Arca 1º Edição

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Palavra da Presidente A Academia de Letras de São João da Boa Vista é uma Associação Civil, sem fins lucrativos e tempo indeterminado de duração. Tem por finalidade a cultura da língua e da literatura nacional. Mas, afinal, qual o objetivo e a razão de sua existência para a sociedade? Uma Academia de Letras – e falo de todas – é objeto de desejo, ainda que não declarado, da maior parte de escritores, uma vez que lhes garante prestígio e reconhecimento. No entanto, sendo acadêmico tem-se a responsabilidade de apresentar o saber e a habilidade de seu conhecimento para a cidade, com riqueza de informação, pois a troca de experiência entre confrades e outras pessoas faz crescer o nível de credibilidade do sodalício e traz a ele o título de “fonte de sabedoria” e demais elogios cabíveis, dada sua participação na esfera do crescimento intelectual do ser humano. Sendo assim, a vida da Arcádia depende de os confrades estarem envolvidos no processo de desenvolvimento e ascensão da confraria e através dela colaborar no aumento cultural de sua gente. Ser acadêmico requer constante reflexão sobre a responsabilidade da conquista da imortalidade. A Academia de Letras de São João da Boa Vista compõe-se atualmente por membros das mais variadas profissões e, nesse caso, é bom citar a diversidade de vocações, aptidões e dons apresentados nela. São escritores, contistas, poetas, arquitetos, jornalistas, professores, teólogos, juristas, advogados, promotores, reitores, cronistas, musicistas entre outros. Esta Diretoria, empossada em janeiro

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passado, segue caminhos - como deve ser - de realizações para benefício do sanjoanense, focada no enaltecimento da Instituição e de mãos dadas com seus pares. Dessa forma, além dos conhecidos eventos realizados, com justificado orgulho, oferece para a comunidade, focada inevitavelmente nos jovens, a Revista Literária da Academia de Letras, para a qual deu o nome ARCA. Arca, substantivo feminino, significa caixa grande com tampa e fechadura; baú; cofre. Tesouro, na forma figurada. O dicionário analógico fala de palavras afins como, arquivo, contêiner, galeria, fonte, casa dos contos. Para a Academia de Letras, o nome escolhido vai além deste significado, acrescentou-se à Arca transparência, comunicabilidade, linguagem franca e informações, confessos por crônicas, luz grafia, poemas, dicas literárias, críticas literárias, resgate de história, entrevista e muitos outros conteúdos. Convidamos o leitor a embarcar conosco nesta ideia cultural. A desfrutar cada página da Arca, deleitando-se com os textos. Sem o apoio da diretoria e dos acadêmicos efetivos, um presidente nada realiza. Por isso, reverencio-me em agradecimento aos que estiveram diretamente envolvidos com a Revista Arca - Antonio C.R. Lorette e Silvia Ferrante -, e a todos os que a compõem. Obrigada, por se juntarem a esta realização. Ao leitor, desejo bons momentos de leitura! Lucelena Maia Presidente

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Making Off

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EDIÇÃO 01|ANO 01|ABRIL 2013

Hoje é dia de festa para a Academia de Letras de São João da Boa Vista, porque entrega à sociedade sanjoanense a Revista Arca, há poucos meses de completar 42 anos de sua fundação. Um longo caminho foi percorrido até aqui. Existência pautada na busca por sua consagração. A Arca, onde está contida a história da Academia de Letras, será aberta ao público, a partir desta edição, no formato Revista e com 44 páginas. Só acadêmicos foram convidados a escrever nesta primeira edição, porque são, efetivamente, a Academia de Letras. A Revista foi produzida com critério, responsabilidade, carinho e muita caminhada na busca por patrocínio. Chegamos ao final satisfeitos com o resultado. Tomara que o leitor também goste.

01

Palavra da Presidente

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Making Off

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Agenda

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Luz Grafia

22 26 34 36 40

Academia em Revista

41 42

Letras em Retrato Entrevista com Celina Motin

Críticas Literárias São João à Vista

Arcadianas Luz Grafia Chá da Academia Sopa de Letras Afiando a Língua Livros ARCA | 3

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AGENDA ACADEMIA DE LETRAS DIA 25 DE JULHO -

Agenda

ACADEMIA DE LETRAS DE SJBV

Em comemoração ao Dia do Escritor - Palestra: “120 Anos de Mario de Andrade”, pela Acadêmica Beatriz Virginia C.C. Pinto

AGENDA ACADEMIA DE LETRAS DIA 28 DE SETEMBRO UNIFAE SJBV

Premiação do 21º Concurso de Poesia e Prosa, dia 28/9/2013, às 20h, no UNIFAE Coordenação Silvia Ferrante

AGENDA ACADEMIA DE LETRAS AGOSTO ACADEMIA DE LETRAS DE SJBV

Reunião Lítero-Musical Palestra: “Literatura de Cordel”, pela Acadêmica Maria Cândida de Oliveira Costa

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COMEMORAÇÃO ANIVERSÁRIO DA CIDADE 23 A 30 DE JUNHO -

SÃO JOÃO DA BOA VISTA

Projeto SESC Itinerante (teatro, circo, música, etc) / Desfile cívico – Depto Educação / Show com Serginho / Jazz Sinfônica de SJBVista / Encontro de Guitarristas / Encontro de Bateristas.

Foto:

Grazielle Moreno ARCA | 5

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Letras em Retrato “A MENINA E AS PALAVRAS”

Celina da Grafitte é uma figura bem conhecida de nossa cidade. Trabalhando com a palavra escrita desde a mais tenra idade, fez da sua profissão, “jornaleira”, como faz questão de frisar, uma porta que se abre diariamente a novos e velhos amigos, pessoas que compartilham com ela o gosto pela novidade e pelas letras. Muito sincera e sempre com sorriso no rosto, recebe a todos com simpatia e dedicação. Afirma já estar atendendo a terceira geração de clientes, o que a deixa bem feliz. Leitora assídua de tudo o que passa por suas mãos, consegue transmitir a quem peça boas dicas de leitura e de presentes literários. Incansável na batalha diária, transmite a alegria de viver e de ser abençoada pela vida que escolheu. Por isso, desta homenagem da Academia de Letras para a “Menina das Palavras”, Celina Motim!

COMO TUDO COMEÇOU...

Celina Motim é natural de Campinas. Ela conta que seus pais tinham vida itinerante, porque o pai era policial e vivia a ser transferido de cidade. Seu pai era de Jaboticabal e a mãe de São Tomás de Aquino, interior de São Paulo, mas se conheceram e casaram-se em Ribeirão Preto, local que viria a nascer a filha mais velha do casal; a Célia. Tempos depois mudaram-se para Campinas a ali nasceu Celina Motim. Dez meses após seu nascimento, o pai ingressou para a polícia. Foi quando a vida da família passou a

ser itinerante, antes dessa época, o pai era operário. Residiram em Campinas por cinco ou seis anos, ela não tem certeza. Dali mudaram-se para a cidade de Caconde. Nesta cidade nasceu seu irmão Celso, já falecido. Um ano e meio depois se mudaram para Santa Rosa do Viterbo, e nessa cidade nasceu seu outro irmão, o Cézar, que hoje reside em Santa Rita do Sapucaí. De lá, mais uma vez seguiram para outra cidade, desta feita, Tambaú, onde viveram por sete anos. Em Tambaú, nasceu sua irmã mais nova, a Suely. Foi também, nesta cidade, que as

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crianças conseguiram, enfim, terminar o Grupo Escolar. Posteriormente, mudaram-se para Aguaí, porém a irmã mais velha, Célia, permaneceu em Tambaú para terminar os estudos. Foi a única dos irmãos que conseguiu terminar o Ginásio nesse período. Mudaram-se para São João da Boa Vista em 1969. O pai continuou a ser transferido para outras cidades e isso gerou problemas tristes para a família. Ele passava muito tempo fora de casa. Surgiram outras mulheres em sua vida. Ele, segundo Celina, era um homem muito bonito, mas, infelizmente, irresponsável também, porque deixava faltar o básico dentro de casa, por conta de suas aventuras. A família chegou a passar necessidade. A mãe acabou adoecendo, de forma grave, devido a tanta tristeza. O corpo definhou, atrofiou. E, em 1973, quando moravam na Rua Antonina Junqueira, ela veio a falecer, com 44 anos. Por um ano e meio ela suportou essa consternação. Celina afirma com certa tristeza, que não chegaram a conhecer os parentes por parte da mãe. Nada sabem deles. Ficou sabendo apenas que após a mãe se casar, a família se distanciou dela.

