Informativo socioambiental - MACRODRENAGEM 2º Edição

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Guaíba, abril de 2011 - Edição número 2

Publicação produzida pela Prefeitura Municipal de Guaíba, Ministério das Cidades / Governo Federal, Caixa Econômica Federal, através da Associação Amigos do Meio Ambiente (AMA).

Macrodrenagem oferece mais qualidade de vida

Obra na Zona Sul da cidade representa mais saúde para a população


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Guaíba, abril de 2011 l Edição número 2

editorial

Desenvolvimento, qualidade de vida e bem-estar social Saúde e proteção ambiental têm relação direta com saneamento

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questão da inter-relação da saúde com o meio ambiente, cada vez mais, tem se evidenciado. A Primeira Conferência Internacional sobre Promoção da Saúde, realizada em Ottawa, Canadá, em novembro de 1986, iniciou, com sua Carta de Intenções, uma discussão mundial que, seguramente, contribuiu para se repensar as políticas públicas. Essa Conferência foi, antes de tudo, uma resposta às crescentes expectativas por uma nova saúde pública, movimento que, a partir de então, vem ocorrendo em todo o mundo. Os debates focalizaram, principalmente, as necessidades em saúde nos países industrializados, embora tenham levado em conta necessidades semelhantes de outras regiões do planeta. O desenvolvimento global fundamentado na industrialização, sem a preocupação com as questões ambientais, teve consequências não desejáveis para a saúde pública, gerando doenças, problemas sociais e comprometendo o futuro na Terra, já que essas ações são altamente degradantes e poluentes. As discussões por um desenvolvimento sustentável do ponto de vista ambiental são vinculadas, também, às questões de viabilidade econômica e justiça social. Não há como pensar em desenvolvimento sem pensar em qualidade de vida e bem-estar social. Diante desse quadro, fica claro que meio ambiente e saúde são temas completamente indissociáveis. Sem pretensão de exaurir o assunto, procuramos no Informativo Socioambiental deste mês destacar e exemplificar a correlação entre

meio ambiente e saúde. Algumas questões básicas devem ser esclarecidas para a melhor compreensão da importância do trabalho de Educação Socioambiental de Macrodrenagem da Zona Sul. Entre elas, a expressão meio ambiente deve ser interpretada de uma forma ampla, não se referindo apenas à natureza propriamente dita, mas, sim, a uma realidade complexa, resultante do conjunto de elementos físicos, químicos, biológicos e socioeconômicos, bem como de suas inúmeras interações que ocorrem dentro de sistemas naturais, abrangente. A palavra saúde também deve ser compreendida com o bem-estar físico, mental e social de um indivíduo. Essa é a orientação que se extrai da disposição contida no artigo 3º da Lei nº 8.080/90, na qual se consigna que “a saúde tem como fatores determinantes e condicionantes, entre outros, a alimentação, a moradia, o saneamento básico, o meio ambiente, o trabalho, a renda,

a educação, o transporte, o lazer e o acesso aos bens e serviços essenciais”. Assim, faz-se necessário perceber que o homem é parte integrante da natureza e, nessa condição, precisa do meio ambiente saudável para ter uma vida salubre. A saúde é um conceito positivo, que enfatiza os recursos sociais e pessoais, bem como as capacidades físicas. Assim, a promoção da saúde não é responsabilidade exclusiva do setor saúde, e vai além de um estilo de vida saudável, na direção de um bem-estar global. Vale destacar que os investimentos em saneamento têm um efeito direto na redução dos gastos públicos com serviços de saúde. Segundo a Fundação Nacional de Saúde (Funasa), para cada R$ 1,00 (um real) investido no setor de saneamento, economizam-se R$ 4,00 (quatro reais) na área de medicina curativa. Alcançar a equidade é um dos focos da promoção da saúde, reduzindo as diferenças no estado de Realização

Ministério das Cidades

Cartilha Informativa da Obra de Macrodrenagem da Zona Sul Produção editorial e gráfica: Kraskin Comunicação Edição e conteúdo jornalístico: Charles Soveral (Mtb 5.736) Ilustrações: fotolia.com / Fotos: AMA, Charles Soveral Planejamento gráfico: Vinícius Kraskin e Uagner Silveira Revisão: Press Revisão Tiragem: 5 mil exemplares

