando, como cobaias, pacientes de manicômios e hospícios. Essas atitudes, depois de descobertas, foram repugnadas pelas próprias sociedades desses países. Com o “Holocausto Brasileiro”, apesar de aqui não ter havido “experiências”, nós nos colocamos no mesmo patamar de crueldade dos que fizeram isso? Sim, porque os recursos terapêuticos da época, como o eletrochoque, foram utilizados para intimidar e punir. O treinamento de choque também era proposto aos funcionários que esperavam uma promoção. Cobaias humanas eram escolhidas aleatoriamente para o exercício e pessoas morriam. Também havia crueldade, quando seres humanos eram colocados para dormir sobre capim com a chancela do Estado que, com isso, esperava economizar espaço nos pavilhões para caber mais e mais infelizes. Vou citar a frase do psiquiatra Ronaldo Simões: “No hospício há uma crueldade planejada. Tira-se o caráter humano de uma pessoa e ela deixa der ser gente”.

Cenas de desespero e arbitrariedades foram registradas pelo repórter fotográfico Luiz Alfredo. As fotos foram publicadas na revista O Cruzeiro, no início da década de 60

Primeiro, porque a Colônia viveu um extermínio em massa. A estimativa é da morte de 60 mil pessoas. Depois, porque os pacientes eram mandados para o hospital em vagões de carga, da mesma forma como os judeus iam para os campos de concentração nazistas. Além disso, chegando lá, eles tinham as cabeças raspadas, eram uniformizados e despidos de sua humanidade. A palavra holocausto tem muito sentido para se referir a um dos piores capítulos da história do Brasil. Tem alguma história de alguém ou fato específico que tenha chamado mais a sua atenção? Todas as histórias são igualmente comoventes e estarrecedoras. Mas a do bombeiro João Bosco, cuja mãe foi estuprada pelo patrão e mandada para a Colônia para esconder sua gravidez, tocou-me profundamente. João foi separado dessa mãe aos 2 anos de idade e só aos 47 anos a reencontrou. Foi uma dor que os dois carregaram por uma vida inteira. 26 | www.voxobjetiva.com.br

Além da discriminação e do desdém da sociedade com os doentes mentais, a ”Colônia” se prestou também a outro papel? Serviu para dar vazão à homofobia e ao preconceito contra pobres, prostitutas, viciados e negros? Infelizmente sim. Tornou-se o endereço de todos os indesejáveis sociais, inclusive negros, pobres, homossexuais e militantes políticos. Todos que fugiam ao conceito de normalidade eram retirados do convívio social. Como funcionava o processo de internação na Colônia? As pessoas eram internadas por alguém com mais poder. Documentos do início do século XX revelam que não havia critérios médicos para a internação. Em um, localizado no Arquivo Público Mineiro, uma brasileira de 23 anos foi internada por apresentar “tristeza e calma” como sintoma. A Colônia “fez dinheiro” com seus pacientes. Como é que isso ocorria? De várias formas. Com o uso da mão de obra quase escrava de seus pacientes, usados na abertura de estradas, plantação, confecção de roupas e até na venda


Os “pacientes” do maior manicômio da história do Brasil eram pessoas que estavam à margem da sociedade ou que tinham comportamento não aceito socialmente

de seus corpos, comercializados para 17 faculdades de medicina do país entre 1969 e 1980. No total, 1.853 cadáveres foram vendidos. A realidade da Colônia ainda é a mesma? Alguma coisa mudou? A realidade do hospital começou a mudar em 1979 com o movimento da reforma psiquiátrica e as denúncias feitas pelo jornalista Hiram Firmino, de Belo Horizonte. Mas até 1994 ainda existiam celas no hospital. Atualmente o Centro Hospitalar Psiquiátrico de Barbacena é parte da rede Fhemig e integra um hospital regional, com várias especialidades médicas e que atende a uma população estimada em 700 mil pessoas. Daqueles tempos restam cerca de 160 pacientes. Todos cronificados há décadas e que têm sobrevida estimada em, no máximo, dez anos.

Capa do livro lançado recentemente pela jornalista Daniela Arbex, que teve como origem o acervo fotográfico do ex-repórter Luiz Alfredo, da extinta Revista “O Cruzeiro” www.voxobjetiva.com.br | 27


O país sacudido A população nas ruas, reivindicando seus direitos, criou um alento para o avanço da ação política e do papel da sociedade na busca de melhorias para o país Ilson Lima e Paulo Filho

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Jáder Rezende


METROPOLIS

Havia décadas que o país não presenciava o povo nas ruas, reivindicando os direitos mais básicos, como a redução dos preços das passagens de ônibus e a melhoria dos serviços públicos. De repente, a “revolta dos centavos” arrastou mais de um milhão de pessoas para as ruas em todo o país, protestando pelos mais diversos motivos. A resposta à incredulidade daqueles que julgaram as manifestações como um movimento puramente juvenil, como se os protagonistas fossem vazios de ideias, veio logo. O movimento cresceu, tomou corpo, organizou-se e ampliou suas reivindicações, dando aos pleitos o verdadeiro sentido — contra tudo de errado que vem ocorrendo neste país e que insiste em decepcionar a maior parte de uma população que apostou em mudanças que não ocorreram. Para os que acham que o movimento não tinha e não tem cabeça nem corpo nem alma, a Vox Objetiva apresenta esta entrevista. Os personagens são uma pequena mostra dentre os que participam do movimento e trazem uma bela impressão do que ele é. Eles são integrantes do Comitê Popular dos Atingidos pela Copa/BH (Copac) e das Brigadas Populares — duas entidades que fazem parte da Assembleia Popular Horizontal —, fórum de discussão e organização da população belo-horizontina, que protagonizou o maior movimento de massas nos últimos anos na capital mineira.

As manifestações vistas por quem ajudou a fazê-las

Amanda Medeiros

Rafael Bittencourt

Isabella Gonçalves

Estudante do curso de Ciências do Estado, na Faculdade de Direito. Participou do programa Polo de Cidadania, da Faculdade de Direito, e do Movimento pelo Passe Livre. Ela entrou no Copac e faz parte das Brigadas Populares.

Cursou Ciências Sociais na UFMG. Participou do movimento estudantil, ingressou nas Brigadas Populares e participou de várias ocupações por moradia. Fez parte, também, do movimento Fora Lacerda!. É integrante do Copac.

Fez curso de Ciências Sociais. Iniciou militância no Polo de Cidadania, da Faculdade de Direito da UFMG, e entrou nas Brigadas Populares, onde iniciou a luta por moradias. Em seguida, entrou no Copac.

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METROPOLIS

Paulo Filho

todos os níveis, propagandearam para o mundo e internamente que o Brasil é um país de primeiro mundo capaz de produzir um dos maiores espetáculos esportivos do planeta e, ao mesmo tempo, investir recursos na ordem de R$ 70 bilhões do orçamento público. A Copa das Confederações foi o momento pra dizer não. A situação do brasileiro médio e das camadas populares não é satisfatória. A manifestação de São Paulo teve como questão central o transporte público, mas há outras reivindicações embutidas, como a carência de postos de saúde, a falta de lazer, a educação para a juventude,... Amanda – Isso tudo conflui dessa análise estrutural. Em BH, especificamente, a um mês de antecedência da abertura da Copa, começamos a nos reunir com vários segmentos do movimento. Falamos com n grupos, organizações, sindicatos e partidos para a gente pensar o que poderia ser feito e se seria possível fazermos uma semana de jornada de luta no contexto do que estava previsto pela Articulação Nacional dos Comitês Populares (Ancop).

