Revista Conceitos - nº 17 | Dezembro 2012

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[...] a abertura para o novo, para o desconhecido, para a mudança é um dos requisitos para o sucesso do trabalho interdisciplinar, o qual supõe reconhecer o conhecimento do outros, as trocas e reflexões com inúmeros pontos de vista diferenciados, a complementaridade e a construção de projetos com objetivos comuns.

No entanto, a despeito de sua importância, a prática interdisciplinar não é uma tarefa fácil, tendo em vista que seu trabalho é desenvolvido por diferentes áreas de conhecimento, observando-se as limitações de cada especialização. Como essa interação prevê a realização de uma troca mútua de conhecimento entre as áreas do saber, com o compartilhamento de fins comuns para a ação coletiva, é muito frequente o estabelecimento de relações conflituosas, originadas de atitudes dominadoras, assumidas por determinados profissionais, que agem com autoritarismo e comprometem a interação entre os profissionais que compõem as equipes de saúde, por inibir contribuições das demais áreas. No caso particular da política setorial da saúde, a interdisciplinaridade entra em confronto direto com a tradicional separação/hierarquização dos saberes e exige negociação entre as diversas categorias, para que essa perspectiva possa ser inserida nos processos de trabalho. 2.1 - O Trabalho do assistente social na saúde e a perspectiva da interdisciplinaridade Os assistentes sociais atuam diretamente com as políticas e com os serviços sociais, e seu objeto de trabalho são as expressões da questão social. Portanto, a temática da interdisciplinaridade recai diretamente sobre seu trabalho, seja pela dificuldade de empreendê-la, seja pela inevitabilidade cotidiana de articular conhecimentos para o atendimento das necessidades dos usuários, cujo cerne não é em apenas uma questão isolada, ou seja, ainda por ser cada vez mais indispensável e premente colocá-la em ação para assegurar serviços com mais qualidade, centralizados na figura do usuário. No âmbito do Serviço Social, a prática interdisciplinar é recomendada pela Resolução Nº 218, de 06 de março de 1997, que frisa “[...] a importância da ação interdisciplinar no âmbito da saúde”, bem como pelo Código de Ética do C O N C E I T O S Nº 17

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Assistente Social, que expõe, em seu capítulo III, Artigo 10, alínea d, a necessidade de “[...] incentivar, sempre que possível, a prática profissional interdisciplinar” (CRESS/SP, 2007). Assim, a participação em equipes, de modo interdisciplinar, é apresentada como uma necessidade que precisa ser impulsionada pela atuação profissional, tendo em vista que, além de compreender o significado social e o papel do Serviço Social na sociedade atual, bem como as novas necessidades do mercado de trabalho, urge ao assistente social respaldar sua competência profissional a partir de subsídios teóricos, éticos, políticos e técnicos que o auxiliem desenvolver habilidades que possibilitarão uma atuação crítica, criativa e comprometida. Embora as discussões sobre intersetorialidade no trabalho vinculado à política setorial da saúde venham se intensificando nos dias coetâneos, foi a partir da instituição do Sistema Único de Saúde (SUS) que sua relevância ganhou maior notoriedade, porque, segundo Costa (2006, p. 342), […] as práticas do SUS revelam a superação de um processo de trabalho vigente até os anos 70, em que os profissionais podiam atuar isolada e autonomamente. O modelo atual aponta para a emergência de um conjunto de práticas, dentre as quais emergem novas ocupações e atividades que são resultantes da ampliação, complexificação e redivisão dos tradicionais ofícios da área da saúde.

Devido à extrema desigualdade e à concentração de riquezas reproduzidas historicamente no Brasil, é na tensão entre as reais necessidades dos usuários e a limitação dos serviços disponibilizados pelo SUS que se definem os processos de trabalho na área de saúde. Nesse sentido, Sarreta (2008, p. 36) assevera a importância do Serviço Social ao apontar que o assistente social dispõe de atribuições específicas na área da saúde, o que constitui um instrumento importante na construção de estratégias para o exercício profissional e na busca de alternativas visando ao atendimento das necessidades sociais apresentadas pelos usuários nos serviços de saúde. 111


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