Colaboradores desta Edição: Débora Oliveira Pires - Estudante de Design de Produto Eduardo Raguse Quadros - Engenheiro Ambiental Fernanda F. A. Pelegrini - Bióloga Jarbas Teixeira da Cruz - Historiador Liziane Bertotti Crippa - Bióloga

Luis Henrique Andriotti - Veterinário Marcus Vinícius da Silva Nunes - Estudante de Enfermagem Túlio Antônio Amorim Carvalho - Engenheiro Agrônomo Vanessa Willems Scalco - Bióloga

saúde da população e assegurando oportunidades e recursos igualitários para capacitar todas as pessoas, a fim de realizar completamente seu potencial de vida saudável. As pessoas não podem realizar seu potencial de saúde se não forem capazes de controlar os fatores determinantes do seu meio. O acompanhamento sistemático do impacto que as mudanças no meio ambiente produzem sobre a saúde, particularmente nas áreas de tecnologia, trabalho, produção de energia e urbanização, é essencial e deve ser seguido de ações que assegurem benefícios positivos para a saúde da população. Nesse sentido, o Executivo Municipal vem desenvolvendo ações de drenagem das águas pluviais, com o objetivo de eliminar os problemas de alagamentos, com implicações na difusão de doenças transmitidas pela água, de coleta e tratamento de esgoto doméstico, o qual é um dos maiores problemas de meio ambiente e saúde na sociedade contemporânea. Voltamos a salientar a importância da Gestão Ambiental Compartilhada, proposta e implantada neste projeto pela Associação Amigos do Meio Ambiente (AMA), pois assim construímos um caminho mais seguro, democrático e justo para o desenvolvimento sustentável de nossa cidade, com mais qualidade de vida para a população.

Henquique Tavares - Prefeito de Guaíba

Fale com a AMA Para entrar em contato com a Associação Amigos do Meio Ambiente de Guaíba é só ligar para: (51) 9871.6252 / Rua Sergipe, nº 287, sala A, Parque 35 - CEP: 92500-000 socioambiental.macro@gmail.com ama-socioambiental.blogspot.com


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ARTIGO

A evolução do saneamento ambiental O Brasil passou por diversas etapas desde o império até a política atual para água, esgoto e lixo n Cláudio

Dilda Professor, gestor público e ex-secretário estadual do Meio Ambiente

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o se analisar a história do saneamento no Brasil, pode-se perceber, grosso modo, algumas etapas bastante distintas: antes da metade do século 19; do período de 1850 a 1930; o da vigência do Código de Águas, de 1930 aos anos 1970; o do período de vigência do Planasa e o atual, gerado pela Lei Federal nº 11.4445, de 05 de janeiro de 2007, conhecida como Lei do Saneamento Básico. Foi por volta da metade do século 19, durante a gestão de D. Pedro II, que pela primeira vez se estabeleceu uma política de saneamento para o Brasil, oportunidade em que a opção foi pela concessão a empresas estrangeiras. Este sistema vigorou até o início da década de 1930, quando da ascensão de Getúlio Vargas ao poder. A intensificação da migração ruralurbana e a decorrente aceleração do processo de urbanização levaram Vargas a promulgar o Código das Águas, cujos dispositivos previam a intervenção estatal e a nacionalização das empresas prestadoras desses serviços. Na década de 1970, em pleno regime militar, foi criado o Plano Nacional de Saneamento, mais conhecido pela sigla Planasa, oportunidade em que as companhias estaduais de saneamento passaram a obter as concessões municipais para exploração do serviço, em especial o de fornecimento de água tratada, sistema que ainda vigora no Rio Grande do Sul com a Companhia Rio-Grandense de Saneamento – Corsan –, que atende à maioria dos municípios gaúchos, por excelência em abastecimento de água. Contudo, o Planasa entraria em crise no final dos anos 1980 e seria extinto no início dos anos 1990. De 1992 até 2007, prevaleceu um limbo no âmbito de políti-

cas públicas para o setor de saneamento, com as companhias estaduais prestando os serviços e, em alguns municípios, se constituindo empresas, companhias, autarquias ou fundações para a prestação de serviços de esgoto e abastecimento de água. Tais são os casos do Dmae em Porto Alegre, do Samae em Caxias do Sul, do Sanep em

para o saneamento básico, incluídos no conceito a água para consumo humano, os resíduos sólidos (lixo), os esgotos sanitários e macro e microdrenagem. A Lei n° 12.305, de 02 de agosto de 2010, criou uma nova política nacional de resíduos sólidos com o objetivo de não geração, redução, reutilização, recicla-

