Abismo humano 16

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nยบ16


editorial

A

Associação de Artes “Abismo

artístico, será autora de promoção às mes-

de Artes, e por isso tomou o compromisso

Humano” dedica-se ao aproveita-

mas, deixando um espaço também para a

matrimonial para com as gémeas Ars e

mento da tendência artística pre-

história, segundo as suas nuances artísticas,

Sophia, duas amantes igualmente sôfregas

sente nas novas camadas jovens

unindo a vaga jovem ao conhecimento

(impávidas), insaciáveis (de tudo saciadas)

e à experiência passada.

e incondicionais (solo fértil à condição).

e a integrar, junto da arte, os valores locais, bem como ao entretenimento, educação e

a estudar o intercâmbio da vida e da

na disposição dos seus associados. Para tal a associação compromete-se a contactar vários artistas, tanto na área da pintura, da literatura, escultura, fotografia, cinematográfica, Ilustração, música e artesanato,

6

. O Abismo Humano compromete-se

cultura de forma a ocupar os espaços livres

Manifesto

morte, da alegria e da tristeza, do amor partilhado e da desolação impossível, das quais o Abismo Humano é rebento.

1

7

eventos, como tertúlias, exposições, festas

no gótico contemporâneo tanto como nas

seio das subculturas, cobrindo-as à sombra

temáticas, concertos e teatros.

suas raízes passadas.

do conformismo e da futilidade.

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8

de forma a expor as suas obras tanto num jornal de lançamento trimestral, consagrado aos sócios, como na organização de

A associação das artes compromete-se igualmente a apoiar o artista seu colaborador, com a montagem de, por

. O Abismo Humano compromete-se a apresentar a sapiência, o senso artístico,

e o cariz cultural e civilizacional presente

. O Abismo Humano toma o compromisso de mostrar o que têm tendência

a permanecer oculto por via da exclusão

exemplo, bancas comerciais e com a divul-

social, e a elevar o abominável ao estado

gação do trabalho a ser falado, inclusive

de beleza, sempre na condição solene e

lançamentos, visando assim proteger a arte

contemplativa que caracteriza o trabalho

do antro de pobreza ingrata e esqueci-

da inteligência límpida e descomprometida.

mento que tantas vezes espera as mentes criativas após o seu labor. Os eventos, que são abertos ao público, servem inclusive o propósito de angariar novos sócios, sendo

3

. O Abismo Humano dedica-se a explorar as entranhas da humanidade, e é essen-

cialmente humanista, ainda que esgravatando o divino, e divino é o nome do

amento da sua quota, receber o jornal da

abismo no humano.

Este jornal possui o objectivo de divulgar as noticias do meio artístico bem como promover os muitos tipos de arte, dando

4

. O Abismo Humano é um espaço para os artistas dos vários campos se darem

a conhecer, e entre estes, preferimos as

atenção à qualidade, mais do que à fama,

almas incompreendidas nos meios sociais

de forma a casar a qualidade com a fama,

de maior celebridade.

ao contrario do que, muitas vezes, se pode encontrar na literatura de supermercado. Afiliada às várias zonas comerciais de cariz

Abismo Humano dedica-se à destru-

içãoda ignorância que cresce escondida, no

. Retratamos a tremura na mão do amor, a noite ardente, e a dança dos que já

foram ao piano do foi para sempre.

Editor

André Consciência

que é privilégio do sócio, mediante o pagassociação, intitulado de “Abismo Humano”.

. Como membro contra-cultura, o

5

. O Abismo Humano é um empreendimento e uma actividade da Associação

Front Cover

Fotografia de Mara D’Eleán Modelo Soraya Moon

Design

Mara D’Eleán

Contacto

abismohumano@gmail.com

Domínios

- abismohumano.bandcamp.com

- Fórum: s13.invisionfree.com/AbismoHumano - Rádio Abismo Humano: radioabismohumano.blogspot.com


nº16

Index ruínas circulares flauta de pã

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8

4

labirintos prosaicos

36 arautos sonoros

16 - 35

captações imaginárias

28

18

34

16

26

24 33


Ruínas circulares

ketojin o negociante de amor

Poesia de A. Miyajima, Ilustrações de A. Mimura Ketojin – o negociante de amor é uma obra que junta a poesia de A. Miyajima com o trabalho de ilustração A. Mimura. Um livro que desvenda a paixão de um poeta por uma ninfeta no Oriente distante através de uma poética que percorre um caminho de depuração entre a poesia rigidamente estruturada e a poesia minimalista, haiku. É um livro perpassado de uma corrente dicotómica que o polariza entre duas experiências fundamentais: o sexo e a morte (ou, mais adequadamente, a mortalidade). - Valério Romão, in Prefácio

(…) o livro propõe uma paralaxe do olhar pela qual opera, não sem algum esforço de foco, a devolução do agora por meio das ruínas do outrora, e isso provoca-nos, incomoda-nos, destranquiliza-nos, o que, escusado reforçar o óbvio, é bom. - Valério Romão, in Prefácio

4


Ruínas circulares

Entre\vista

incontornável? Ou o poeta é aquele que se forçou a nascer de si mesmo uma segunda vez? Autor: Não sei nada de poetas, não desejo saber nada de poetas, não creio que haja um universal

A repulsa pode ser musa devido à Arte ser uma arma de guerra; a Arte não tem nada de pacífico (...)