E A VIDA CONTINUA... Mas a vida continua e Celina pode sentir

na alma outra dor, além da perda da mãe aos 17 anos. Contou que o pai voltou para o lar e, para a surpresa dos filhos mais velhos, colocou-os para fora de casa. Os dois mais jovens, o Cézar com 10 anos e a Suely com 8 anos, que por problemas de saúde tinha idade mental bem menor que essa, levou com ele. Seu irmão Celso foi acolhido por uma senhora que cuidou dele até que se casasse. Os irmãos eram muito apega-

dos e sempre que possível, ajudavam-se naquilo que podiam. Na verdade, ficaram totalmente desamparadas após a atitude do pai. E foi graças a força da irmã mais velha, a Célia, que seguiram em frente. Célia e Celina foram morar na Rua D. Pedro I, e neste local ficaram por vinte anos. Seu pai faleceu aos 61 anos e foi difícil perdoá-lo, mas hoje isso já está resolvido dentro dela. Conheceram a família do pai, mas também não têm contato com eles. A família são eles; os irmãos e os sobrinhos. Recentemente, mais uma perda se abateu sobre a família que foi a morte do irmão Celso, com o qual tinham um contato muito grande. Ela conta com tristeza que o Celso se foi, mas deixou dois sobrinhos que fazem parte integral de suas vidas. A irmã Célia continua sendo o esteio deles todos. Sempre brincando, afirma que ela é a mais centrada deles, que os outros, no qual se inclui, são mais desmiolados! Celina conseguiu terminar seus estudos e fez Faculdade de Administração na UNIFAE.

OS TRABALHOS...

Celina começou a trabalhar em 1970 em uma banca de jornal que pertencia ao senhor Genésio Pontóglio. Ali trabalhou até 1972. Depois, aceitando o convite do Sr. Nicolau, trabalhou numa Distribuidora de Revistas e Jornais, a Distribuidora São João, que pertencia ao senhor José Pires que funcionava onde hoje é a Letra Viva. Neste local Celina trabalhou por 14 anos. Quando Eloísa, filha de José Pires, chegou para tocar os negócios do pai, Celina compreendeu que era chegado o momento de ter seu próprio empreendimento. E foi dessa maneira que começou a Grafitte.

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Assim que a vida melhorou para as irmãs, elas foram buscar a mais nova, Suely, para morar com elas. Essa era a meta delas desde o começo quando foram separadas. A vida em banca de revista não é fácil, segundo Celina, que trabalha de domingo a domingo. Ela entende por que poucas pessoas aguentam isso... Quando lhe pergunto sobre a Biblioteca e o Sebo que um dia já teve, ela discorre sobre o ano de 1986, quando montou a primeira Biblioteca de Aluguel, aqui em São João. Essa Biblioteca tinha mais de 2.000 títulos, entre livros dela e os que conseguiu com amigos. Foi com a ajuda de Clovis Vieira, amigo de mais de 40 anos, e de sua irmã Célia que montou a Biblioteca. Alugavam os livros a R$0,35 ao dia. O amigo Clovis também ajudou na divulgação. Terminou com a Biblioteca por decepção ao se dar conta que algumas pessoas não devolviam os livros. Sentiu-se desestimulada quando notou que havia perdido mais de 100 exemplares. Num impulso, colocou preço em todos os livros restantes. Criou novamente um Sebo e os vendeu. Digo “novamente”, porque foi a Celina quem teve o primeiro Sebo de São João, já que quando começou, vendia revistas e livros usados na Grafitte, isso antes

de começar a colocar as novas revistas. A Biblioteca lhe deu muito prazer, mas não faria novamente. Relata que está feliz com o que conseguiu até aqui. Nada mais a inventar, nem mesmo a sugestão de alguns clientes para que coloque um café ali na Grafitte. Não tenho espaço, afirma, como se quisesse colocar um ponto final. Está na hora de procurar por tranquilidade, (pelos anos diários de labuta), parece querer dizer-me. Autores renomados? Celina afirma que nunca conheceu nenhum dos que vende, só outro tipo de artista e, claro, os escritores daqui de São João, dos quais muitos são seus amigos.

SER HISTÓRIA...

Quando lhe pergunto como se sente em fazer parte da história de São João, ela não demora a responder que é muito gostoso e gratificante ser conhecida, porque tem pessoas que encontra na rua que a fazem se perguntar há quantos anos se conhecem. Afirma que hoje já atende a terceira geração de clientes. - Tem gente que está comigo na Grafitte desde que comecei, ele conta isso com um grande sorriso de satisfação. Tem

gente que vem, invariavelmente, uma vez por semana buscar o jornal, diz ela, afirmando a fidelidade de seu cliente, como que querendo dizer do vínculo de carinho e amizade. Mais uma vez sorri, sentindo-se privilegiada por ter escolhido ser jornaleira. Há 28 anos à frente da Grafitte, num total de 42 anos trabalhando com a palavra escrita, diz que não saberia fazer outra coisa, pois ama o que faz.

A ERA DIGITAL...

Para ela, é preocupante a era digital, para o negócio em que trabalha, porque muitas das pessoas que compravam, hoje pegam na internet, às vezes, até de graça. Para a nossa faixa etária, na qual me incluo, ainda se vende, pois são pessoas que gostam dos livros nas mãos, gostam de cheirá-los. Mas para os mais jovens, é preocupante o rumo da venda de livros. Eles quase não compram, raras exceções.

A ARTE EM SÃO JOÃO...

Pergunto-lhe, por ser apoiadora da arte, no geral, como ela vê esse movimento em nossa cidade. Celina diz que participa menos do que gostaria, mas divulga eventos e vende ingressos. Ela acha

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que em São João há muito pra se ver e participar. Ressalta os eventos no Theatro, na Academia de Letras e na Praça Joaquim José. Afirma que as pessoas deveriam se interessar mais por tudo o que é oferecido por aqui. Ela fala dela mesma, que participa pouco por timidez em aparecer nos locais. Faz questão de frisar o valor que dá para as pessoas que fazem a arte acontecer, porque conhece o tamanho da batalha de cada um e o quanto é difícil se fazer cultura por aqui. Cita os nomes de Zeza e o pessoal do CENA IV e o meu, Sílvia Ferranti, resistindo, bravamente, há anos. E tudo por amor à arte, pois se fosse para ganhar dinheiro... Eu fujo do assunto, pois não pretendia ser citada, afinal aqui sou apenas a entrevistadora, e pergunto-lhe da palavra que mais gosta dentro da língua portuguesa. Ela afirma que a primeira palavra que lhe vem à cabeça é “amor”, porque gosta de ouvi-la.

VIAGENS...

Quero saber das viagens que fez. Ela suspira e cita a primeira viagem internacional, que fez para realizar um sonho adolescente. Foi para a Espanha, por causa dos romances de bolso que lia, o Corin Telado, onde todas as história se passavam na Espanha. Tudo porque era mocinha, romântica e existia o príncipe encantado. Essa viagem foi realizada em 1988. Ela fez alguns amigos por lá, com os quais se corresponde até hoje. Infelizmente para a Espanha nunca mais voltou. O sonho infantil foi realizado com a segunda viagem internacional. Foi para a Disney. Emocionou-se muito. Achou tudo deslumbrante naquele lugar. Ria e chorava ao mesmo tempo, pelo poder mágico que o local exerce. Era o ano de 1991. Esclarece que todas as viagens que faz

são especiais, mas essas duas marcaram-na muito.

ARTISTAS DA NOSSA TERRA... Pedi que nos contasse qual artista de

São João que admira e por quê? Claro que ela só poderia me dizer que nossa terra tem muitos artistas para se admirar, mas, pela segunda vez durante a entrevista, citou meu nome por me achar eclética. Disse que sou admirável porque faço de tudo, disse que sou “completa”, segundo sua visão, porque canto, escrevo, fotografo e tudo muito bem, segundo sua ótica. Peço a ela que pare de rasgar sedas! Ela então finaliza dizendo que haja fôlego para uma só mulher, que sou mesmo muito atrevida! Desculpem-me leitores, mas como poderia eu corromper a entrevista? Fui fiel ao transcrever o que foi gravado. Nesse momento em que passo para o papel a entrevista, quem sorri sou eu e, obviamente, agradeço o carinho que a Celina tem por minha pessoa, como artista. Ela não deixou de citar o amigo Clovis Vieira, novamente, dizendo que para ela, ele também está no rol dos grandes artistas dessa terra, e que o admira muito.

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“Afirma que hoje já atende a ter-

ceira geração de clientes. - Tem gente que está comigo na Grafitte desde que comecei, ela conta isso com um grande sorriso de satisfação. ”

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PARA ENCERRAR, UM BATE E VOLTA...