“A insatisfação acaba impulsionando as massas a ir para as ruas”

Rafael – Estamos aprofundando uma análise sobre o que motivou essa ascensão das massas populares nas ruas de maneira tão imperiosa como vimos em junho. De certo, o que podemos propor para uma análise é que isso adveio dos problemas estruturais da economia e da falta de acesso aos direitos básicos pela população do Brasil. A situação leva a uma insatisfação generalizada com as condições de vida, especialmente nas capitais e no país como um todo.Também podemos propor para análise a insatisfação generalizada com os rumos políticos do país. Querendo ou não, as massas depositaram suas esperanças em um projeto popular, petista e, após dez anos de exercício no poder, esse projeto não consegue fazer as transformações necessárias que essas massas ansiavam. A situação foi se intensificando até que chegamos a esse período paradoxal, em que essa insatisfação acaba impulsionando as massas para as ruas. Outro ponto que entra a centralidade do Copac é a realização da Copa das Confederações. O megaevento acabou sendo o estopim que desencadeou essas manifestações pelo país. Os governos, em 30 | www.voxobjetiva.com.br

No final de semana que antecedeu à Copa, dias 13 e 14, foi lançada uma campanha nas redes sociais para que Belo Horizonte se somasse à manifestação de São Paulo. A Ancop havia decidido que, na abertura da Copa, no dia 15, seria feita uma “copelada” - uma estratégia de utilização do espaço público em que se juntam vários segmentos e se utiliza essa forma: um campeonato entre os participantes. Nesse evento aproveitaríamos para discutir o aumento de passagem do transporte de Belo Horizonte. No dia, 8 mil pessoas foram para as ruas e foi realizada a caminhada até a Praça da Estação. Essa caminhada deu para medir um pouco o poder de mobilização. Naquele momento, acreditamos que estaria para nascer algo histórico em Belo Horizonte. É importante destacar que os grupos que participam do Copac vinham problematizando as questões das violações dos direitos dos cidadãos em decorrência da Copa. Outras organizações históricas da sociedade também vinham colocando suas reivindicações nas ruas, como a dos professores públicos. Então não podemos colocar as manifestações como algo novo, nascido somente do espontaneísmo das massas, ainda que esse fator também tenha feito parte do movimento. A quantidade de pessoas que aderiram às manifestações também mostra isso. Na adesão ao movimento apareceram os mais diversos grupos. Mas isso não quer dizer que esse engajamento sig-


nifica, como não significou, que esses grupos tivessem uma pauta concreta. Ficou claro, também, que o Copac não representa a totalidade do movimento. As influências que fizeram a cabeça das lideranças

Rafael – Desde 2009 vem ocorrendo uma politização de segmentos da sociedade belo-horizontina. Houve manifestações, como a Praia da Estação, que foram uma forma de apropriação legítima do espaço público urbano. O movimento fez uma interface com diferentes grupos da sociedade. Isso culminou no movimento Fora Lacerda!, que deu um salto organizativo, passando a ser um movimento de luta mais amplo, com outras características. A diferença dos movimentos anteriores para os de agora é que o movimento atual ganhou uma amplitude cem vezes maior. No auge do movimento Fora Lacerda!, as manifestações tinham cerca de 5 mil pessoas. Fizemos agora uma manifestação com mais de 100 mil pessoas. Além do mais, temos agora uma diversidade de pauta que inclui as reivindicações do Copac e de outras entidades e até de pautas mais amplas, que surgiram com a ascensão do movimento, como o contra a PEC-37 e a bandeira contra a corrupção. A desmistificação do apartidarismo Paulo Filho

“Houve um amadurecimento durante as marchas pela necessidade de existência dos partidos”

Amanda – De maneira nenhuma predominou a ideia do apartidarismo. Pelo contrário. Percebo que, nas manifestações, houve um amadurecimento durante as marchas pela necessidade da existência dos partidos. Obviamente que o movimento também reflete uma fundamentada descrença completa e total da juventude com o sistema representativo atual. A esquerda mesmo está decepcionadíssima com tudo que está acontecendo no país, com o projeto do governo petista. Todos que estão participando das manifestações estão insatisfeitos com a gestão municipal e estadual. Durante as marchas, tentamos dissuadir os gritos contra os partidos, fazendo ver que os partidos são conquistas da democracia e que o apartidarismo pode levar à desestabilização das estruturas democráticas. Fizemos isso não só nas assembleias, como durante as marchas. É claro que nas marchas havia grupos à direita, inclusive a juventude tucana, que apostavam nesse tom apartidário.

O PT em xeque

Isabella – Pra mim é difícil falar sobre isso, porque eu vivi durante muitos anos esse sonho petista. Mas o PT reforçou a política de financeirização da economia e da habitação nos últimos anos. E não podemos dizer que é no governo Dilma, porque as contradições vêm desde o início do governo Lula e se perpetuaram. O partido virou as costas para todas as pautas progressistas da esquerda, abandonou os direitos humanos e deixou a área nas mãos de grupos, como o do deputado e pastor Feliciano. Não houve avanços nas pautas dos Quilombolas nem nas pautas indígenas, mas o governo fortaleceu o agronegócio. Hoje carecemos de uma alternativa política concreta capaz de congregar as esquerdas no Brasil. Mas, por mais que eu saiba disso, o silenciamento do PT, por si só, para não ferir o partido, já é insuportável. O partido não apresenta o nível de contradição que a gente precisa com o grande capital nacional e internacional. Minha opinião é um pouco essa. O governo Lula, por exemplo, praticou uma política de potência subimperialista na América Latina e na África, alternando políticas excludentes e políticas sociais com forte cunho econômico. Amanda – O que motivou a gente a ter saído para as ruas foi a completa e total descrença em todos os níveis do sistema representativo no país. Pra nós mineiros de Belo Horizonte, o sentimento em relação ao PT, em nível federal, é de decepção e isso www.voxobjetiva.com.br | 31


METROPOLIS

não vem de hoje. O sentimento vem desde quando o governo Lula tomou algumas iniciativas, como a transposição do rio São Francisco, o fato de não dar encaminhamento à reforma agrária nem à demarcação de terras para tal. Isso demonstra esse grau de insatisfação e culmina com a postura do governo Dilma, que deu continuidade às políticas do governo Lula, mantendo os alinhamentos com outros interesses que sempre foram combatidos pelo PT. Os governos neoliberais não devem ser o eixo de comparação. Outros modelos progressistas no mundo que devem servir de parâmetro. Na verdade, o PT é uma decepção para todos os setores da esquerda. Rafael – Em nossa avaliação, não dá mais para sustentar o estágio de contradições a que chegou o governo do PT. Com relação ao campo, por exemplo, a política do governo federal tem sido de fortalecer o agronegócio e o modelo agroexportador, em detrimento da agricultura familiar e da reforma agrária. Para as cidades, o governo anunciou o maior projeto para suprir o déficit habitacional: o programa Minha Casa, Minha Vida. Mas até hoje não conseguiu cumprir nem 5% do déficit habitacional dos setores mais empobrecidos. Diante de contradições como essas, não dá para ficarmos presos a essa polaridade: ou vamos apoiar o governo do PT ou permitimos o avanço da direita. Agora, com o avanço e a mobilização do movimento de massas, temos condições de reunir energias e forças para apresentar alternativas e fazer as transformações necessárias. As lições tiradas das manifestações