Planos municipais de saneamento precisam ser acompanhados de programas de educação e reeducação ambiental da população beneficiada pela obra Pelotas, do Daeb em Bagé, entre outros, reunidos na Associação Nacional dos Serviços Municipais de Saneamento – Assemae/RS. O Estatuto da Cidade, instituído pela Lei nº 10.257, de 10 de julho de 2001, deu início aos processos de rediscussão das cidades, ao estabelecer diretrizes gerais da política urbana. A Lei nº 11.445/207 estabeleceu as diretrizes nacionais

gem, tratamento e destinação final ambientalmente adequada de rejeitos. Pela nova legislação, todas as esferas do poder executivo deverão elaborar os seus respectivos “Planos de Resíduos Sólidos”, com metas para a eliminação e recuperação de lixões, diretrizes para a disposição final de rejeitos, reciclagem de resíduos, etc. Fica evidenciada a obrigatoriedade de todos

os municípios elaborarem seu Plano de Saneamento. Os Planos Municipais de Saneamento precisam ser acompanhados de programas de educação e reeducação ambiental da população voltada para o saneamento. Isso porque de nada resolverá elaborar os melhores planos de saneamento se não ocorrer a adesão da população ao longo de todas as etapas, de toda a população: crianças, jovens, adultos e idosos. O exemplo é sempre a melhor escola. Em relação à água: utilizar com racionalidade e sem desperdício. Em relação ao esgoto, proceder de acordo com as determinações e orientações do município, ligando o esgoto à rede coletora ou à fossa e sumidouro. Em relação ao lixo, a redução de sua produção é o item primeiro e mais importante; dos resíduos produzidos, segregar em recicláveis e não recicláveis. Como é facilmente perceptível, todos os atos que são praticados fora das recomendações e das determinações da organização proposta pelos prestadores de serviços acabam por se voltar contra a própria população.


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Saneamento em Guaíba terá salto qualitativo População carente será a maior beneficiada com as obras em andamento e que estão previstas a curto prazo

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macrodrenagem da Zona Sul de Guaíba, que envolve sete bairros da cidade e uma população direta de mais de 15 mil pessoas, é mais uma obra do conjunto de ações que a Prefeitura Municipal, o Governo do Estado e o Governo Federal estão preparando para o município que dão a dimensão do salto qualitativo que a cidade terá nos próximos anos em termos de saneamento.” A opinião é do secretário nacional de Saneamento Ambiental, o engenheiro catarinense Leodegar da Cunha Tiscoski, que ocupa o cargo desde o governo do então presidente Lula. Profundamente identificado com a realidade do saneamento no Brasil, Tiscoski lembra que o Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS 2008) revela que o município de Guaíba apresenta índice de coleta de esgotos de apenas 3,16%. Do volume coletado, apenas 3,73% recebem tratamento, ou seja, o tratamento dos esgotos gerados é quase nulo. Mas o secretário assinala que essa situação está prestes a mudar a partir de esforços do município, passando pelo Governo Estadual até o Governo Federal, que incluiu a cidade nos recursos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) para a ampliação do sistema de esgotamento sanitário, com a implantação de rede coletora, estações elevatórias de esgotos, Estação de Tratamento de Esgotos e emissários, com valor de investimento de mais de R$ 56 milhões. “Este empreendimento, que tem o Governo do Estado como proponente e a Corsan como interveniente executora, vai atender aos bairros Laranjeiras, Alvorada, Parque 35 e Centro. Com isso, segundo o projeto, a coleta no município passará de 3% para 45% do volume gerado e o tratamento de praticamente 0% para 45% do volume gerado e 100% do volume coletado. Um verdadeiro salto de qualidade para a população, especialmente os mais pobres, que há muito tempo esperam por isso”, completa ele. Em relação ao controle da população sobre as novas obras, Tiscoski explica que a participação e a mobilização popular são compreendidas como pressupostos indispensáveis para a efetivação da gestão dos serviços de saneamento, a ser promovida por meio de processos que envolvem desde o acompanhamento e a supervisão de atividades relativas ao planejamento da política municipal, bem como em ações específicas de acompanhamento da execução das obras físicas