Um sonho: - Já realizei quase todos, mas gostaria de continuar vivendo, para ver meus sobrinhos encaminhados. Um lugar: - Sem contar São João, que eu gosto muito, vou falar que eu gostaria de ficar por um tempo na França. Uma saudade: - Meu irmão Celso. Um sabor: - De comida caseira mesmo, as coisas que a Célia faz pra gente de domingo... Uma imagem: - Minha mãe. Uma cor: - Azul. Um momento especial: - É quando estou com a minha família mesmo. Uma emoção: - Eu me emociono a toa. Emociono-me escutando o Hino Nacional e coisas assim. Sou bem emotiva mesmo. Um livro: - Difícil, pois já li muita coisa. Gosto muito de romances. Gosto das coisas do Sidney Sheldon, a série toda do Harry Potter. E todos os do Monteiro Lobato e José Mauro de Vasconcelos. O Monteiro Lobato é uma paixão, ainda leio sempre que posso. (Conto para Celina que Monteiro Lobato se inspirou na nossa Guiomar Novaes para criar a sua Narizinho. Ela fica surpresa em saber!) O pensamento que guia sua vida: - “Hoje é um dia maravilhoso recebo todas as bênçãos divinas”. Falo isso todos os dias da minha vida. Sinto-me feliz por isso! Texto:

Silvia Ferrante

Cadeira 9 Patrono Raul de Leoni

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Quem assistiu ao filme "O Último Imperador" deve estar familiarizado com o cenário. É o Museu do Palácio Imperial, conhecido no mundo todo como A Cidade Proibida. Cercada por altos muros, é uma verdadeira cidade, com centenas de palácios, localizados em meio a jardins maravilhosos, rios e córregos que os serpenteiam.

Luz

Foto e Texto:

Francisco de Assis Carvalho Arten Cadeira 10 Patrono Darcy Ribeiro 12 | ARCA

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uzGrafia

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JORGE LUÍS BORGES

E O PROBLEMA DO TEMPO Jorge Luís Borges, genial escritor latino-americano, nasceu em Buenos Aires, sendo considerado um escritor cosmopolita e um dos maiores do século XX. Sua mensagem é universal, seus escritos, até mesmo o mais cotidiano de seus temas, além de nos fazer pensar de maneiras várias, de ver o mundo com outros olhos, de refletir de modo diverso e às vezes até inverso, intriga-nos e encanta-nos. O seu livro “Cinco Visões Pessoais” é a transcrição de uma série de palestras que fez em 1978, na Universidade de Belgrano, em Buenos Aires. Escolheu os temas de acordo com suas vivências mais intensas e mais reflexivas:- “O Livro”, “A Imortalidade”, ”Emmanuel Swedenborg, o Visionário”, “O Conto Policial” e “O Tempo”. A mim, também, esse último tema sempre intrigou: o tempo e seu passar, suas implicações, desdobramentos, sua objetividade tão subjetiva, sua concretude profundamente abstrata. O tempo, essencialmente paradoxal, que “leva-nos”, simplesmente “leva-nos”, e as questões que surgem desta constatação:

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Crítica Literária

- Para onde? Até quando? Por quê? Como é ele? O que significa esta figura de imaginação representada pelo “levar-nos”? E as perguntas sucedem-se, às vezes sem respostas, às vezes com respostas dúbias, dogmáticas, céticas, metafísicas ou mesmo niilistas. Mas vamos às considerações de Borges, pois para ele “o tempo é um problema essencial, não podemos prescindir dele. Podemos prescindir do espaço, mas não do tempo. Nossa consciência está continuamente passando de um estado a outro, e isto é o tempo: uma sucessão”. Diz, ainda, que somos “rostos trabalhados pelo tempo, e que ele é um paciente labirinto de linhas, que traça a imagem de nosso rosto”. Em suas indagações cita Henri Bergson que afirma: “o tempo é o problema capital da metafísica. Resolvido esse problema, ter-se-ia resolvido tudo” e conclui Borges dizendo que felizmente não há nenhum perigo de que ele se resolva, e que sempre seremos capazes de dizer como Santo Agostinho:- “O que é o tempo? Se não me perguntam, eu sei. Se me perguntam, eu ignoro.” É interessante quando Borges diz “felizmente não há o perigo de descobrirmos o que é o tempo”. Este “felizmente” faz-me lembrar uma outra declaração sua:- “Se Deus declarasse que tinha na mão direita a verdade e na esquerda a

investigação da verdade, eu escolheria a mão esquerda. Isto porque a procura permite infinitas hipóteses e a verdade apenas uma e isto não agrada ao intelecto. O intelecto necessita de curiosidade e de desafios. A dúvida é o dom mais precioso de todos”. As afirmações que “felizmente o problema do tempo não pode ser resolvido e que prefere a investigação da verdade e não a verdade em si”, faz-nos conhecer um Borges submerso em indagações, questionamentos, procuras, investigações, porém emergindo sempre de seus próprios pensamentos e trazendo, junto a ele, uma plêiade de pensadores, intelectuais e filósofos numa verdadeira e enriquecedora simbiose. Nessa sua palestra diz ainda que vários pensadores tentaram solucionar o problema do tempo e, entre outros, cita: Platão, Plotino, Santo Agostinho, Newton, trazendo-nos a idéia de como o tempo foi pensado através da história. Em certo momento, cita o poeta Tennyson ”o tempo corre no meio da noite”. A partir deste verso, ele concebe uma bela imagem: “é uma idéia muito poética a de que enquanto dormimos, o silencioso rio do tempo corre nos campos, pelo espaço, flui entre os astros.” Em outro momento continua ele:- “sentimos que estamos deslizando pelo tempo, ou seja, podemos pensar que passamos do futuro

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ao passado, ou do passado ao futuro, mas não há um momento em que possamos dizer ao tempo:- “Pára! És tão belo...” como queria Göethe. O presente não se detém”. Borges termina a palestra dizendo; “O problema do tempo nos afeta mais que os outros problemas metafísicos. Porque os outros são abstratos. O tempo é o nosso problema. Talvez o solucionemos algum dia. Talvez não. Neste meio tempo, entretanto, como dizia Santo Agostinho: “minha alma arde, porque quero saber”.

Texto:

Maria Célia de Campos Marcondes

Cadeira 11 Patrono Machado de Assis

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Foto:ARCA Silvia Ferrante | 17

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São João à Vista O Povo Sanjoanense e a Revolução de 32 Com o início da Revolução Constitucionalista, em 09 de julho de 1932, a cidade de São João sentiu-se ameaçada pelos soldados da tropa de Getúlio Vargas, os inimigos ditatoriais, que se concentravam em Poços de Caldas. Voluntários sanjoanenses sentiam-se obrigados a defender, não só então a causa constitucionalista, mas também a cidade e suas famílias, já que essa fazia fronteira com a cidade mineira. A principal fonte de notícias era o rádio e quando os são-joanenses ouviram que os inimigos desciam em direção à Cascata não tiveram mais sossego. Com uma guerra tão próxima fisicamente, ninguém mais cuidou de seus afazeres, não tinham outras ideias que não fossem relacionadas a Revolução. Famílias inteiras passavam o dia em frente ao Grupo Escolar Joaquim José, em busca de notícias. Queriam saber para onde iriam seus entes queridos e tinham medo, muito medo. A cada caminhão carregado de víveres ou de soldados que cruzavam a cidade em disparada, aumentava a tensão dos sanjoanenses. Viveram aqueles dias como se estivessem assistindo a um filme de terror. No dia em que a cidade recebeu um caminhão carregado de armas encontradas nos porões da cadeia de São Carlos e o batalhão recebeu ordens de subir a serra até a Cascata, seus habitantes agruparam-se na Praça Joaquim José para verem a partida dos soldados. Mães choravam ao ver seus filhos partirem para a guerra... Num ritmo cadenciado e solene, os sol-

dados desceram as escadarias do Grupo Escolar em direção aos caminhões que os aguardavam. Lá da praça, dava para ouvir os passos dos soldados. O desespero tomou conta da população, que lotava a frente da escola, agora transformada em quartel. Após a partida rápida, um silêncio abateu-se sobre a multidão, incrédula ao que presenciava. Sobre todos pairava o desejo de defender São Paulo, defender sua terra e a democracia. Em meio a esse tumulto, levado pela emoção do momento, o advogado e escritor, poeta e acadêmico Dr. Emílio Lansac Tôha escreveu para o jornal “O Município” em 16/07/32: “VAMOS, SÃO PAULO ...Amanhã é possível que não sorria o mesmo céu azul que nos convida, límpido e belo, como grandioso e puro que é o motivo da arrancada paulista; amanhã é possível que não cintile no firmamento de nosso torrão amado o mesmo sol benfazejo e quente que se abriu para os dias lindos e cheios desta Revolução sem par.” Em 27/07/32, Dr. Emílio Lansac Tôha voltou a escrever neste mesmo jornal: “SÃO PAULO VENCERÁ São Paulo vencerá, não haja dúvida, na gloriosa cruzada que esposou. E vencerá, pelo seu espírito de entusiasmo na luta, pela sua coesão, pela uni¬dade de pensamento e, sobretudo, pela legitimidade da causa que defende. ...Mas, sobre toda essa tragédia singular, paira, ainda integral, o sagrado pendão da Pátria Brasileira; e São Paulo tem o dever de elevá-lo tão alto que o zéfiro da dignidade o desfralde, sereno e puro, para a contemplação embevecida, respeitosa, do Uni¬verso civilizado”.