Rafael – A grande lição para o povo brasileiro é de mais uma vez ficar provado que as conquistas de amplitude que realmente transformam a vida, como o acesso aos direitos básicos e a outras melhorias na qualidade de vida, advêm da pressão popular. E essa pressão popular se faz com a mobilização nas ruas, capaz de pressionar as estruturas políticas brasileiras. O sentido é contrário ao do pensamento vigente, que vê nas estruturas partidárias ou em outras opções institucionais os caminhos para os avanços nas conquistas populares. Essas manifestações por todo o país também demonstram que o povo organizado é capaz de mudar a realidade política do Brasil. Isabella – O que aconteceu nessas últimas semanas foi um momento de instabilidade política sem precedentes no país. Esse acontecimento atingiu cada um de nós. Depois de gerada, essa instabilidade 32 | www.voxobjetiva.com.br

Paulo Filho

“As redes sociais quebraram o monopólio das redes de comunicação”

política teve o caráter de mobilizar os poderes constituídos em busca de transformações. E a conclusão a que o Copac e outras forças de esquerda chegam é que, se a gente não ocupasse as ruas como um espaço de poder popular e se não fôssemos capazes de sistematizar o que essa instabilidade política estava dizendo, perderíamos a oportunidade de dar o sentido e o significado a esse momento histórico. Agora a nossa preocupação é de nos apropriar desse significado histórico. Por isso, acho que a proposta de formar a Assembleia Popular Horizontal foi muito central e importante. São os encontros nessas assembleias que definem os atos e as ações que serão tomadas pelo movimento e organizam a agenda para um determinado período. A avaliação de cada ação, especialmente as maiores, é feita nas assembleias. A violência sem reducionismo

Rafael – A história da humanidade nos ensina que não há transformações sociais sem conflitos. E esses conflitos podem se transformar em violência. De certa maneira, as manifestações violentas também são legítimas. A Revolução Francesa, por exemplo, que passou a ser referência para o Estado Moderno, foi extremamente violenta, mas foi necessária. Essa leitura que é atribuída à parte dos integrantes das manifestações como vândalos, como criminosos, para nós é uma leitura conservadora. O objetivo é deslegitimar o que o movimento propõe. A nossa orientação é pacífica; sempre foi desde o início. Agora tem de tudo nas manifestações: de policiais infiltrados a setores favelizados, cuja relação com o Estado sempre foi intermediada pela violência da polícia. Esse setor da


população tem a rebeldia como forma de se expressar. A sua maneira de se manifestar é essa. Da nossa parte, não podemos dividir o movimento entre mocinhos e bandidos. Isabella – Nas manifestações tivemos a presença de tudo. Até policiais incentivando a violência, fato que está sendo investigado pelo Ministério Público. Tivemos também a violência politizada praticada por grupos que convivem com a violência diariamente e que se manifestam dessa forma, quando vão para as ruas coletivamente. Determinado tipo de crítica é uma tentativa de despolitizar a dinâmica gramática utilizada por alguns grupos sociais. Agora tivemos também a quebradeira não politizada, utilizada por alguns grupos que não têm a prática de participação nos espaços de diálogos. Em nossa visão, não temos que criminalizar esses grupos todos. É preciso entendê-los, descriminalizá-los e criar formas de diálogos com eles. O coletivo é amplo e diverso e incorpora todos esses grupos.

Acreditamos que o verdadeiro processo de mudanças vá ocorrer quando a internet se universalizar; quando a banda larga chegar à periferia e às favelas. A internet é o principal meio de comunicação que vem sendo utilizado desde a Praia da Estação, quando o acesso era mais segmentado. Já no movimento Fora Lacerda!, o acesso cresceu. E nas manifestações, ganhou essa magnitude de um movimento de massas. Esse fenômeno pode ser associado ao crescimento do acesso à internet. Isabella – Acho que podemos tirar algumas conclusões sobre o papel da internet nesse processo. A primeira delas é que as redes sociais quebraram um pouco o monopólio sobre o poder das grandes redes de comunicação do país. O sentido das coisas é disputado nas redes sociais. Outra temática que temos que debater, daqui pra frente, é o fato de as redes sociais não serem espaços públicos. O facebook e o hotmail, por exemplo, são espaços privados. Esses canais são acessados também por quem quer apenas espionar e controlar.

O papel da Internet na mobilização O movimento em movimento

Rafael – É evidente que a comunicação está propondo uma nova dinâmica social. E essa nova forma tem catalisado o processo político nas ruas. É essa a aparente contradição de que o mundo virtual está potencializando o mundo real nas ruas. Vimos isso na Primavera Árabe, no Occupy, em Nova York e na Turquia. Agora isso está chegando ao Brasil. E aqui essa realidade acompanha o processo de acesso à internet.

Rafael – Não temos uma avaliação clara do que vai acontecer. O que sabemos é que o trabalho vai se intensificar. O Copac, por exemplo, está maior e com mais gente. A expectativa é de que o povo tenha despertado para a necessidade de estar nas ruas. São essas mobilizações que serão o termômetro do que vai acontecer daqui para frente.

Jáder Rezende

Manifestação na Praça Sete no dia 11 de julho — Dia Nacional de Lutas convocado pelos sindicatos

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artigo

Psicologia

Primeiro Amor Nascemos com uma grande capacidade de amar e de abrirmos a nossa emoção ao outro. Somos dinâmicos e plásticos em nossos sentimentos. Mas o nosso sistema social sinaliza uma dinâmica sociofamiliar com tendência ao esfriamento e à distância relacional. E isso implica restrições de afetos e das maiores expressões emocionais. Até a espontaneidade da primeira infância está se deteriorando com as exigências da modernidade. Percebe-se uma tendência inibitória muito ativa. Existem muitas famílias com mecanismos relacionais nocivos latentes ou manifestos. Esses mecanismos escancaram-se rotineiramente. É nesses modelos que a criança vai se refugiando em um mundo fantasioso que o impede de amadurecer de forma saudável. Então fugir da realidade se torna o maior aprendizado. Muitos valores se transformam; outros são banalizados. Mas e o amor? E aquele amor sereno, sublime, calmo e verdadeiro que produz a segurança necessária para desenrolarmos durante a nossa vida. Aí se inclui o amor entre pais e filhos, amigos, casais, familiares, etc. É prioridade narcísica sentir-se amado, valorizado, aceito. O impulso destrutivo geralmente começa, quando o íntimo de uma pessoa se torna um pântano devastado pela falta de afetos. Viver numa sociedade ativa, moderna, com muitos aparatos tecnológicos deveria ser bem aproveitado. Mas infelizmente as convivências têm gerado diversas consequências nos relacionamentos. Muitas pessoas estão com prioridades indefinidas ou mal-localizadas. É importante parar e refletir sobre a forma como você está conduzindo seus sentimentos; como você se importa com o outro e se a expressão de afeto dentro de si está apática ou não. É sempre bom pensar a respeito do nosso potencial de empatia e ter todo cuidado para que o egocentrismo não se torne um gigante e nos apague em nossos relacionamentos. O que vivemos hoje em dia aponta para uma sociedade que valoriza o que as pessoas têm. Aí se incluem status, fama, dinheiro, posses e não a forma como as pessoas se relacionam, como produzem suas trocas afetivas. É um bom momento para cada um refletir e retornar àquele primeiro amor, momento da troca terna e sincera, do amor pela vida, pela simplicidade de ser e entender que nascemos e temos uma temporalidade. Portanto, é muito bom quando valorizamos as boas trocas nas relações que agregam de verdade. Promover um caminho relacional depende muito mais de você do que do outro. Exige consciência, sabedoria e trabalho de autoconhecimento. Reflita!