A implantação de rede coletora, estações elevatórias, emissários e Estação de Tratamento representa um investimento de mais de R$ 56 milhões e da prestação dos serviços. “A mobilização da comunidade é a base para a sustentabilidade dos serviços implantados, que deve se iniciar antes da execução das obras, perpassa a construção e continua após a conclusão, no monitoramento do uso adequado dos serviços implantados”, confirma o secretário. Para Tiscoski, quando se fala especificamente em execução de obras, a participação e o apoio da comunidade são fatores essenciais para garantir a eficácia das intervenções realizadas pelo poder público. De acordo com ele, a organização dos serviços de saneamento é obrigação do

poder público, garantida pela Lei nº 11.445/07, mas a solução definitiva ou a minimização de muitos problemas só será possível se a comunidade afetada estiver, primeiramente, sensível à necessidade de mudanças e, principalmente, tiver consciência da importância de modificar algumas condutas geradoras de danos, com vistas a garantir a sustentabilidade das intervenções. Ao lembrar o trabalho socioambiental da Associação Amigos do Meio Ambiente (AMA) e da Prefeitura de Guaíba, o secretário nacional diz que as intervenções apoiadas com os recursos da União preveem, via de regra, a realização de ações de trabalho social e de educação ambiental, concomitantes ao desenvolvimento das obras. “O objetivo dessas ações, na maior parte dos casos, é de estimular e sensibilizar as lideranças comunitárias e a população em geral para participar do planejamento, da implementação e da fiscalização dos empreendimentos. É preciso promover ações destinadas à educação sanitária e ambiental aos usuários do sistema implantado, orientando-os quanto ao uso adequado, e geração de trabalho e renda para a comunidade beneficiada.” Para o secretário nacional de Saneamento Ambiental, pode-se considerar, de forma geral, que o país avançou bastante na última década em relação ao saneamento. “Há oito anos, 10,7% dos domicílios urbanos ainda não tinham acesso à rede geral de abastecimento de água, e aproximadamente um a cada quatro residências não dispunha de redes coletoras de esgotos sanitários ou fossas sépticas. Igualmente, inexistia um marco legal que orientasse as ações do setor e não havia um fluxo constante de investimento. Conforme apontou a Pesquisa Nacional por Amostra Domiciliar (PNAD), entre 2002 e 2009, os serviços de abastecimento de água ampliaram-se significativamente na área urbana, cuja cobertura saltou de 89,3% para 92,6%. Na zona rural, o resultado também foi expressivo, passando de 18,3% para 28,9%. No montante final, 10,7 milhões de domicílios começaram a dispor de água potável com canalização interna.” Ele complementa afirmando que, no mesmo período, “a cobertura da rede coletora de resíduos em esgotos e fossas sépticas cresceu de 76,6% para 80,4% na área urbana e, na rural, de 17,1% para 26,0%. Com isso, 9,7 milhões de domicílios passaram a dispor de esgotamento sanitário e, consequentemente, de melhores condições ambientais e de saúde”, conclui.