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Durante três meses aconteceram muitas batalhas, com muitos feridos e mortos. O batalhão comandado por Romão Gomes guerreou com afinco. A primeira batalha aconteceu na Cascata e depois as tropas seguiram para Santo Antônio do Jardim. Foi na saída dos soldados aquartelados na Fazenda Paulicéia que a professora primária Maria Sguassábia juntou-se aos soldados. Um deles era seu irmão Antônio. Dali foram para a Lagoa Branca, Vargem Grande do Sul e depois São Sebastião da Grama, onde aconteceu a mais violenta e sangrenta batalha. Quando passaram pelo Bairro do Pedregulho, Maria Sguassábia teve a audácia de prender um comandante mineiro. Por essa conquista, Maria foi promovida a cabo. Em 19 de agosto de 1932, a cidade de São João da Boa Vista caiu em mãos dos inimigos, os soldados de Getúlio Vargas. Assumiu o cargo de prefeito militar o capitão Mário de Souza Vieira, do Exército Nacional. A cidade estava com aparência tristonha. Muitas casas foram fechadas. São João estava em polvorosa com a notícia de ter caído em mãos dos inimigos. Soldados abandonavam a cidade dentro de caminhões e pelos trens de ferro. Dirigiam-se, às pressas, rumo à estação de trem. Pessoas iam e vinham, desnorteadas e família inteiras fugiram em direção a zona rural. No semblante dos que ficaram dava para perceber indecisão e apreensão. Alguns saíram correndo pela noite fria de inverno, querendo fugir do perigo iminente. A cidade estava repleta de gente e dava a impressão que ia ficar deserta, abandonada para sempre nas mãos dos inimigos. Após vinte dias, São João foi retomada pelos constitucionalistas, num brilhante feito de nossos soldados. Nessa operação de guerra, os soldados paulistas apreenderam muita munição, várias metralhadoras pesadas, fuzis etc.

Além de efetuar muitas prisões de soldados do exército inimigo. Assim que correu a notícia da retomada de São João, o povo correu para as ruas num sinal de contentamento. Vaiavam os soldados inimigos, que estavam dentro dos caminhões que partiam velozes em direção a Poços de Caldas. Um grupo de pessoas, chefiada por João Lühmann, Secretário da Prefeitura, soltou os presos políticos da cadeia local. Ainda não havia sido completada a retirada dos inimigos e o primeiro caminhão da Coluna Romão Gomes e os seus soldados surgiram lá no bairro da Pratinha. Passaram pela Praça Bento Gonçalves, subiram pela Rua Saldanha Marinho, acompanhados por uma multidão de sanjoanenses, que gritavam de alegria. Desceram dos caminhões soldados barbudos e com rostos quase irreconhecíveis, juntaram-se à multidão. Muitos choravam e abraçavam seus familiares. O reencontro foi emocionante. Um fato interessante, que nos mostra o preconceito contra as mulheres na Revolução, foi a punição que recebeu a soldado Maria Sguassábia, conforme escreveu o advogado e acadêmico José Osório de Oliveira Azevedo, em seu livro “História Administrativa e Política de São João da Boa Vista”: “Durante vinte dias a cidade ficou em mãos dos ditatoriais. E num ato que chocou a população sanjoanense, o prefeito militar publicou no jornal “O Município”, a Resolução nº 3, com o seguinte teor: “Considerando a situação anormal que atravessa o país. Considerando que é público e notório o papel saliente que desempenhou a Sra. Maria Sguassábia, professora municipal, chegando mesmo a vestir farda. Considerando que tal fato não permite neste momento que

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esta professora continue no exercício de seu cargo, resolve afastar, do cargo de professora municipal, a precitada senhora Dona Maria Stela Sguassábia.” Assim, com esta resolução publicada, nossa heroína nunca mais retornou a uma sala de aula, como professora.

Texto:

Neusa Maria Soares de Menezes

Cadeira 30 Patrono Euclydes da Cunha

O “Sete Orelhas” Dentro da historiografia de São João da Boa Vista, há um texto onde o seu articulista escreveu que temia que se atribuísse a fundação desta cidade ao facínora Sete Orelhas. Este apelido foi atribuído a Januário Garcia Leal, por ter assassinado sete pessoas e mais: cortou uma orelha de cada um, perfazendo sete, guardando-as em um cordão. A família Garcia Leal é de origem portuguesa. Os primeiros desta família vieram dos Açores, durante o século XVIII. Aqui, no Brasil, na capitania de São Paulo, ramificaram. Foram bandeirantes aparentados com Fernão Dias Paes e chegaram até o Triângulo Mineiro. Consegui, em Mogi Mirim, textos sobre os Garcia Leal, pois faziam parte da família Ulhôa Cintra, portanto, do Barão de Jaguará. Penetraram no interior de São Paulo, pela Estrada da Boiada ou dos Goiases e foram donos de uma grande Sesmaria. Os casais dessa família costumavam ter muitos filhos e, por herança, essas imensas terras foram sendo divididas. Uma destas divisões, perto de São João da Boa Vista, começava no Itupeva (Aguaí) e ia até às fronteiras mineiras, passando pela fazenda Casa Branca. A vizinha cidade de Vargem Grande do Sul (Santana do Rio Verde) surgiu em terras doadas por José Garcia Leal. Em 1824, Garcia Leal é listado entre os primeiros que habitavam próximos da posse de Antônio Machado e da gleba que seria doada para o patrimônio religioso, onde surgiria São João da Boa Vista. O nome Garcia Leal sempre se repete no decorrer da história sanjoanense: são filhos, netos e bisnetos, participando da vida política

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local. A Lagoa Formosa sempre foi uma fazenda preferida dos Garcia Leal, entre as outras que possuíam. Januário Garcia Leal, o “Sete Orelhas,” pertencia a uma família de nove irmãos, sendo um deles José Garcia Leal. Este era Capitão-Mor e, como acontecia naqueles anos iniciais do século XIX (1801), com seu prestígio e conquistas de mais terras, ganhou inimigos terríveis, que geraram ódio e morte. Sete irmãos de uma determinada família vizinha, principalmente, tinham por ele ódio violento, cruel e bárbaro! Não podemos dar os nomes, pois deixaram descendentes nestas paragens. Não queremos estigmatizar famílias da região. Os crimes do passado pertencem ao passado. Após vacilações, os sete indivíduos determinaram o assassinato do Guarda-Mor José Garcia Leal. Esperaram-no, em uma manhã de sol, à beira da estrada em que sabiam que ele iria certamente passar, de retorno de sua fazenda. Apanhado de surpresa, José Garcia Leal não teve como se defender. Os assassinos deixaram-no completamente nu e, dos pés à cabeça, esfolaram-no vivo. Depois do suplício, amarram-no, ainda vivo, no tronco de uma figueira, ao lado da estrada. Mais de um dia se passava sobre o acontecimento, quando preocupado com sua demora, Januário Garcia Leal, seu irmão, o encontrou quase morto. Ouviu, ainda, de seus lábios já arroxeados, o nome dos assassinos. Quando Januário desamarrou seu irmão, percebeu que iria levar de volta apenas o seu cadáver. José Garcia Leal era muito estimado e esse crime bárbaro levantou protestos de horror e de vingança, entre todos os que o conheciam. Januário tomou a si, inteiramente, a vingança, declarando-a publicamente, dizendo

que traria uma orelha de cada assassino, salgadas e num cordão, como prova de revanche e resposta ao bárbaro assassinato. Januário Garcia Leal era grande atirador e decidido. Levou dez anos atrás dos matadores de seu irmão, tendo liquidado o último no Rio Grande do Sul, quando já desanimava de encontrá-lo. E, firme no propósito, enfiou a sétima orelha no cordão e trouxe esta fieira de volta à terra natal. Daí ter vindo o seu apelido de “O Sete Orelhas”. Concluindo, chegamos a ficar horrorizados com este episódio histórico! Podemos dizer, porém, que Januário Garcia Leal não foi um facínora, mas, sim, um vingador. Estes eram tempos em que a justiça não chegava ligeira e sem privilégios, ao longo da estrada e caminhos, que cortavam as terras de aventureiros e posseiros de áreas, que “o sem dono” lhes deu.