Maria Angélica Falci Psicóloga clínica e especialista em Sáude Mental angelfalci@hotmail.com

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receita

Fonte: Saatore

Spaguetti al Cartoccio

Há 13 anos servindo exclusividade e bom gosto.

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INGREDIENTES:

MODO DE PREPARO:

400 g de espaguete italiano 1 kg de tomate maduro 200 g de lulas frescas 20 unidades de camarão rosa V.G 200 g de polvo 15 unidades de lagostim 80 ml de azeite extravirgem Sal Basílico Cebola Alho Ervas finas 80 ml de vinho branco italiano 1 rolo de papel-alumínio

Coloque o azeite, a cebola ralada, o alho picado em uma frigideira e deixe dourar. Junte o tomate sem pele e sem sementes e deixe cozinhar por dez minutos. Junte as lulas, o camarão, o lagostim, o polvo cozido e picado e acrescente o vinho. Cozinhe o espaguete com sal a gosto em uma panela e junte ao molho. Corte o papel de alumínio e coloque 100 g de espaguete. Salpique as ervas finas e as folhas de basílico.


artigo

Vinhos

Dicas de harmonização Com a chegada do inverno, o consumo de vinho aumenta naturalmente. É verdade que já nos habituamos a consumir essa bebida durante o ano todo. Mas, sem dúvida nenhuma, o inverno é o ápice. Muitas vezes, pensamos em beber um vinho, mas não sabemos o que acompanhar. Outras vezes, pensamos em comer algo, mas não sabemos qual vinho escolher. Durante muito tempo, essa dúvida gerou insegurança nos consumidores, que acabavam desistindo de formar esse dueto perfeito. A boa notícia é que não existe mistério para fazer harmonizações, pois o mais importante é não desagradar o seu paladar. É claro que uma harmonização bem-feita vai potencializar o sabor do vinho e da comida. É como se fosse um “casamento perfeito”. Abaixo, seguem algumas dicas:

Danilo Schirmer Sommelier daniloschirmer@hotmail.com

- Uma comida mais pesada pede um vinho mais estruturado e encorpado (brancos e tintos com passagem em barricas de carvalho). Uma comida mais leve pede vinhos de estrutura mediana, leve e/ou ligeiro (brancos com boa acidez ou tintos com poucos taninos); - Nas massas, geralmente, são os ingredientes do molho que determinam o vinho a ser escolhido. Lembre-se da primeira dica; - Normalmente os vinhos tintos se harmonizam bem com carnes, e os brancos, com peixes. Entretanto, existem algumas variações como uma carne mais leve, com um vinho branco mais estruturado, assim como um peixe, mais estruturado, com um vinho tinto leve; - Para pratos salgados, o melhor é um vinho seco. Já para as sobremesas, os mais indicados são vinhos doces (moscatel, licoroso ou colheita tardia) ou demi-secs; - Evite beber o vinho enquanto mastiga a comida; - Uma receita não serve apenas para um vinho, da mesma forma que um vinho não serve apenas para uma receita. Procure experimentar o máximo de combinações possíveis. Afinal, muitas vezes o prazer está em descobrir harmonizações; - O espumante brut pode ser considerado um “coringa” nas harmonizações em função da sua efervescência (pratos leves) e alta acidez (pratos mais pesados); - Os vinhos rosés, assim como os espumantes, também são considerados “coringas” na hora de harmonizar. - Se você for usar o vinho como ingrediente na elaboração do prato, vale a pena lembrar que a qualidade gastronômica está ligada diretamente à qualidade do vinho; - Lembre-se: não existem regras, mas sugestões. Se a sua harmonização lhe agradou, ótimo! Se não, experimente outras. Não existe errar, mas sim conhecer uma nova combinação. Afinal, gosto é gosto!

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De modelo à musa Kate Moss completa 25 anos de carreira com leilão na conceituada Christie’s Ilana Rehavia, de Londres Ela é o rosto que vende mil produtos. Depois de 25 anos de carreira – uma eternidade no universo das modelos - Kate continua sendo presença constante nas capas das revistas de moda mais badaladas do planeta. Uma das celebridades mais fotografadas do mundo, o que ela veste nas horas de folga some das prateleiras em questão de horas. E agora Kate Moss pode adicionar musa ao seu invejável currículo. A casa de leilões britânica Christie’s, com sede em Londres, realiza no dia 25 de setembro um leilão especial baseado na modelo inglesa. Kate Moss – The Collection (Kate Moss – A Coleção) reúne uma série de trabalhos, principalmente fotografias, mas também algumas pinturas, esculturas, uma colagem e até uma tapeçaria. Ser tema de um leilão na Christie’s é feito para pouquíssimos. Essa é a primeira vez que a conceituada casa realiza um leilão baseado em uma modelo. Como reconhece a própria Christie’s, porém, Kate Moss está longe de ser apenas uma modelo. Para a casa, ela é uma “grande musa moderna” e “o mais celebrado ícone global de moda e estilo”. “Ídolo de muitos, Kate Moss é uma figura única, uma modelo reconhecida e altamente admirada por sua sensibilidade de moda tão própria e única. Seja vestida casualmente, seja com um visual de alto glamour, ela baseou seu sucesso, através de várias décadas, na forte individualidade que projeta. Há apenas uma Kate”, diz o diretor de fotografias da Christie’s, Philippe Garner. Segundo ele, são raras as modelos que tiveram um impacto parecido – entre elas Twiggy, Veruschka e Lisa Fonssagrives-Penn. E nenhuma delas pode ser verdadeiramente comparada com Kate, que vem sendo celebrada de forma mais universal, em várias plataformas; não só no mundo da moda. O acervo do leilão inclui fotografias de artistas, como Annie Liebovitz, Irving Penn, Mario Sorrenti, Sam Taylor-Wood, Nick Knight, Juergen Teller, Mario Testino e Ellen von 38 | www.voxobjetiva.com.br Mario Sorrenti


KULTUR

Mas Kate transcendeu o movimento e continuou a ser relevante no cenário cultural muito depois do “heroin chic” ter saído de moda. Sua dominação global é ainda mais impressionante pelo fato de que foi feita baseada apenas em sua imagem, já que a modelo raramente dá entrevistas. Seu rosto é um dos mais reconhecidos mundialmente, mas poucos ouviram sua voz.

Reconhecida mundialmente, a supermodelo Kate Moss é o tema de peças à venda em badalado leilão da Christie’s

Unwerth. Alguns dos trabalhos devem obter lances de até 150 mil libras (o equivalente a R$ 500 mil), segundo expectativa da Christie’s. “Kate é a musa moderna definitiva e nós veremos imagens dela em grandes museus e coleções particulares por anos. Ela alterou percepções para as mulheres ao redor do mundo, encorajando-as em direção a uma maior individualidade e liberdade de expressão. Há tanto que você pode aprender de Kate – como deve ser sempre verdadeiro com você mesmo, desenvolver estilo próprio e enfatizar sua individualidade”, diz o curador da coleção, Gert Elfering. Kate surgiu no mundo da moda em 1988, no auge do reinado das chamadas supermodelos, mulheres muito altas, glamurosas, com belíssimas curvas e de beleza perfeita como Cindy Crawford, Claudia Schiffer, Linda Evangelista, Christy Turlington e Naomi Campbell. Kate era completamente diferente: mais baixa, de dentes desalinhados, corpo andrógeno e uma sensualidade menos óbvia. Seu visual foi o símbolo do polêmico movimento “heroin chic”, visto como uma antítese das supermodelos. O movimento foi caracterizado por um visual pálido, angular, com olheiras e cabelos bagunçados, numa alusão aos usuários de drogas.