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Macrodrenagem está inserida na nova infraestrutura de Guaíba Executivo municipal prepara uma série de projetos que devem criar diretrizes para a cidade

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obra de macrodrenagem da Zona Sul está inserida em um conjunto de ações da Prefeitura Municipal que devem mudar, de forma positiva, o perfil de ocupação da cidade de Guaíba, preparando-a para o crescimento populacional dos próximos anos e décadas. Reginaldo Lacerda, arquiteto e diretor de Habitação do município, um dos principais articuladores deste trabalho, explica que está em andamento o Plano Estratégico de Desenvolvimento Urbano Sustentável (Pedus), o qual se fundamenta na projeção do crescimento habitacional e na possível degradação do meio ambiente decorrente de uma ocupação desordenada. A proposta é gerar crescimento com qualidade de vida e proteção aos recursos naturais, especialmente água, solo, fauna e flora. “O Pedus não é plano somente da Prefeitura. É uma ação conjunta do Executivo com o empresariado, representado pelo Comitê de Desenvolvimento Empresarial de Guaíba (Cedeg) e uma equipe técnica altamente qualificada da Universidade Federal do Rio Grande do Sul”, observa Lacerda. O conjunto de estudos inseridos no Plano Estratégico de Infraestrutura Urbana (PEIU) inclui planos setoriais para habitação de interesse social, ordenamento e gestão do território, informações do solo e do meio ambiente, mobilidade e transporte e águas urbanas. “De posse de todas essas informações e estudos, será possível planejar com segurança o crescimento da cidade. O esforço que fazemos neste trabalho resultará, no futuro, em atração de investimentos para Guaíba. Um investidor de qualquer parte do mundo poderá, através da internet, saber tudo sobre a infraestrutura, o solo, as águas, as rodovias e a legislação do município. É um pionei-

Obra de macrodrenagem reduz possibilidade de alagamentos e prepara a cidade para crescimento populacional

rismo no cenário brasileiro”, destaca o arquiteto. Reginaldo Lacerda lembra que a cidade de Guaíba possui alguns diferenciais importantes que podem representar ganhos econômicos para o município. O fato de estar localizada próximo à capital do Estado e junto às grandes rodovias que levam, especialmente, para a Zona Sul do Estado, onde está projetada a duplicação da BR-116, a ligação direta com a BR-290, a qual conduz para as regiões Central, da Campanha e ainda faz conexão rodoviária com a Argentina e o Chile em rota de exportação, revelam um potencial ainda pouco explorado. “Esse é

um dos desafios que temos em mãos para reverter em benefícios para nossa população. Todos esses estudos vão nos indicar os melhores caminhos e a forma mais rápida de chegarmos a esses resultados.” O diretor de Habitação de Guaíba assinala ainda que os investimentos nos estudos que serão executados terão a maior parte dos recursos, cerca de 70%, custeados pela iniciativa privada. Isso significa que há compreensão do empresariado de que tais levantamentos representarão ganhos econômicos para o município em um trabalho que deverá mudar a cara da cidade por muitos anos.

Conjunto de obras de hoje terá plenos resultados no futuro, com apoio da população


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A relação entre Ecologia e Saúde Luta histórica de Lutzenberger formou a opinião dos gaúchos n José Carlos Brasil Peixoto Médico homeopata www.umaoutravisao.com.br

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todo o momento, somos bombardeados com alertas a respeito do cuidado que devemos ter em relação aos temas ecologia, saúde e poluição. É pouco provável que alguém não tenha se deparado com a seguinte questão: na prática, o que realmente isso significa? Qual é o risco efetivo? Onde estão as fontes de preocupação? Isso é real? Como isso tem importância dentro da minha casa, na minha alimentação, nas coisas que eu vou comprar? Bem, é claro que estamos lidando com uma situação diferente de um mero envenenamento, uma vez que os problemas ligados com a poluição, com a ecologia, têm implicações com a sobrevivência a médio ou longo prazo, e as maiores repercussões serão para os nossos descendentes. Isso acaba por limitar um pouco a necessária relação de causa e efeito que serve como forte impulso para que algumas medidas sejam tomadas de forma mais decisiva. O tema ecologia está no dia a dia das pessoas, pelo menos no Rio Grande do Sul, desde as manifestações de José Lutzenberger nos anos 1970. Foi se formando uma mentalidade com a questão da poluição do ar e da água e com o desmatamento. A preocupação com o uso de agrotóxicos acabou por banir o uso do DDT, um produto popular, usado, inclusive, na cama das pessoas para matar pulgas. Qual é o real problema com o DDT e outros agrotóxicos? Seria o fato de causar câncer? De induzir ao nascimento de más formações em bebês? Isso precisa ser bem esclarecido para as pessoas em geral. O tema dos agrotóxicos nos remete às preocupações de Rachel Carson em seu livro pioneiro Primavera silenciosa (1962), que relacionava o uso de produtos para melhorar a produtividade agrícola com a devastação de espécies, como os pássaros que, ao sumir, privariam as primaveras de seus cantos. Pela primeira vez, veio a público uma acu-

