Manual de História do Brasil

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UNIDADE I – IMPÉRIO

condições de vida e trabalho. Os fazendeiros, por sua vez, agiam movidos por um sério engano. Eles não contavam com os meios empregado pelos imigrantes para resistir contra o que consideravam imposições contratuais injustas. A introdução de trabalho livre implicava um investimento de capital cuja amortização exigia um nível de exploração que os fazendeiros não tinham condições de impor. O obstáculo principal não era a ameaça de possíveis represálias por parte dos governos dos países dos imigrantes, cuja proteção era relutante e limitada, mas, antes, o contrato de parceria que não respondia adequadamente ao problema de criação de uma força de trabalho confiável. (...) (...) O poder dos fazendeiros de controlar o trabalho e impor um grau de satisfação de produtividade ao cultivo de café era limitado pelas circunstâncias sob as quais o trabalho livre fora introduzido, isto é, na ausência de uma reserva local de mão-de-obra e a partir de esquemas que obrigavam os imigrantes a reembolsar os empregadores pelas despesas com passagens e estabelecimento inicial. Provavelmente os fazendeiros imaginavam que o fator de incentivo existente na parceria substituiria eficazmente as forças do mercado na redução dos custos salariais. Contudo, a dívida inicial anulou o elemento de incentivo, faltando aos fazendeiros meios efetivos de obrigar seus trabalhadores a produzirem café. A ameaça de demissão – forma usual de persuasão utilizada pelos empregadores para impor o cumprimento dos contratos de trabalho – não era muito eficiente, pois isto significaria a perda parcial ou total do investimento dos fazendeiros. Embora fosse verdade que os imigrantes não podiam legalmente abandonar a fazenda até que tivessem saldado suas dívidas, também não podiam os fazendeiros fazê-los trabalhar além do que desejavam os próprios trabalhadores. Mesmo o empregado do poder do Estado, como no caso da revolta de Ibicaba, era de pouca serventia. Os líderes da revolta foram expulsos, mas os que permaneceram não trabalharam com mais afinco. Os meios extracontratuais utilizados pelos fazendeiros para recuperar seus investimentos tinham saído pela culatra: “é incontestável que os proprietários, quando os colonos não queriam trabalhar, não podiam, coagi-los ao cumprimento de seus deveres e por isso sofriam prejuízos com o maltrato de seus cafezais, diminuição das colheitas e perda total ou parcial dos seus adiantamentos”.

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