Em uma de suas edições recentes, a revista de moda e celebridades britânica Grazia dedicou 13 páginas aos 25 anos de carreira da modelo. Em uma coluna no especial, Imrad Amed, editor do blog The Business of Fashion (O Negócio da Moda), comparou Kate a marcas famosas, como Google e Coca-Cola. “Kate Moss é uma marca familiar ao redor do mundo. Quer você siga moda avidamente, quer não, todos conhecem Kate. Você poderia ir mais longe e compará-la com a Coca Cola, Google e Apple – ela pode não ter o mesmo alcance, mas sua marca é altamente valiosa”, escreveu Amed. Para ele, o fato de que a modelo transcende tendências de moda e o mistério que criou em torno de sua vida pessoal estão no centro dessa tão celebrada marca. Com sua grife sem dar sinais de declínio, Kate Moss parece caminhar em direção a mais 25 anos dessa extraordinária carreira.

Nick Knight

Mario Testino

Nesta era de superexposição de celebridades via facebook, twitter e instagram, ela mantém um raro ar de mistério que está no centro de seu apelo. Kate mantém o silêncio mesmo quando é pivô de controvérsias, como quando fotos suas, supostamente quando ela cheirava cocaína, apareceram em um tabloide britânico.

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Novos rumos para o festival de Ouro Preto e Mariana Na 46ª edição, o mais tradicional festival de inverno do país revê suas origens e busca estreitar diálogo e maior interação com as comunidades envolvidas Jáder Rezende e Paulo Filho

Criado em 1967 por um grupo de professores da escola de Belas Artes da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) para “levar arte” à coletividade, o Festival de Inverno de Ouro Preto completa agora, em 2013, 46 anos de existência, mas sem a mesma essência de sua origem. Pensado como uma ação de “extensão” da Universidade para propiciar, por meio das intervenções artísticas e culturais, o diálogo e a interação com a sociedade, o Festival superou desafios para chegar até este momento. A partir do ano 2000 surgiram três festivais: Festival de Inverno da Prefeitura de Ouro Preto, Festival de Inverno do Uni-BH (Centro Universitário de Belo Horizonte) e, a partir de 2004, o Festival de Inverno – Fórum das Artes, realizado pela Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), quando ressurgiu como um projeto de extensão universitária. 40 | www.voxobjetiva.com.br

Com a UFOP o Festival se consolidou com uma proposta diferenciada de refletir sobre a arte e a cultura, articulando preservação e invenção. Em 2005, com a entrada em cena das prefeituras de Ouro Preto e Mariana, o evento passou a se chamar Festival de Inverno de Ouro Preto e Mariana – Fórum das Artes, chamando a atenção, sobretudo, por suas atrações voltadas para a “grande massa”, como grupos de pagode e cantores sertanejos. A justificativa é que, desde essa época, o evento busca também contribuir com o desenvolvimento local, por meio da “democratização da cultura e da possibilidade de engajamento das comunidades”. Ocupando ruas, praças, prédios históricos e áreas externas das cidades vizinhas, o Festival de Inverno de Ouro Preto e Mariana é considerado um dos principais eventos voltados para as manifestações artísticas e culturais do país.


Jáder Rezende

Nesta edição, com o tema Em Tempos Diversos, o Festival seguiu as tendências da atualidade e teve a diversidade como fio condutor das suas atividades, além do que, aliando manifestações culturais a reflexões sobre o processo artístico, o Fórum das Artes (ciclo de debates promovido durante o Festival), travou discussões a respeito dos processos artísticos e questões relacionadas à acessibilidade, inclusão social, formação de públicos e a qualidade da educação básica na Região dos Inconfidentes.

Entrevista - Rogério Santos, Pró-reitor de Extensão da UFOP e Coordenador do Festival. Graduado em Belas Artes pela Universidade Federal de Minas Gerais, com mestrado em Teatro pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro e Doutorado pela Uni-

Orçada em mais de R$ 5 milhões — recorde entre todas as edições —, sendo cerca de R$ 2,2 milhões oriundos de patrocinadores, a edição 2013 do Festival de Inverno de Ouro Preto e Mariana promoveu, em 23 dias, 325 eventos distribuídos entre Ouro Preto, Mariana e distritos, sendo 40 oficinas com duração máxima de cinco dias (muitas de dois dias), que atenderam a 1.053 interessados. Para a edição 2014, adianta o pró-reitor de Extensão da Universidade Federal de Ouro Preto e coordenador do Festival, Rogério Santos, a meta é ampliar a participação da comunidade no processo de formulação já a partir deste mês, assim como o tempo das oficinas para pelo menos uma semana, além de reeditar o Encontro Latino-Americano do Teatro e da Dança ocorrido no ano passado, com participação de artistas da América do Norte. O tema para o próximo ano, ainda segundo Santos, será O Corpo e Suas Várias Potências.

Jáder Rezende

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cAPA

versidad de Alcalá/España no programa: Teoria, Historia y Practicadel Teatro, Rogério Santos de Oliveira é também Coordenador de Cultura do Fórum de pró-reitor de Extensão da UFOP, além de coordenador da atual edição do Festival de Inverno de Ouro Preto e Mariana – Fórum das Artes. Veja abaixo os principais trechos da entrevista: Iniciado em 1967, o Festival de inverno de Ouro Preto é quase um “cinqüentão”. Como ele chega a quase meio século de existência? O festival continua sendo um evento de porte internacional e que recebe turistas e artistas de todos os lugares, não só para apresentar seus trabalhos, mas para discutir e refletir sobre os variados estados da arte. Pensado como uma “atividade” de extensão acadêmica, como forma de aproximar e interagir com a sociedade por meio da arte e das manifestações artísticas, o Festival ainda mantém essa linha da “extensão”? A sociedade sempre fez parte e entendo que sempre deve fazer parte ativa do festival. A troca não deve ser apenas entre criadores e especialistas, mas também entre a comunidade em geral.

Lincon Zarbietti

“Valencianas” — espetáculo da Orquestra de Ouro Preto com o cantor e compositor Alceu Valença

E como foram esses 46 anos? O festival teve várias fases. A atual começa em 2004, com a ideia de repensar o fazer-artístico em geral. Várias correntes, desde o corpo docente da UFOP, artistas, intelectuais e até mesmo a população local apontam o fato de o Festival ter perdido o rumo, suas origens. Como o senhor responde a isso?