sação direta: pesticidas matam qualquer vida, e não apenas aquelas que se propunham a eliminar. O DDT não era qualquer coisa. Era popular, tido como seguro e deu ao seu descobridor um Prêmio Nobel (em 1948) pela repercussão positiva contra o mosquito da Ma-

Natal, em 1987, que a pesquisadora norte-americana Ana Soto nos deu luz definitiva à questão dos poluentes ambientais e sua relação com a capacidade reprodutiva dos seres vivos. Ela descobriu que substâncias liberadas por produtos plásticos se

Quando temos plena consciência dos reais riscos que estamos correndo, podemos ser mais decididos nas atitudes que vamos tomar lária. Embora possamos encontrar defensores até hoje, o fato é que essa substância persiste no meio ambiente atravessando a corrente de seres vivos que compõem uma cadeia alimentar. O DDT se liga ao tecido gorduroso por se parecer com substâncias com alta afinidade por esse tipo de tecido – os hormônios esteroides, nada mais nada menos que os hormônios diretamente ligados à reprodução (estrogênios, testosterona, entre outros). Isso foi totalmente esclarecido pela descoberta de outra cientista, já nos anos 1980. Foi na época do

comportavam como hormônios femininos e poderiam, por exemplo, interferir com a reprodução de células de câncer de mama. Nomes químicos complicados, como os nonilfenóis, vão encorpar uma lista de substâncias que estão presentes em inúmeros produtos populares, como plásticos, resinas dentárias, espermicidas, produtos de limpeza, de toalete, roupas, etc. Esses produtos químicos, por se comportarem como um hormônio sexual feminino, bloqueiam ou estimulam receptores do corpo humano, alterando a capacidade

reprodutiva, modificando a contagem de espermatozoides, estimulando a formação de câncer dependente de hormônios sexuais (como os de próstata e de mama), entre outros problemas. A liberação de substâncias químicas a partir de produtos plásticos é o ponto de partida para algumas advertências imprecisas que têm aparecido na mídia, como a questão do cafezinho em copos plásticos ou a de aquecer alimentos em micro-ondas. Na realidade, o problema é liberar substâncias dos plásticos para os alimentos aquecidos em recipientes desse material. Obviamente, comprar alimentos prontos no supermercado, que são envolvidos em sacos plásticos, ou caixas de isopor, resulta no mesmo problema. Quando temos plena consciência dos reais riscos que estamos correndo ao utilizarmos produtos que fazem mal para nós e nossos filhos, podemos ser mais decididos nas atitudes que precisamos tomar para modificar o nosso futuro. Somos estimulados a reciclar resíduos, para que eles não sejam liberados no meio ambiente. Somos estimulados a comprar produtos com o simpático selo de “orgânicos”, que, na verdade, significa: livre de agrotóxicos. É um expediente curioso, pois livre de agrotóxicos significa livre de venenos. Vender e comprar produtos sem venenos não deveria ser uma opção mais cara ou mais difícil. Deveria ser o normal! Por isso, muitos dos resíduos seriam melhores se nem mesmo fossem fabricados. Praticamente todos os agrotóxicos seriam melhores se também não fossem fabricados. Mas só se fabrica o que é utilizado. De qualquer maneira, sem conhecimento, é difícil podermos ter uma atitude correta dentro do tema da poluição. Decidir o que comprar para fazer com que os fabricantes e fornecedores de produtos de consumo redefinam a qualidade desses produtos é a fase mais árdua do processo. E vale a pena insistir nessa tecla, uma vez que cada um de nós tem a chance de atuar e mudar o que irá acontecer conosco! Basta cada um fazer a sua parte. Mãos à obra!