Texto:

João Baptista Scannapieco

Cadeira 17 Patrono Francisco Paschoal

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Academia em Revista O culto à palavra, a reverência ao bom verbo, a difusão da escrita. Nobres razões para a existência de uma Confraria de Letras. Articulados e idealistas, Octávio da Silva Bastos e Milton Duarte Segurado, depois de propósitos brotados num colóquio informal, conceberam na primavera de 1971 a Academia de Letras de São João da Boa Vista. Culto, respeitado e aglutinador, o então bispo diocesano, Dom Tomás Vaquero, foi o nome de consenso para presidir as três primeiras gestões da Arcádia sanjonense. Sereno sem deixar de ser firme, seu comando no grupo literário foi marcado pela consolidação da instituição na sociedade organizada desta urbe tão luminosamente localizada, tão crepuscularmente sedutora. Dotado de fala eloquente, orador apaixonado, Octávio Pereira Leite sucedeu Dom Tomás também por três períodos consecutivos. Zeloso do papel institucional da Academia, cumpriu com brilho a missão de gerir a associação de letrados. Causídico de ofício e lírico por vocação, Wildes Antonio Bruscato usou seu 22 | ARCA

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sólido saber jurídico para propor e efetivar essenciais alterações no Estatuto. Seu triênio na condução trouxe notas melódicas à Casa, pois o confrade, entusiasta da música, foi um dos fundadores do Coral Vozes de São João da Boa Vista. O médico, que também vigiava a saúde do léxico, José Edgar Simon Alonso substitui Wildes no mandato seguinte, mas faleceu precocemente antes de concluir sua administração. Maria Célia de Campos Marcondes, 2ª vice-presidente, assumiu o manche da aeronave dos eruditos mantiqueiros. Maria Aparecida Pimentel Mangeon Oliveira, a Aparecidinha, educadora com inequívoca inclinação às artes, foi a gestora que imprimiu nos anos seguintes um modelo com ardoroso respeito ao protocolo nas cerimônias da Academia. Nos seus inúmeros e históricos discursos, ela sempre ressaltava a importância de cultura na formação da cidadania. O advogado forjado na lendária São Francisco, Sérgio Ayrton Meirelles de Oliveira, com o falecimento da confreira Aparecidinha, geriu até o fim o triênio 2005/2007.

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Proseador cheio de estilo, ele assim aclamou seus pares por ocasião do lançamento da 2ª Antologia: “Os acadêmicos são expertos nas técnicas literárias, cultos nas veredas da língua portuguesa e dotados de criatividade imprescindível”. Culta, líder e fervorosa defensora das tradições da Academia, Maria Célia de Campos Marcondes foi novamente uma realizadora presidente nos anos 2008/09/10 e, entre diversos feitos e eventos notáveis, inseriu a instituição na rede mundial de computadores. Ganhamos, finalmente, o nosso sítio virtual. O mandato seguinte foi dirigido pelo jornalista, professor e então vereador, Francisco de Assis Carvalho Arten. Reformas importantes carimbaram o comando dele na Arcádia: a modernização do Estatuto e a remodelação da sede. Sua habilidade política foi fundamental nestas conquistas. Lucelena Maia, irrequieta, é a atual presidente e faz uma gestão ambiciosa no empreender em prol das letras. Tomou

posse já fincando uma dinâmica agenda de acontecimentos. Até o fim de 2014 o calendário é permeado por efemérides mensais. Este primeiro número da ARCA é um dos compromissos cumpridos da atual diretoria. Nesta província de relevos geográficos insinuantes, a serra inspira e o crepúsculo abençoa. Em 42 anos de poucas turbulências e muitos êxitos, a Academia prestou, em incontáveis e nas mais diversas formas de homenagem ao idioma, inestimáveis serviços ao fomento da riqueza cultural da cidade. Pela preservação das espécies, Noé abarcou muitos bichos na sua arca. Aqui nesta ARCA vocabular a PLURALIDADE de estilos é de outra natureza, mas o respeito a ela é o mesmo. Habemus revista! Texto:

Lauro Augusto Bittencourt Borges

Cadeira 20 Patrono Castro Alves

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LuzGrafia Elegia ...Os extremos os mais agudos cumes da tensão viva amor - criação viva agora par tidos luz e lira inertes. ...

Orides Fontela Foto::

Silvia Ferrante ARCA | 25

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ARCADIANAS O PASSADO SE REFAZ

Chegar à Estação da Luz, patrimônio histórico de São Paulo do Século XIX, é uma ótima oportunidade de conhecer uma das arquiteturas mais interessantes de nosso país, principalmente, se for um dia de feriado e escassez de transeuntes. Possibilitará entrecortar o interior dela com olhar apreciador, mas, ficará ainda mais interessante, se o passeio possibilitar isso aos olhos de um entusiasta que vivenciou dela os idos anos 70. Este adulto em questão, criança há quarenta anos, poderá enxergar-se de mãos dadas com os pais, a observar deles a outra mão segurando uma mala marrom, pela alça, sem imaginar que, um dia, elas viriam a ter rodinhas e que seriam, até mesmo, coloridas. Com olhos de outrora, poderá através dos trilhos da plataforma, reformados no ano de 2004 quando a estação foi restaurada, também na arquitetura, viajar no tempo por infinitas horas, vendo-se dentro de um dos trens, porque eles chegavam e partiam numa frequência muito maior que hoje, para cidades que na atualidade já não recebem comboio de carros sobre trilhos porque a malha ferroviária deixou de ser utilizada quando deu lugar às rodovias e aos aeroportos. O resgate da história, a Estação da Luz, guardados na mala da infância, serviriam de elo para um outro compromisso. Seu destino desta vez poderia ser, também, o Museu da Língua Portuguesa que, na sua meninice, não existia. Siga em frente, diz a placa.

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Chegando ao museu e, após pagar um valor quase simbólico, se torna visitante, convidado a seguir para os elevadores de acesso. Eles são espaços expositivos, que permitem uma visão total da escultura “Árvore de Palavras”, criada por Rafic Farah. Além de, no interior deles, se ouvir uma espécie de mantra, composto por Arnaldo Antunes, que repete as palavras “língua” e “palavra” em vários idiomas. No segundo andar, painéis mostram um pouco da história do edifício-sede da Estação da Luz e os trabalhos de restauro; a Linha do Tempo com recursos interativos onde o visitante pode conhecer melhor a história da Língua Portuguesa; o Beco das Palavras, com jogo etimológico, que permite brincar com a criação das palavras, conhecendo suas origens e significados, entre outras curiosidades. No auditório, no terceiro andar, um filme de dez minutos projeta para a plateia as origens

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da Paixão será possível dizer “Aleluia” para o resgate de sua história e também para o sábado que se aproxima rapidamente. Texto:

Lucelena Maia

Cadeira 13 Patrono Humberto de Campos

da Língua Portuguesa falada no Brasil. Na Praça da Língua, espécie de “planetário da língua” composto por imagens projetadas e áudio; palavras, frases e poemas são oferecidos de forma lúdica. Impossível ficar ali sem se jogar de alma nesse mundo mágico. A curadoria da Praça é de José Miguel Wisnik e Arthur Nestrovski. O primeiro andar reserva-se a exposições temporárias. O relógio, pontualmente às 18h, informa que o Museu será fechado. Impossível não sentir que do Museu se sairá um pouco mais culto; da Estação, nostálgico. Retornar para casa aconteceria da mesma forma como nos filmes de antigamente, em que para voltar a fita VHS, ao final, bastava apertar um botão e observar todo o filme retroceder ao seu início. Se nesse dia de feriado for Sexta-Feira

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Estrôncio Texto:

Luiz Antônio Spada

Cadeira: 28 Patrono Guilherme de Almeida Pouco sei sobre ele, porém, é o suficiente para dizer que era um ser especial... Nasceu em Riacho dos Machados, Minas Gerais, mas nem ele sabia a data... De seu pai guardava apenas a alcunha de “O Mouro”, um marchante de poucas palavras e muitos chicotes; porém, de Maria Assumpção, meiga costureira portuguesa, de fartos cabelos cheirosos e atitudes justas, conservava bem mais que a imagem de mãe. Passava horas observando as ações meticulosas daquela mulher, resignada com a vida típica dos miseráveis de muitos filhos e poucos prazeres; e era esta atitude que edificava em João Estrôncio o hábito de examinar minuciosamente as plantas e os insetos. Ficava dias inteiros metido entre as matas que circundavam o povoado. Tinha tantos hábitos distintos dos outros irmãos, como de outras crianças, que a mãe não insistia que fosse para escola, com medo que judiassem dele. Aos poucos aumentava o temor de Maria pelo seu futuro; ele cada vez mais parecido com o pai nas palavras reticentes, e no entanto era o oposto no trato com as coisas do comércio e da sobrevivência. Deixava facilmente ser passado para trás; era indiferente em ser o último ao nada. Cresceu ajudando-a nos afazeres domésticos sem se importar com o escárnio dos outros. Todos os irmãos casaram-se e partiram, ele manteve-se no mesmo quarto. No entanto, corria pelo povoado a notícia que era pai não

assumido; atribuíam-lhe todos os bastardos. Frente ao olhar severo da mãe, apenas ria silenciosamente sem sacramentar qualquer verdade. Uma transformação substancial ocorreu em sua vida quando aos poucos foi tratando alguns vizinhos com ervas trazidas da mata. Os acertos foram paulatinamente proliferando sua fama de curandeiro de poucas palavras e questionamentos certeiros, atingindo distâncias infindas. Sua atitude não lhe rendia grandes frutos financeiros, até talvez, apenas dissabores ao adiar certos afazeres domésticos e passar o resto do dia ouvindo injúrias da própria mãe, mas mantinha-se calado. Porém, nada registrava por escrito, já que continuava ou insistia em ser semi-analfabeto. Rejeitava, e isso eu mesmo pude constatar em conversas pessoais na cadeia, qualquer conhecimento de cultura formal, tradicional, ministrado pelas escolas. Considerava as informações supérfluas e inúteis para a realidade do dia a dia. Como o número de consultas aumentava assustadoramente, surgiu o infortúnio. Denunciaram-no às autoridades sanitárias. No inverno de ... levaram-no preso como charlatão, chegando a afirmarem que comercializava cogumelos alucinógenos. Fato que ele não contestou, já que em alguns casos considerava-os eficazes para certos tipos de doenças identificadas como incorporações satânicas pelo povoado. Semi-analfabeto não pleiteou justiça. Amargou anos em celas distantes e ainda preso, soube da morte da mãe. Somente com a hecatombe nuclear de ... foi libertado. Todos os criminosos o foram; não havia como ou quem sustentá-los.

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Tentou retornar, mas com dificuldade achou a trilha. O sol e a lua rompiam as trevas de seu caminho, nada mais de artifícios humanos. Não escutou mais canções pelos caminhos, apenas gemidos e gritos alucinados. Poucos edifícios lembravam facetas de um passado soberbo. Os pássaros ou animais restantes, serviam de alimento à população abatida. E aqui entra um detalhe. O pior é que a maioria não identificava os vegetais comestíveis e envenenava-se. Passaram a entreolharem-se assustadoramente. Quando chegou a Riacho dos Machados, com o rosto desfigurado pelas surras e outros maltratos e encoberto pela espessa barba, não foi reconhecido de imediato. Isso deu-lhe um breve sossego, possibilitando visitar o túmulo de sua mãe. Nada restara de sua antiga casa ou mesmo do povoado. Ruínas. Poucas pessoas perambulavam pelas vielas; outras escondidas entre os escombros, vigiavam temerosamente pelas frestas os estranhos. Devia ser próximo ao meio dia quando encontrei-o deitado sobre uma porta tombada. Reconheceu-me e sorriu amistosamente. Perguntou-me sobre o motivo de tê-lo seguido até ali. Expliquei-lhe que nada restara da minha cidade do sul. Soubera que fora atingida violentamente e apenas uma imensa cratera radioativa constava no mapa. Restou-me buscar o seu socorro, como tantas outras vezes me fornecera na prisão. Talvez muitos não saibam, mas ele era o grande curandeiro dos detentos. Como companheiro de sela, e não interessa saber como fui parar lá, divagávamos noite adentro. Fornecia-lhe a beleza dos poemas de Pessoa e de Borges e ele contava-me de forma simples sua interação com a natureza. De que valia ou vale toda a minha cultura, meu conhecimento cibernético e erudito, frente a esta realidade inóspita. Também como a maioria, sei distinguir um alimento apenas nas

prateleiras dos supermercados. Jamais plantei algo; e o pior, como fui um péssimo escoteiro, nem fogo sei executar, por mais que tentei esfregar os pauzinhos...coisa que não faltava pelo caminho. Chore! Vergonhosamente, como uma criança abandonada, sem rumo, sem vislumbrar qualquer horizonte de esperança. Acolheu-me como um irmão mais velho. Já comeu alguma coisa ? perguntou, interrompendo meus soluços, preocupando-se de forma sincera. Fomos até a mata que tanto vangloriava conhecer. Apesar de combalida, ainda resistiram muitas ervas. Mostrou-me as comestíveis. Amargas ou azedas eram as únicas que naquele momento me saciariam. Voltamos ao povoado. Ele procurou reencontrar os conhecidos e dando um sentido novo até a minha própria vida, propôs organizarmos a sobrevivência do povoado; ajudar os órfãos e os feridos. Concordei de imediato e lá fomos. Não demoraram para reconhecerem-no. Muitos chegaram até recordar dos seus prodígios e refizeram-lhe seus agradecimentos. Também não sei quanto tempo levou, já que nada era mais relevante, e muito menos a questão tempo...para que reconstruíssemos uma arremedo de povoado. Éramos sessenta e seis homens, vinte sete deles velhos e o restante jovens, quarenta e nove mulheres, trinta e duas jovens. Crianças que resistiram foram apenas oito delas... Entre olhares de espanto e agradecimento iniciamos um processo organizado de coleta de alimentos ainda disponíveis, reorganizamos a vila que paulatinamente ia se configurando como uma grande aldeia. Mas... Hoje escondido nas fendas deste prédio, conto-lhe o que vi. Terror. Terror. Nem nas maiores catástrofes nos transformamos em seres solidários... Passado algum tempo, percebi-o taciturno e preocupado. Expressava um olhar que desconhecia. Indagado, respondeu temer pelo

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futuro próximo. Não o compreendia naquele momento, já que todos o respeitavam e aceitavam o seu comando na organização e distribuição dos alimentos. Estrôncio levou-me para a mata que circundava, onde fazíamos as explorações. Mostrou-me aturdido que a vegetação não se recuperava como deveria; as árvores frutíferas estavam irregulares, suas flores não produziam pólens ou não existiam os insetos que as fecundassem...Faltará em breve até o essencial. Sua previsão estava correta. Em pouco tempo quase nada restara para uma subsistência; vozes iniciaram as insinuações de que estávamos escondendo, simulando, enganando-as. Estrôncio respondia apenas com seu olhar tristonho. Eu sim, mais exaltado e enojado com aquelas poucas almas, respondia vociferando palavras que mal me recordo. A fome nos transtornava a todos. Percebi que alguns conspiravam contra nós, temi por nossas vidas. Quando lhe demonstrei meu temor, respondeu-me - Ir para onde? Não existe mais lugar para nós. Acordei assustado com passos que tropeçavam entre as pedras, próximo ao sítio onde nos acolhíamos. Pensei de início que fosse algum animal ainda livre, mas eram eles que armados de paus e pedras atacaram ferozmente Estrôncio que impassível absorvia os golpes. Hoje sinto-me um covarde, mas não consegui reagir naquele momento para defendê-lo. Era porém este meu ato que ele desejava, a inação. Quando voltaram-se para mim, saltei como fera sobre dois cadáveres andrajosos que ainda reluziam seu suor maligno, retirando-lhes a arma, empurrando-os contra as paredes e fugi. A uma certa distância escutei gritos: agora temos algum alimento. Venham se fartar de Carne !! Agora distante daquela turba, penso que ele tinha razão... não existe mais lugar para a humanidade.