Isadora Faria

John Cage — oficina de música realizada no Festival de Inverno de Ouro Preto e Mariana 42 | www.voxobjetiva.com.br

Temos que pensar como fazer com que o festival se fortaleça, gere discussões sobre a arte e a cultura, o que pode produzir de reflexão, de troca, de acontecimento. Hoje as oficinas duram três, quatro, cinco dias. Antigamente era um mês de cursos que valiam até por um ano de informação. Isso o festival tem que resgatar. O Festival de Ouro Preto foi vanguarda, era referência internacional. Hoje em dia, os festivais, de maneira geral no país, mudaram sua característica e se transformaram em momento de mostra, de festividade. Isso é uma tendência, mas acho que os responsáveis pelos festivais do gênero, em todo o país, começam a perceber que ter somente uma ação de evento; ir embora e não deixar um lastro é ruim. Podemos potencializar, melhorar. Na verdade, o Festival de Ouro Preto não perdeu suas origens; ele foi se modificando ao longo do tempo. O fato é que existe um pouco de saudosismo sempre. E aquele momento não volta mais. Em suas primeiras edições, o Festival de Ouro Preto estava inserido num contexto histórico e social muito importante para o país. Foi um lugar onde se demarcou uma posição política e cultural nesse sen-


Íris Zanetti

Caravana do Festival em Mariana

tido. Isso foi aquele momento bacana, lindo na história. Hoje os festivais ganharam uma nova dinâmica, inserida no atual contexto sócio-histórico e político. Hoje o festival deixa sim lastros na comunidade, mas dentro de um contexto atual. Essa questão de resgatar para repensar é importante, mas não como antes nem nos moldes de antes. Temos que construir algo que tenha a ver com a dinâmica atual. Além disso, o artista de hoje está mais profissionalizado, consegue ter durante o ano uma subsistência mais assegurada, a partir das leis de incentivo e dos circuitos. Há também a possibilidade de buscar referências na internet de qualquer parte do mundo. Acho que, a partir desse movimento global, devemos pensar o que fazer para que o festival não fique esvaziado. E com relação às atrações cada vez mais atreladas à cultura de massa imposta pela mídia? Hoje as coisas se misturam um pouco. A arte é de todos e para todos e de todas as maneiras. Eu sou um artista que inclusive trabalha com a estética contemporânea e acho que todas as formas de manifestação artística são legítimas, desde que sejam bem feitas. Desde o mais pop ao mais comercial, como a Paula Fernandes e Fernando e Sorocaba, o que importa para mim é a qualidade. Se tiver qualidade, é bem-vindo. Temos que agregar a diversidade.

Mas o cachê desses artistas, os chamados “da moda”, são bem mais altos do que os de tantos outros de qualidade incomparável. Com certeza. Mas os cachês variam de acordo com a mídia e com o tempo de “estrada”. O festival também tem essa função: trazer os artistas que estão na estrada há mais tempo, que têm um trabalho consolidado, aqueles que estão no meio do caminho e os que eu chamo de moçada nervosa, que estão começando, que vem com tudo, que vem com gás. Cada um deles, claro, tem seu determinado cachê. É uma forma também de agregar a comunidade local e que coincide com os aniversários de Mariana e Ouro Preto, cujas prefeituras participam do processo. O festival não é só para o turista, para o artista. É também para a comunidade. É inegável que a arte e as manifestações artísticas são, por si só, atividades inclusivas, que possibilitam a interação coletiva e social. Nesta edição, o Festival traz a “inclusão social” de forma tematizada, como preocupação. Isso tem um porque e um objetivo? O festival de Inverno de Ouro Preto e Mariana - Fórum das Artes entende que a relação dialógica entre arte e sociedade é um caminho natural da arte, Nesse sentido estabelecemos www.voxobjetiva.com.br | 43


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variadas ações que interagem diretamente com a sociedade local. Temos o Festival na Escola, atuando diretamente nas escolas de Ouro Preto e Mariana, a Arte nos Distritos, que leva uma caravana a seis distritos de Ouro Preto e seis de Mariana, além do Fórum das Artes, onde vários encontros, nas variadas áreas temáticas do festival, acontecem, gerando reflexão e debates.

- para a sociedade, no contexto da arte e da cultura, especialmente no estado de Minas Gerais?

Qual a análise do Festival e da importância dele, para:

- e para a arte em si, pelo viés do compartilhar e consumir arte, pelo viés da formação e da capacitação para produzir arte e usufruir dela?

- a Universidade, na condição de academia, núcleo de formação humana e centro de irradiação de conhecimento e cultura? O festival, além de ser uma atividade de extensão, é um grande laboratório de expansão de conhecimento na área acadêmica, não apenas por se tratar de uma ação que se pensa e depois se concretiza, mas porque muitos alunos da universidade estão inseridos na produção do festival.

O festival sempre foi um momento de festejar a arte, e como está localizado em duas das mais importantes cidades históricas de Minas Gerais e do Brasil, suas ações refletem diretamente sobre o fazer e o pensar a arte em Minas e no Brasil.

A arte naturalmente se nutre do próprio fazer, quando, durante o festival, variados artistas e públicos estão participando de diversas atividades, é natural que questões pertinentes ao fruir e ao pensar a arte se misturem e potencializem a arte que o festival está mostrando e produzindo, como também, acredito, a futuras manifestações que nascerão, não necessariamente do festival, mas também seguramente do que foi produzido no festival.

Jáder Rezende

Praça Lúdico-Musical da estação de trem de Mariana — oficina para estudantes da rede pública 44 | www.voxobjetiva.com.br


artigo

Meteorologia

A origem da água no planeta Terra Nós sabemos que cerca de três quartos ou 71% da superfície do planeta Terra é composta de água. A água pode ser encontrada em um destes estados físicos: líquido, gasoso e sólido. No estado líquido, ela pode ser encontrada nos mares, rios, fontes, lençóis freáticos e nos seres vivos. No estado sólido, nas calotas polares, na neve, em granizo e nos icebergs. Na forma gasosa, a água existe na forma de vapor, na atmosfera. O vapor d’água ocorre pela evaporação das águas dos oceanos, rios, lagos e pela transpiração das plantas. As nuvens são formadas pelo aglomerado de vapor d’água na atmosfera. Segundo os cientistas, o planeta Terra teve sua origem no início do desenvolvimento do Sistema Solar há 4,5 bilhões de anos. A Terra foi formada pelo aglomerado de partículas que depois se solidificaram devido às altas temperaturas. Portanto, na formação da Terra não existe o elemento água, pois as temperaturas eram muito altas. Existem várias teorias de como surgiu a água no planeta. A teoria de que a água veio por meio da colisão de cometas e asteroides estava fraca. Mas em 2011, a revista Nature publicou resultados de pesquisas realizadas com o telescópio Herschel, da Agência Espacial Europeia. Depois disso, acredita-se que a água do nosso planeta possa ter sua origem no Cinturão de Asteroides (entre Marte e Júpiter). Como se pode observar, a água é muito importante para a vida na Terra. A origem da água foi supercomplexa. Então esse recurso precisa ser valorizado e preservado a cada dia. Precisamos utilizar a água de forma otimizada no dia a dia, sem ficar tirando o lixo das ruas e calçadas com água. Também é preciso preservar as nascentes e fazer estações de tratamentos de sólidos. Em pleno século 21, não se justifica poluir os rios.

