Manual de História do Brasil

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MANUAL DO CANDIDATO – HISTÓRIA DO BRASIL

ocasiões contribui mais para obscurecer que para esclarecer o diagnóstico sobre o processo político em curso. Deixemos de lado versões analíticas mais banais sobre o papel dos meios de comunicação que, inspiradas por uma teoria conspiracional ou pela idéia de uma racionalidade maquiavélica dos setores dominantes, quase sempre pouco realistas, francamente obscurecem a compreensão da questão. Uma versão mais amena dessas interpretações tem apontado para o desígnio expresso de setores que procuraram deslegitimar o atual governo ou certos grupos partidários. É flagrante, por exemplo, a insistência da imprensa em atribuir quase que exclusivamente ao PMDB a responsabilidade pelos erros do governo Sarney, e em menor grau aos militares, ou ao PFL, que de fato detém o controle de grande número de ministérios com alto poder financeiro e político. Nada há de surpreendente no fato de que os mídia sejam partidários (embora muitos cheguem a apresentar esse fato como se fosse mesmo uma invenção brasileira). Os aspectos mais nefastos dos costumes vigentes na esfera brasileira de informações são o pseudopartidarismo e a irresponsabilidade resultado da falta de transparência de decisões políticas – que surgem sob a forma de denúncias de semântica escorregadia e sem fontes, difundidas freqüentemente como parte de notícias mundanas divulgadas por colunistas sociais aos leitores da classe média das grandes capitais. Creio que a atenção deve voltar-se aqui mais para as lentes utilizadas na interpretação do processo político por aqueles que se dizem identificados com o projeto democrático. Embora com objetivos diversos, estas acabam por se juntar ao ataque da direita autoritária, desde que em ambas as versões é veiculada a idéia – tão a gosto do pensamento autoritário da década de 1930 – da impossibilidade da democracia num país com nossas características. E isto por vários motivos. Primeiro as denúncias freqüentemente não vêm acompanhadas de informações sobre eventos semelhantes no regime anterior necessárias para fins de comparação. Afinal, naquele período havia os agravantes da repressão e da censura governamental e da autocensura das próprias direções dos jornais, rádios ou televisão, que tornavam difícil, se não impossível, a divulgação dos eventos que depunham contra o regime. Por outro lado, o teor exclusivamente denunciatório de grande parte das informações acaba por estabelecer junto à sociedade – sobretudo junto aos jovens com menos de vinte anos de idade e sem história política, que em 1980 representavam quase 50% da população brasileira – uma ligação direta

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