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E OS PÁSSAROS DAQUI NÃO GORJEIAM COMO LÁ Com que roupa? Perguntou Noel, que, com a dúvida, deixou o samba indeciso. Pelo sim, pelo não, os homens besuntaram gomalina e as mulheres lambuzaram batom. Era sábado, e porque era sábado, carecia capricho no costume. Era uma noite quente e, porque estava quente, exigia leveza nos panos. Era uma noite de gala e, por ela, garbo era fundamental. Noel resolvido. Em forma para o espaço largo da Móveis Getúlio Vargas. Contidos na elegância e ansiosos na expectativa. Procuravam a obra de arte. E ela estava na II Bienal de Artes Visuais, que sabiam ser corretas. Sem sisos nem sinos. Como da primeira vez, há dois anos, quando foi criada, por lei Municipal, de iniciativa do prefeito Laert que os vereadores foram unânimes em aprovar. Nem poderia ser diferente numa cidade que costuma ninar talentos. E quantos e tantos! Criar condições para que exponham não é mais que obrigação de quem os sabe perto. E São João, padroeiro, agradece retribuindo com a luminosidade dos crepúsculos. Amarrou-se um pacto. Sem demagogias, nem alaridos estéreis. Apenas sensibilidade. Reconhecimento de valores. Respeito à criação humana. Identificar a “ponte possível entre o mistério profundo do ser humano e o mundo exterior” como observa Sônia Maria Quintaneiro no libreto editado pela Secretaria de Estado da Cultura, especialmente para o evento.

E o Prefeito Laert, que não é bobo nem nada, pôs a Vânia Noronha para dirigir o seu projeto, a qual, que não dorme de touca, por sua vez convocou o Marcondes, forrado e estofado pelo reconhecimento, e nasceu uma exposição bienal com a expressão das demais, a tempo e hora. Assim, aparecendo do nada, como as flores na primavera. Mas que nada, ao nada se junta a coletividade, um grupo de mulheres dispostas e decididas, um punhado de empresários engajados e atentos. Realiza-se em parceria, pela renúncia do Getúlio Vargas Barbosa, que tem a “lucidez dos loucos”, como diz Egas Francisco, um evento de rara beleza. Exemplo de integração social – dirigentes e dirigidos – na preparação do futuro, como na Semana Fernando Furlaneto, no Festival de Dança, na restauração do Theatro Municipal, na consagrada Semana Guiomar Novaes, do Núcleo Experimental do Teatro de Tábuas, na agitação cultural da Livraria Papyrus, na Academia de Letras, no Fonteatro Emílio Caslini. E os pássaros daqui não gorjeiam como lá. E os meninos daqui acalantam-se como os de lá, na intimidade com a arte, tapete para a formação de homens e mulheres mais sólidos, neste mundo de tantas reduções.

Texto:

Sérgio A. Meirelles de Oliveira

Cadeira 22 Patrono Mario Palmério

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Texto:

Lincon Amaral

Cadeira 03 Patrono Alphonsus de Guimaraens

MENINO Que feixe misterioso anima e apaga a vida? No feijão reciclado dos cadáveres, voltam a brotar novos sorrisos, em teu rosto, mosaico a refletir expressões ancestrais. As faces marcadas, outrora tenras. Os passos de hoje, vindouros arquejantes, fluirão caminhos como em ramos de Hera éramos felizes, na primeira vez. Minha vida se separa da tua como um fio, este que nós marionetes tentamos driblar, tornar analítico, enrolar o carretel, cerzir o mar com suas esponjas. O sopro da essência pulsa em ti ritmicamente, amor que não cabe nas artérias, deixando a terra hipertensa, pé no chão, rio de minha infância, barro argila e minhoca, sabor crocante do primeiro lambari na boca de menino. Menino oceânico, tramando os elos das paixões, simbiose do primeiro gozo ao mistério do feijão, fazendo-me semente, ponte na trilha dos sentidos, equilibrando meu cambaleante caminhar sobre o fio.

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Poeta,

Alma de Náufrago. Ainda que náufrago, Jogaria garrafas com mensagens ao oceano. Ainda que sem garrafas e sem papel, Haveria de imaginar que existissem, Pois que entre o delírio e a realidade que matam, Viveria a ilusão da esperança que acalenta. Sentiria o consolo do afeto que anseio estar perdido, Pois que não o conquistei, Nem meu coração foi por ele conquistado, Antes, vive o abandono; não dos outros, Mas de mim mesmo, pois que é enfadonho ser, Pois que é triste existir, e ainda assim, existo. Pensando haver passividade Quando tudo em mim é profunda rebelião. Não amaria com distância, pois só sei amar com paixão. E tendo paixão, teria vergonha de mim. Sentir-me-ia fraco ante a minha humanidade, Pois que ainda que inexistente, minha alma é orgulhosa, Irritantemente orgulhosa. E isso não me traz proveito algum, Apenas a força que o tempo há sempre de subjugar. Nisto havendo um saber da natureza, Pois que para o bem coletivo, Todo ego tem que ter limite, Ou a paz seria impossível E o caos nasceria da constância dos confrontos. Não sei por que insisto. Talvez haja a sombra de um náufrago, Um fantasma insepulto que insiste em existir. Que não vai embora, mas não deseja ficar, Que almeja pouco, e isto há de ser tanto... Pois perdido em idéias, enganado em emoções, Texto: Gilberto Brandão Marcon Haverá um dia de encontrar um olhar, Cadeira 06 Que quem sabe já habite minha vida, Patrono Mário Quintana Mas que, inquieto, não desvenda o silêncio. E o silêncio diz tanto... E minha surdez não o escuta.

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LuzGrafia Reflexos No olho - espelho na água - espelho no tempo - espelho espelhos nos espelhos nos espelhos

Orides Fontela Foto:

Silvia Ferrante ARCA | 35

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Chá Literário “Do Chá à Mesa”

“Xícaras, além do chá”

Na quinta-feira, dia 21 de março, às 17h, a Padaria Rainha e a Fundação Curimbaba serviram o Chá das Cinco na ACADEMIA DE LETRAS, para acadêmicos e convidados. Estiveram presentes ao Chá Literário, além dos acadêmicos, o Diretor de Cultura de São João, Sr. Beto Simões; a 1ª dama da cidade, Sra. Solange Carvalho; a presidente da Amite, Fafá Noronha; Subtenente Vanderlei, do Tiro de Guerra; Representando a Fundação Curimbaba, Sr. Jaime Splettstoser, a Diretora de Cultura de Andradas, Sra. Zeza Freitas e o Sr. Roberto Peres com a esposa, da Moto Honda Peres e vários convidados e amigos dos acadêmicos. O Chá foi idealizado para acontecer de forma descontraída, no sentido de aproveitamento máximo do evento. Em sua fala a presidente Lucelena Maia desejou que o aroma dos chás, o sabor dos quitudes e os muitos poemas que pairavam no ar alimentassem o corpo e também a alma, saciando em cada um a razão que os tinha levado ali; Dia Mundial da Poesia. Os presentes puderam apreciar a exposição de xícaras, com a

temática “ Xícaras, além do Chá”, que se manterá exposta na sede da academia durante todo os mês de abril. A sede fica aberta das 13h30 às 17h30, de segunda a sexta-feira. O acadêmico Lorette, curador da mostra, falou aos presentes sobre cada uma, das oito temáticas expostas. O Chá foi também abrilhantado com a perfomance do Grupo Cena IV, que abordou “Do Chá à Mesa”, de forma descontraída, levando todos ao riso. Em seguida, alguns do acadêmicos presentes, como, Carmen Lia, Lucelena, Maria Célia Marcondes, Maria Cecília Malheiros, Spada, Sônia Quintaneiro, Clineida Jacomini declamaram poemas escolhidos para o Chá. A Acadêmica Silvia Ferrante usou sua voz para cantar o poema escolhido por ela. A presidente da Academia leu para os presentes a história da “Rainha”, patrocinadora dos deliciosos quitudes. Também, pediu ao representante da Fundação Curimbaba, Sr. Jaime Splettstoser, que falasse a todos sobre esse ato nobre: apoiar cultura. O Subtenente Vandereli, do Tiro de Guerra, declarou os acadêmicos soldados da poesia e pediu-lhes que nunca deixassem de divulgá-la.

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Muitos dos presentes deixaram recados nas tolhas das mesas, que eram em TNT. Depositado nelas havia pincel atômico a disposição da inspiração de cada um, ali presente, afinal, a homenageada da noite, a poesia, apeara na plataforma da estação e estava ao dispor de todos. Já era noite quando o Chá Literário foi encerrado, com o desejo de “Vida longa ao Chá das Cinco!”