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AMA prossegue nos informes à população E

m continuidade ao trabalho de informar a população sobre o andamento das obras de macrodrenagem na Zona Sul de Guaíba, as equipes da Associação Amigos do Meio Ambiente (AMA) mantêm uma rotina de reuniões, visitas, palestras e atividades educacionais, tendo sempre como objetivo a troca de informações e esclarecimentos sobre os benefícios e impactos nas áreas de abrangência das obras. Uma das atividades importantes desenvolvidas tem sido as reuniões com os moradores, como, por exemplo, a que aconteceu no CTG Darcy Fagundes em março, por cerca de duas horas, entre re-

Moradores e representantes da Prefeitura no CTG Darcy Fagundes

presentantes da Prefeitura Municipal e os moradores da região para esclarecimento de dúvidas e relato das preocupa-

ções mais frequentes da população afetada pelas obras. Confira aqui diversos momentos deste trabalho socioambiental.

ceberam as informações atualizadas sobre o projeto de macrodrenagem. Os agentes da AMA relataram excelente receptividade da população ao projeto.

VISITAS DOMICILIARES

Ações da AMA OFICINA DE RESÍDUOS

PLANTÃO DE ATENDIMENTO No dia 1º de fevereiro, a equipe da AMA reuniu-se com os moradores da Travessa dos Presidentes para realizar uma oficina sobre destinação adequada dos resíduos sólidos. Os técnicos apresentaram um modo de reaproveitar os resíduos orgânicos através da compostagem e também foi incentivada a separação dos resíduos domésticos.

ENTREGA DE INFORMATIVOS

A primeira edição do Informativo circulou em toda a comunidade afetada pelas obras. Comércio, escolas e residências re-

As visitas domiciliares e entrevistas são rotinas diárias da equipe da AMA. O contato direto com os moradores se revelou uma excelente oportunidade de troca de informações e de esclarecimentos.

Acompanhamento da obra

Contêineres ampliam a coleta do lixo A Prefeitura Municipal de Guaíba disponibilizou para a população, no segundo semestre do ano passado, uma série de contêineres nos bairros Nova Guaíba e nos bairros da Zona Sul da cidade, especialmente na região afetada pela obra de macrodrenagem. De acordo com o secretário municipal de Meio Ambiente, Maximiliano Finkler, essa ação faz parte do trabalho socioambiental e visa minimizar o impacto das obras de macrodrenagem na região, além de gerenciar melhor o descarte de resíduos. O secretário municipal de Meio Ambiente chama a atenção da população para a necessidade de promover o descarte correto do lixo nos contêineres e, nesse sentido, está sendo feito todo um esforço da Prefeitura em parceria com a AMA – Associação Amigos do Meio Ambiente – de explicar aos moradores como funciona esse novo sistema de coleta de resíduos sólidos. Os 21 contêineres da Zona Sul já possuem um sistema bipartido, para separação de lixo seco e orgânico. É o início do sistema de coleta seletiva, que deverá ser implantado em toda a cidade. Cada contêiner comporta 1200 litros, e tem coleta dia sim, dia não.

Saiba como descartar os seus resíduos domésticos: Seco Embalagens Pet, canos e tubos de

PVC, latas de alumínio, garrafas e potes de vidro, sacolas plásticas, brinquedos, papéis, papelão, embalagens em geral.

Orgânico Cascas de frutas e verduras, É contínua a procura de moradores por informações nos plantões de atendimento montados pela AMA. A população busca notícias de quando as obras chegarão às suas ruas e sobre os benefícios do empreendimento. A equipe realizou os plantões de atendimento para a comunidade na Av. Adão Foques todas as quartas-feiras.

O canteiro de obras também é visitado diariamente pelos agentes e técnicos da AMA. A proposta é estar em sintonia com o trabalho executado e, a cada novidade, informar de maneira rápida e objetiva os moradores da região.

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restos de alimentos, erva de chimarrão, borra de café, fezes de animais domésticos, fraldas descartáveis usadas, papéis higiênicos usados, madeiras.

Fique atento! Não coloque no contêiner os seguintes materiais: animais mortos, pilhas e baterias; podas de árvores soltas, lâmpadas, sobras de construção civil, eletrodomésticos, pneus, madeiras soltas.


