Manual de História do Brasil

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UNIDADE II – REPÚBLICA VELHA

de companhias como a Empresa Industrial de Melhoramentos, a Empresa de Obras Públicas, a Saneamento Evoneas, e outras dedicadas à construção civil, verdadeiras blue chips, numa época em que a preocupação urbanística era acentuada. Sem dúvida, as diretorias destas empresas cujos títulos estiveram “numa ponta danada”, como dizia a gira bolsística, mostravam-se indiferentes ante a depreciação demonstrativa. De fato, não publicaram balanços além do anual, previsto por lei para tranqüilizar os possuidores de suas ações. A população urbana mostrava-se aterrada com a aflição reinante na praça. Ressentia-se do perigo da queda das cotações de quase todos os títulos, e das comissões no Congresso, reprimindo a atuação do Banco da República. Finalmente, o pânico foi coroado com a instabilidade política: o Golpe de Estado de 3 de novembro fechou o Congresso. Vinte dias depois, o próprio vice-presidente Floriano Peixoto fazia cair o governo ditatorial de Deodoro Fonseca. Como se não bastasse a depreciação das ações do Banco da República – que de 190 a 200 mil-réis baixaram para 136 mil-réis – todo esse mal-estar foi condimentado com o jogo de transações de report com as debêntures da Companhia Geral das Estradas de Ferro. A praça do Rio de Janeiro parecia estar possuída de um delirium tremens. 8. Do encilhamento à guerra civil Desde junho de 1889 até 1902 houve dezesseis remanejamentos ministeriais na Pasta da Fazenda. Todos esses ministros foram responsabilizados após sua demissão pelo agravamento da crise financeira e pela deterioração da moeda que a acompanhava. Esta personalização dos erros mascara as causas do fenômeno. O encilhamento está geralmente circunscrito entre 1889 e 1892. Porém, a expansão das emissões abrange toda a primeira década republicana. Durante esse período, os bancos emissores respondiam com todo o seu capital pela emissão realizada. No entanto, a partir de 1893, época em que se pode considerar o encilhamento como terminado, a emissão era garantida por emissões de apólices-ouro, cujo limite era o montante do capital do Banco da República. Se compararmos a emissão e a circulação com os limites legais para elas fixados, verificaremos que até 1893 tais limites não foram atingidos. As emissões não chegaram nem mesmo a atingir a metade do teto permitido por lei. Porém, a partir de 1893 a emissão ultrapassou sempre os limites previstos. Desse modo, a garantia das emissões, já bastante precária pela organização do sistema, tornou-se inteiramente deficiente.

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