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Chá Literário “Aqui Aconteço” Orides Fontela A Academia de Letras serviu o já quase tradicional Chá das Cinco para Acadêmicos e seus convidados no último dia 18 de abril. A homenageada do Chá foi a poeta Orides Fontela e sua obra, porque no dia 21 de abril seria seu aniversário. Mas, também, naquela quinta-feira era dia de Monteiro Lobato e Dia Nacional do Livro Infantil, por isso a Presidente Lucelena Maia, fez questão de ler aos presentes um texto sobre a vida do precursor da literatura infantil no Brasil e comentar os inesquecíveis personagens que habitam suas obras, impregnados nas retinas de todos nós, crianças e adultos, que tivemos contato com as histórias, de linguagem clara e objetiva, deste também inesquecível e além de escritor, contista, ensaísta e tradutor, que é grande nome da literatura brasileira. Em homenagem a Orides Fontela, durante o Chá, houve declamação de poemas dela, pelo jovem ator João Gabriel Bruscato. Em seguida ao chá, apresentação musical de Zezinho Só, com música de Cláudio Richerme e poema de Orides Fontela. Foi apresentado Vídeo Documentário sobre Orides “A um passo do pássaro”, da

TV cultura. E, para finalizar a noite, mesa redonda “Versando Orides” com os acadêmicos Neusa Menezes, Antonio Carlos Lorette e Lauro Borges, representando Walter Castelli Jr. Que não pode comparecer, mas enviou rico texto sobre Orides, lido por Lauro. O acadêmico Lorette, cuja partronesse de sua cadeira é Orides Fontela, em resposta a acadêmica Maria Cécilia Malheiro, encantada com o resultado da mesa “ Versando Orides”, disse-lhe: “Não imaginei que pudesse causar tamanha façanha, se nem fui um interlocutor de Orides em vida. Penso sempre em refazer os paradigmas, senão quebra-los. Não podemos transformas nossos poetas em monstros, mas, sim, em libertadores da palavra e do sentido.” A promessa de um delicioso final de tarde com chás diversos e quitutes, acompanhados da poeta Orides Fontela foi cumprido e, mais uma vez, possível à Academia de Letras realizar o Chá Literário porque Sempre Vale, Colors Gráfica Digital, Faça Festa, Zayon, LeaderAlarm, BVCi e Sequóia foram amigos da cultura, aos quais a Academia de Letras será eternamente grata!

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SOPA DE LETRAS CHÁ ROSIANO (à sua moda e nossa cumplicidade) (Recita para 8 pessoas) 2 chávenas de suco de fruta-da-paixão, quanto mais natural, melhor! Inclusive a paixão com que se faz tal poção! (maracujá) 4 frutas-do-pecado, sem desvelar-lhe a alma e sem retirar sua proteção rósea (maçã) 2 chávenas de açúcar-mais-que-nuvem para adocicar nossas emoções 2 mexericas-de-jardim com cheiro de não-me-enganas como elas vieram ao mundo(mexerica ou cravo) 2 litros de água-que passarinho-bebe-sim! Adicine os segredos-do paladar só encontrados nos grandes-sertões-veredas-desse mundo sem-fim : Canela em pau, gengibre em rodelas, folha de louro, cravos e tudo-o-mais que seu coração mandar! Ferva até a casa cheirar festa-de-academia-em noite engalanada! Passe por um coador, deixando de lado o-que restou-de-tudo-que ficou... Pitada imprescindível: a companhia dos bons amigos e dos bons textos! Ah! e lógico: aquelas bolachinas-celestinas e aquele bolo de fubá com gosto de não-quero-parar! Saudações acadêmicas a todos

Texto:

Maria José Gargantini Moreira da Silva

Cadeira 39 Patronesse Clarice Lispector

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Afiando a Língua E,então, como nossa língua é nossa espada, vão alguns fios gramaticais! 1-Leu o relatório do estagiário, MAIS não entendeu nada. O uso do advérbio de intensidade “mais” está errado. O certo é o emprego da conjunção adversativa “mas”. Retificando: Leu o relatório do estagiário, MAS não entendeu nada. 2- “Assistimos A novela das oito .” Somente o uso do artigo definido feminino “a” está errado. O certo é o emprego da crase,isto é, do sinal gráfico que indica a fusão da preposição “a” com o artigo “a”,pois o verbo assistir é transitivo direto e exige tal preposição. E mais: quando este verbo significa ver ou presenciar, exige a preposição a, pois quem assiste,assiste a algo. Retificando: Assisti mos À novela das oito. 3- O professor pediu para MIM ler mais. Embora o uso de mim como sujeito anda generalizado no Brasil, de acordo com as normas gramaticais ainda vigentes o correto é o emprego do pronome pessoal do caso reto Eu, que funciona como sujeito da oração. Mim é pronome pessoal do caso oblíquo e tem como função sintática complemento verbal. Veja: “O professor pediu mais leitura para MIM.” Retificando: O professor pediu para EU ler mais. (João Sérgio Januzelli de Souza -JS- Cadeira 25, patrono Manuel Bandeira)

Texto:

João Sérgio Januzelli de Souza

Cadeira 25 Patrono Manoel Bandeira

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Livros

Indicações da Academia

Fazendo Meu Filme 1 Dicionário Analógico da Língua Portuguesa

Paula Pimenta

Francisco Ferreira dos Santos Azevedo Torna-se um vício quando precisamos expressar uma ideia com clareza e elegância. O Dicionário Analógico da Língua Portuguesa, como todo dicionário analógico, tem a função inversa à de um dicionário comum, o qual, a partir de uma palavra conhecida informa seus significados. Neste, busca-se uma palavra, entre muitas análogas, em uma área de significados conhecida e classificada numa frondosa árvore de classificação. Creiam. Um vício.

O livro trata do fascinante universo de uma menina cheia de expectativas, que vive a dúvida entre continuar sua rotina, com seus amigos, familiares, estudos e seu inesperado novo amor, ou se aventurar em outro país e mergulhar num mundo cheio de novas possibilidades. A estreia de Fani é um livro encantador para jovens da idade dela. Para conhecer sobre a autora, entre no site www.paulapimenta.com. Para saber do livro www.fazendomeufilme. com.br

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Os Cem Melhores Contos Brasileiros do Século Seleção: Italo Moriconi

Você já Viu Gata Parir? Martha Azevedo Pannunzio ( ilustrado por Hélvio Lima)

Uma menina de seis anos conta para sua priminha como nasceram os filhotes da gata Pérola. A narrativa inclui detalhes sobre as pessoas, conversas, ambiente e outros fatos relacionados com o parto, além de uma fantasia sobre os primeiros momentos de vida dos cinco gatinhos que nasceram naquela noite. A linguagem é das próprias crianças, mas o assunto é para todas as idades, pois retrata a vida em família com várias cores. A escritora Martha Pannunzio já conquistou o prêmio Jabuti com o livro “O Veludinho”, que está na 33ª edição, e o prêmio de Literatura Infantil do Instituto Nacional do Livro. Depois vieram Os 3 Capetinhas, Bicho do Mato, Era Uma Vez Um Rio, Bruxa de Pano e Você Já Viu Gata Parir? Vale a pena conferir a leitura de algum de seus livros.

Uma antologia com mais de 600 páginas. Uma pesquisa orientada pela qualidade. Uma seleção de pequenas obras. Os cem melhores contos brasileiros do século reúnem narrativas extraordinárias de alguns dos principais nomes de nossa literatura. Os contos dessa antologia traduzem as mudanças do país e as inquietações de várias gerações de brasileiros, em cem anos de produção literária. Os contos reunidos são, antes de tudo, um registro prazeroso de histórias que conquistaram leitores não por sua excelência acadêmica, mas por serem capazes de seduzir, divertir, emocionar. Fica a dica.

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Jornalista ResponsávelFrancisco de Assis Carvalho Arten Projeto GráficoFernanda Buga EdiçãoAntonio Carlos Rodrigues Lorette Gerencia administrativa e financeiraLucelena Maia DistribuiçãoAcademia de Letras de São João da Boa Vista RevisãoMaria José Gargantini Moreira da Silva Antonio “Nino” Barbin João Sérgio Januzelli

Academia de Letras - São João da Boa Vista

PresidenteLucelena Maia 1º Vice presidenteAntonio Carlos Rodrigues Lorette 2º Vice PresidenteJoão Sérgio Januzelli de Souza 1º SecretárioSilvia T. Ferrante Marcos de Lima 2º SecretárioMaria Cândida de Oliveira Costa 1º TesoureiroLauro Augusto Bittencourt Borges 1º BibliotecárioMaria Célia de Campos Marcondes 2º BibliotecárioAtonio “Nino” Barbin Conselho FiscalDonisete Tavares Moraes de Oliveira Luiz Antonio Spada Ronaldo Frigini

Contato

Assistente de SecretariaGrazielle Moreno academiadeletras@alsjbv.com.br fotografia de capaSILVIA FERRANTE

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