Manual de História do Brasil

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UNIDADE IV – TRANSFORMAÇÕES POLÍTICO-SOCIAIS A PARTIR DOS ANOS 60

emedebistas utilizaram com desenvoltura os meios de comunicação e estabeleceram um intenso debate político no país. Os setores oposicionistas da sociedade brasileira começavam a apoiar o partido da oposição consentida pelos militares. Mesmo assim, apesar da repressão política e dos problemas econômicos pós-milagre, os militares não passaram por um descrédito completo junto a opinião pública como foi o caso das ditaduras argentina e uruguaia, o que permitiu que continuassem a ditar os rumos da abertura, vinculada aos ditames da doutrina de segurança nacional. As eleições de 1974 provocaram reações nos círculos militares. De uma forma mais contundente, a repressão política virou-se para o PCB, organização que não se lançara à luta armada mas que fornecera grande parte dos guerrilheiros e direções para outros agrupamentos de esquerda. Envolvidos na campanha emedebista, vários de seus militantes e dirigentes foram presos e engrossaram as listas de “desaparecidos”. De outra parte, o acesso ao rádio e à televisão tornava-se limitado pela Lei Falcão, de maneira a expurgar o debate, político do jogo eleitoral. A partir de 1976, data do decreto-lei, os candidatos não poderiam mais aparecer “ao vivo” nesses meios de comunicação e deveriam se restringir a apresentar seu currículo para apreciação dos eleitores. Um ano depois novas alterações evidenciavam o receio do crescimento da oposição: após fechar o Congresso Nacional, Geisel lançava o “Pacote de Abril” que, entre outras medidas, instituía a eleição indireta para um terço do Senado Federal, ampliava o número de deputados dos estados da região Norte e Nordeste e alterava as regras das eleições para governadores estaduais. Contando com esse reforço para as eleições parlamentares de novembro de 1978, o governo manteve a maioria e, conseqüentemente, o controle político do Congresso Nacional. Apesar de receber mais de 50% dos votos, o MDB constituía pouco mais de um terço do Senado Federal. O partido da oposição venceu em toda a região Sul, onde despontaram nomes como Pedro Simon (RS), José Richa (PR), Franco Montoro (SP) Nelson Carneiro (RJ) e Tancredo Neves (MG). Apesar da “derrota”, as eleições de 1978 marcaram a consolidação do MDB como partido de oposição. Isso se deu porque o partido conseguiu estreitar seus laços com os movimentos de resistência civil, o que lhe conferiu bases sociais mais sólidas. Por outro lado, tais movimentos puderam ampliar sua atuação, tendo o MDB como seu instrumento político para a democratização do país. Entidades como a OAB e ABI atuaram conjuntamente no sentido de combater o autoritarismo e a censura. Mas coube à Igreja Católica o papel

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