Ruibran dos Reis Diretor Regional do Climatempo Professor da PUC Minas ruibrandosreis@gmail.com

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KULTUR

Jáder Rezende Jornalista da área de cultura jader.rezende@voxobjetiva.com.br

Até o fim

Alexandre Rezende/Divulgação

Vida de gado Música popular experimental com sotaque cearense, cujas melodias simples e letras diretas se misturam nos arranjos coloridos e em texturas cruas. Para completar, uma boa dose de humor. Essa é a receita do álbum solo de estreia do compositor, cantor e multi-instrumentista cearense Vitoriano. “Plantando Semente no Asfalto Quente” traz uma singular e divertida visão de mundo do artista, que mistura guitarras, violões e teclados ao brega. Nessa viagem, Vitoriano passeia por vários outros gêneros e timbres e expõe sua interpretação do cotidiano do brasileiro comum, que vive aventuras e desventuras de seu tempo. 46 | www.voxobjetiva.com.br

Divulgação

Renascido das próprias cinzas no ano passado – data estipulada para encerrar a sua carreira, ao emplacar o décimo disco –, Rogério Skylab não para. O músico está centrado na trilogia iniciada com o CD “Abismo e Carnaval” (2012) e que prossegue com “Melancolia e Carnaval”, a ser lançado até o final deste ano. O derradeiro será “Desterro e Carnaval”, todos produzidos por Skylab e Luiz Antônio Gomes. “O processo de gravação e até de composição desses três discos é completamente diferente do que eu vinha fazendo. Meu trabalho sempre esteve ligado ao rock. Nessa trilogia, no entanto, é tudo samba e bossa-nova. Sambas tristíssimos”, resume Skylab. O músico jura a seus seguidores: “Vou morrer fazendo música e discos”. O artista se apresentou em BH somente uma vez, no início de sua carreira, no pub A Obra. No site www.rogerioskylab.com.br está disponível toda a série dos Skylabs, do I ao X.


Três em um O cantor e compositor paulistano Celso Viáfora está prestes a lançar seu primeiro livro, “Amores Absurdos”, também em e-book, com direito a trilha sonora em CD homônimo. O autor de “Morena Tropicana” adianta à coluna que um dos cenários do romance é a bucólica e charmosa cidade de Tiradentes, precisamente no capítulo “A Ponte dos Sonhos”. “É lá que vivem as pessoas do núcleo do sonho e onde meu casal principal finalmente se encontra e se ama”, revela. Com 14 músicas, o disco tem acompanhamento de um quinteto de cordas, regido por Neymar Dias, 12 arranjos do próprio regente e dois escritos por Celso Viáfora. Celso toca violão em todas as faixas. As participações especiais ficam por conta da cantora Dandara Modesto e dos músicos Toninho Ferragutti, Manoel Cordeiro, Gabriel Altério e Trio Manari. O grupo formado pelos músicos Márcio Jardim, Nazaco Gomes e Kleber Benigno foi criado em 2001 com o objetivo de pesquisar sonoridades indígenas e africanas presentes na Amazônia.

Memórias Elmo Alves/DIvulgação

Não deixe o samba morrer A Velha Guarda do Samba de Belo Horizonte dá o ar da graça no pátio do BDMG Cultural. O sarau tem entrada franca e integra a abertura da exposição de fotos sobre o período de ouro do samba em Belo Horizonte. Formado por três gerações de sambistas da comunidade Buraco Quente, berço do samba na cidade, o grupo carrega o estandarte da luta pela revitalização da tradição do ritmo. O primeiro CD está a caminho, mas as belas imagens do fotógrafo Elmo Alves, que vão compor o encarte, podem ser conferidas até o dia 25. O BDMG Cultural fica na rua Bernardo Guimarães nº 1600, em Lourdes. A apresentação está programada para o dia 8 de agosto, a partir das 19h.

Lembranças do escritor Ignácio de Loyola Brandão foram registradas em crônicas e associadas a canções que remetem a histórias do escritor. O livro e o disco foram concebidos com a chancela da Fundação Carlos Chagas, por meio do projeto LivrosParaTodos. Prestes a ser lançado em show, o CD “Solidão no Fundo da Agulha” é todo interpretado pela filha do autor, Rita Gullo. Além de cantora, Gullo é atriz e historiadora. As faixas “Amado Mio”, de Doris Fisher e Allan Roberts, “Que Reste-t-il de nos Amours”, de Charles Trenet, e “Patrícia”, de Dámaso Pérez Prado, na versão brasileira de Bourges, podem ser conferidas no soundcloud.com. O livro “Solidão no Fundo da Agulha” traz belas imagens do fotógrafo Paulo Melo Jr. inspiradas nas histórias. Permeado por leituras dos textos feitas pelo próprio autor, o show “Solidão no Fundo da Agulha” terá direção de Marcelo Lazzaratto.

Discoteca básica Semente latina Lançado em 1999, “Échale semilla!”, o primeiro disco do multi-instrumentista argentino Axel Krygier merece atenção toda especial. Marcado pela experimentação sofisticada, o álbum traz 16 faixas que mesclam Calypso à música eletrônica e muito jazz. Também artista plástico, Krygier iniciou sua carreira como músico em uma banda para adolescentes ao lado de Kevin Johansen, outro grande artista do cenário pop argentino. “Echale semilla!” foi aclamado como revelação do ano pelo jornal Clarín e pela edição argentina da revista Rolling Stones. www.voxobjetiva.com.br | 47


Terra Brasilis

Gal Costa/Divulgação

Reprodução

Hugo Prata

Gal Costa

Hitchcock

Natura Musical

Não faz muito tempo, em maio, Gal Costa subiu ao palco do Grande Teatro do Palácio das Artes em duas noites seguidas. Mais rápido que os fãs poderiam imaginar, a cantora retorna a Belo Horizonte. No início de agosto, Gal apresenta aos belo-horizontinos o seu “Recanto” – eleito o melhor show do ano pelo prêmio Multishow e Jornal O Globo. O espetáculo teve a direção do amigo e também cantor Caetano Veloso e coprodução de Moreno Veloso. Os fãs podem conferir canções inéditas de Caetano, feitas especialmente para a cantora. Sucessos que a consagraram, como “Baby” e “Meu bem, meu mal”, também estão na relação.

A tensão conseguida de forma cirúrgica é uma das maiores características do cinema de Alfred Hitchcock, considerado o mestre do suspense. A Fundação Clóvis Salgado reverencia o cinema do diretor promovendo uma mostra que pretende revisitar a filmografia completa do cineasta inglês. O primeiro filme a ser exibido no Grande Teatro do Palácio das Artes, às 20h30, do dia 31 de julho, será “O Jardim dos Prazeres”, de 1925. Como era costume antes do advento do som no cinema, a trilha sonora será executada ao vivo. Isso caberá à Orquestra Sinfônica de Minas Gerais. Os ingressos custam de R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia).

A terceira edição do evento traz um line-up diversificado. Nomes consagrados e as promessas da música brasileira darão o tom do evento. Já confirmaram presença Caetano Veloso, Lenine, Paralamas do Sucesso, Paulinho da Viola, Marcelo Jeneci, Tulipa Ruiz, dentre outros. As crianças também terão vez. Os grupos Barbatuques e Curupaco estão entre as atrações. O Festival Natura Musical terá, como de costume, 12 horas de espetáculos simultâneos. Todas as atrações são gratuitas, com exceção da entrada na Praça da Estação, onde será necessária a retirada de ingressos com antecedência. Para a Praças Duque de Caxias o acesso é livre.