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A brincadeira que desperta para a defesa ambiental Peça teatral usa o imaginário infantil para educar jovens da rede de escolas públicas

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esde 300 A.C. (antes de Cristo) na antiga Grécia, a técnica de representar para passar uma mensagem é um sucesso. E não poderia ser diferente na Guaíba de hoje. E é exatamente assim que a comunidade, especialmente a das escolas da Zona Sul da cidade, está recebendo informações sobre a obra de macrodrenagem. Elaborada pela Companhia de Artes ExpressArt, ligada à Igreja Batista Filadélfia, a peça de teatro “Lixo no Lixo” que está sendo levada às escolas fala dos alagamentos, de como as crianças devem cuidar das plantas e dos animais e de como é importante preservar a água no presente para garantir o futuro. “Fazemos uma viagem imaginária e, com isso, levamos a nossa plateia, em grande parte constituída de crianças, a fazer um passeio pelo mundo da preservação, da valorização das coisas naturais, do meio ambiente. Tudo de uma forma lúdica, alegre e muito educativa”, explica Fernando Porto, um dos líderes do grupo de arte e também um dos principais atores da peça. A impressão de Porto sobre a assimilação dos conhecimentos se confirma no que dizem os alunos que assistiram à peça na Escola Estadual de Ensino Fundamental Evaristo da Veiga, localizada em uma das áreas atingidas pela obra de macrodrenagem. “Muito legal. A gente se dá conta, através da peça, que, sem querer, fazemos muitas coisas erradas, tipo jogar o lixo em qualquer lugar ou colocar a água fora”, diz Alysson Marques da Silveira, de 16 anos, aluno da escola que, junto com os colegas de 13 anos Michael Rockenback e Jefferson Palmeiro Fernandes, se ofereceram para trabalhar como voluntários e lideranças locais no projeto de conscientização ambiental. “É algo que contribui para a melhoria da qualidade de vida de nossa comunidade. Tenho uma filha

Grupo teatral consegue prender a atenção do público infantil aos temas propostos

pequeninha aqui na escola, mas quero que ela participe de todas essas atividades educacionais”, afirma Brandeli Fátima Padilha Silva, mãe de uma aluna de quase 6 anos de idade da Escola Evaristo da Veiga. É esse envolvimento que é defendido pela diretora da escola, professora Rosaria Menezes Xavier,

que tenta oferecer as melhores opções aos 250 estudantes do estabelecimento de ensino. “A participação da comunidade escolar nos temas e assuntos da nossa comunidade, da comunidade do bairro, da cidade, do Estado e do país precisa estar presente nas atividades rotineiras da escola”, garante a diretora.

Teatro como ferramenta ambiental A teoria do trabalho de Alexandre Araujo e Vital Júnior sobre o significado mais puro e real do “casamento” Teatro e Educação Ambiental. Após essa leitura, podemos ter a certeza de que a experiência apresentada pela AMA está dentro do que há de mais moderno em termos de metodologia. (...) O trabalho pedagógico com o teatro tem um grande potencial para desenvolver atividades relacionadas à Educação Ambiental, numa perspectiva emancipatória e complexa. Os caminhos a serem trilhados nessa direção ainda precisam ser desbravados, mas já encontramos algumas pistas desse caminho nesta presente pesquisa. A aproximação do Sistema de Jogos Teatrais, de Viola Spolin, e o Teatro do Oprimido, de Augusto Boal, com as atividades de Educação Ambiental podem trazer excelentes contribuições, especialmente no que tange à dimensão espiritual e social das práticas pedagógicas, proporcionando a experiência do relacionamento com seu próprio corpo e espírito e do relacionamento com o outro. As improvisações teatrais, quando contextualizadas e desenvolvidas de maneira crítica, podem trabalhar de forma lúdica e profunda as dimensões política, histórico-cultural e econômica das questões socioambientais. Particularmente, a técnica do Teatro-Fórum, de Boal, pode ser muito interessante para trabalhos relacionados à temática da cidadania e à justiça ambiental, envolvida no contexto de Agendas 21 e Fóruns participativos, inclusive, no âmbito do ensino formal, para Agendas 21 Escolares. (...)


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