Local: Palácio das Artes Data: 3 de agosto - 21h Informações: fcs.mg.gov.br

Local: Palácio das Artes De 31 de julho a 5 de setembro

Local: Praças da cidade Data: 4 de agosto Informações: naturamusical.com.br

Informações: fcs.mg.gov.br


Antes tarde do que nunca

Julie Delpy e Ethan Hawke em cena de “Antes da Meia-Noite”. Magnetismo, romance e conflito na telona

André Martins O dia servindo como elemento alegórico para contar uma história de amor e seus percalços. Essa foi a ideia que ocupou a cabeça do diretor americano Richard Linklater, nos últimos 20 anos, e agora acaba de ser concluída com o lançamento do filme que encerra a trilogia. Em “Antes do Amanhecer” foi possível testemunhar o início da paixão de Celine (Julie Delpy) e Jesse (Ethan Hawke). Havia encantamento no que, pelos indícios, parecia ser um encontro perfeito num cenário ideal – a sugestiva Viena. Os jovens tentavam fazer as escolhas pelas melhores peças no jogo da conquista. A juventude da dupla de protagonistas combinava quase que perfeitamente com um sentimento de possibilidade que embala o estágio inicial de um relacionamento, o momento áureo do romance. Nove anos depois, um balde de água fria. Em “Antes do Pôr do Sol”, Celine e Jesse viviam em lados opostos do Atlântico, com as vidas mais ou menos encaminhadas. Ela trabalhava duro, vivia com uma gata em uma vila de Paris e seguia solteira. Ele se tornara escritor, viajava muito, tinha um filho e passava pela falência do casamento. Para os que haviam esperado nove anos pelo reencontro do casal, o início de “Antes do Pôr do Sol” é de uma frustração quase impossível de ser precisada diante do hiato de nove anos, dos quais os pormenores não são conhecidos, mas é permitido o acesso às “consequências”. Mas isso dá logo jeito de se esfacelar. Nas ruas

da capital francesa acontece mais que um reencontro entre amigos ou pretensos amantes. Por meio do maior trunfo de toda a trilogia – os diálogos espertos e próximos da vida comum – dá para perceber que havia mais que simples nostalgia por um dia inesquecível. Havia um misto de amor-saudade-paixão que se sustentara mesmo com ausências e a passagem do tempo. Depois de mais uma espera de nove longos anos, os fãs da trilogia, enfim, encontram o casal novamente em “Antes da Meia-Noite” – certamente o filme mais maduro da trilogia. O cenário agora é a paradisíaca Grécia, país onde a família – que inclui duas pequenas gêmeas – decide passar as férias. “Antes da Meia-Noite” é um filme sobre a consolidação de um relacionamento e os efeitos do tempo sobre uma vida, quando dividida. Os seios flácidos de Delpy e a barba grisalha de Hawke revelam que o tempo passa para todos, trazendo marcas físicas e fazendo surgir situações que revelam certo desgaste (natural?) de um relacionamento. Para quem gosta de “duelos” de ideias e de discussões de relação cruas, e em certos momentos cômicas, o filme, com certeza, tem tudo para agradar. Quando o amor parece ter perdido a “pegada” de 18 anos atrás, é, de novo, dia. Tempo de reencontrar ou resgatar coisas importantes que, sem querer, vão ficando pelo caminho. www.voxobjetiva.com.br | 49


artigo

Crônica

Não espere nada do “Candy Crush” Toda semana a gente se encontra para tomar um café. Mas, nesse dia, ela pediu uma dose dupla de whisky. Senti cheiro de problema no ar... Minha amiga sempre foi a mais engraçada da turma, mas naquela tarde estava abatida, com o sorriso enferrujado. Algumas palavras depois, descobri onde apertava o calo. Não, não era o sapato salto 15. Não, ela não queria reatar com o último “boy-magia” que virara “boy-macumba”. Sim, ela sofria de baixa autoestima. Na minha opinião, autoestima é um sentimento que deveria ser vendido em pílulas em farmácias, padarias, casas lotéricas e postos de conveniência abertos 24 horas. Na madrugada, a falta de confiança em si pode levar você a fazer loucuras, como mandar mensagens de amor para o ex-namorado que nem se lembra mais do seu nome. Ela me contou que ultimamente não saía mais de casa e passava horas diante do computador jogando “Candy Crush”. Quando ela revelou que jogava só para ouvir o narrador do jogo falar “Sweet!”, “Delicious!” e “Divine!” após a superação de cada fase, senti que o caso era grave. A estratégia de passar diante de uma obra de construção civil com saia curta para ouvir os assobios de admiração não seria suficiente nem para fazê-la tirar os olhos fixos do chão. Remédios antidepressivos? Ela usava regularmente. Voltei para casa pensando em algo mais convincente e motivador para tirar minha amiga do pântano em que estava habitando. Foi então que me lembrei de algumas pessoas que passaram pela minha vida e pareciam ter litros de autoconfiança guardados em casa. Nunca acabava o estoque! O que elas tinham em comum? Algumas eram bonitas e bem-sucedidas, mas muitas não contavam com essa sorte. A memória revelou gordinhas que “pegavam geral”, baixinhos magricelas pelos quais uma penca de meninas suspirava e morenos altos, bonitos e sensuais que passavam ao largo das paqueras, como se invisíveis fossem. Qual era o segredo do sucesso de uns e do fracasso de outros? Aquelas pessoas que esbanjavam confiança não estavam imunes a frustrações. Elas apenas tinham um olhar mais generoso para os próprios erros. O direito de medir quem eram e o quanto valiam não era outorgado a mais ninguém além delas. Uma rejeição amorosa, a vaga de emprego perdida ou qualquer tipo de tropeço não fazia com que se sentissem menores nem maiores. Enxergavam o que eram pelos próprios olhos, e não por meio do prisma fantasioso e injusto de quem não as queria por perto. Minha amiga precisava urgentemente de um espelho para a alma. Para incentivá-la a acreditar em si, eu iria revelar o segredo de um círculo natural da vida: “a autoconfiança nos leva ao sucesso, e o sucesso só aumenta nossa autoconfiança”. Se resistirmos à força centrífuga que teima em nos jogar para fora dessa roda, estaremos protegidos. E então, queridos, é melhor mudarem o número do telefone, se não quiserem ser incomodados... Porque ele vai tocar... e muito!

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Joanita Gontijo Jornalista e autora do blog tresoumais.blogspot.com joanitagontijo@yahoo.com


TODAS AS PORTAS DA ASSEMBLEIA ESTÃO ABERTAS PARA VOCÊ. Participar da vida política é direito de todo cidadão. Por isso, a Assembleia facilita o acesso para você chegar à Casa do Povo. Você pode acompanhar o trabalho dos parlamentares, consultar os projetos e as notícias e apresentar sugestões.

Acesse: www.almg.gov.br Assista: TV Assembleia – em BH, canal 35 UHF Fale: Centro de Atendimento ao Cidadão – (31) 2108 7800 Venha: Rua Rodrigues Caldas, nº 30 – Santo Agostinho – Belo Horizonte. Atendimento das 7h30 às 20h.

Acesse a Assembleia pela internet, TV ou telefone. Ou venha aqui pessoalmente. Fique à vontade, a Assembleia é a sua Casa. www.voxobjetiva.com.br | 51


Assinatura dos Decretos de Monumentos Naturais. Nova Lima cada vez mais verde. Neste ano, Nova Lima tem um motivo muito especial para comemorar: a Prefeitura assinou os decretos que instituem quatro importantes Unidades de Conservação Ambiental: a Serra do Souza (em frente ao Posto da Polícia Rodoviária – MG-030), a Serra da Calçada (na BR-040), o Morro do Pires e o Morro do Elefante. Porque garantir a proteção e a preservação do patrimônio natural é promover o desenvolvimento econômico e sustentável para a nossa cidade.

Apoio:

Morro do Elefante

Morro do Pires

Serra da Calçada

Serra do Souza

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