Vês uma diferença entre a poesia e a prosa? Se

que permita definir poetas, somente sei que se

sim, qual pensas ser e em que difere o objectivo

comportam como gatos e simpatizo com esse

da poesia do objectivo da prosa? Autor: Antes de qualquer tomada de respos-

modo. Sendo que, dentro das mesmas artes, pre-

pouco, realizado, pois é vão, inócuo e pura perda

firo, pugilistas, jogadores de rugby e matadores

de tempo.

ta consciente, certifico, que eu não conheço o A.Mimura nem o A.Miyajima; sei que um sujeito tem um trabalho literário, poético, filosófico, etc e outro um trabalho artístico em n frentes e vertentes. Assim sendo, toda e qualquer resposta, é no mínimo uma ficção, o que, de qualquer modo, sempre assim é: uma ficção de uma ficção. A poética é diferente anos luz da prosa; a poética é um momento, uma respiração, um jorro, cujo tema maior é ser uma construção, uma arquitectura, uma catedral fixa ou alicerçada, por palavras metamórficas com sentido e que visa o belo emotivo. A prosa ou ficção é um domínio outro que requer bem mais do que um momento; a prosa é a construção de um ser e não um só momento de uma respiração e aquando de comparada com uma composição arquitectónica nunca se compõe pela construção de uma catedral, mas de um cidade, de um mundo. No entanto, aquando da verdadeira literatura ambas prosa e poética devem ser caes de fila que dominas com um simples: Chiuu! Se tivesses de resumir a tua mensagem literária, por mais imperfeito que isto possa surgir, como o farias? Autor: Não faria. A grande literatura é um ser vivo, enigmático, híbrido e livre, contendo todas mensagens e assim deve permanecer. Colocas elementos da tua vida pessoal na tua escrita? Autor: O que é a escrita senão a vida. A escrita vive da vida e, nunca deve suceder o inverso. Não da vida comum, pois essa é uma mulherzinha de trazer por casa, mas da vida do espírito, a vida que se estende para lá da vida e se amantiza com a profética, com a vida inominável. Acreditas que a infância pode ser aquela marca que define a tendência de cada poeta de forma

de touros, é mais a sério. Sobre o que é que nunca escreveste? A música é importante no teu processo criativo?

Autor: Quando escreveres há pontos-chaves

E se sim, na música o que mais te inspira?

que deves tocar: vida, paixão, amizade, morte,

Autor: Sim, em parte sou um melómano. Tal como

humanidade, virtude, etc. Ou seja, há imensas

Dizzy Gillespie afirmava: “There is only two kinds

coisas sobre as quais não deves escrever porque

of music, the good and the bad.” Eu concordo

são futilidades.

plenamente e nós devemos ouvir a boa música, sempre. Simpatizo especialmente com Jazz e se

Ligas de alguma forma escrever a um instinto

pensarmos é uma fusão de toda a musicalidade

de sobrevivência, ou antes ao impulso de morte?

humana criando um híbrido selvagem, que é

Autor: Escrever é comunicar, no entanto, escrever

executado em contraponto, com a regra musical,

é contrário à vida. Escrevo o menos possível, e

muitas das vezes.

porque os Deuses assim o deliberaram, no entanto, após depurar a literatura e exigir tudo desta,

Qual foi o teu primeiro poema, e qual a história

sem dar nada em retorno, (o que normalmente é

que o rodeia?

o que faz a putéfia da literatura aos demais, pois,

Autor: Não imagino e não me esforço para pon-

talvez seja a mais velha senhora, com os mais

derar tal.

obedientes e incompetentes aios,) escrevo para me surpreender e escarnecer, desta, inclusive. De

Que coisas no mundo achas mais desprezíveis?

qualquer forma a literatura morre de mão dada

E até que ponto a repulsa pode ser uma musa?

com a humanidade que se torna, ambiguamente,

Autor: A coisa que mais abomino é Estupidez

mecânica, tecnológica e virtual, e como tal, mor-

humana que por sinal é incomensurável. A repul-

ibunda.

sa pode ser musa devido à Arte ser uma arma de guerra; a Arte não tem nada de pacífico e, inclu-

O Ketojin trata do quê? E onde podemos adquirir

sive, pode ser Musa a repulsa porque a repulsa

o livro o Ketojin?

é, o que o cânone dita, e, o cânone é o gosto ou

Autor: O ketojin o negociante de amor é livro de

falha dele da generalidade dos imbecis.

poética erótica e ilustração que acompanha a poética e “narra” a história de um estrangeiro que

Tens um historial peculiar com pesadelos?

ruma ao Oriente e se apaixona por uma ninfeta,

Autor: De modo algum. Desejares enfrentar a

musa, gueixa, etc, e avança em passada largada

própria Vida concentrado é uma tarefa tal que

para uma poética japonesa, minimalista, conten-

não há espaço para pesadelos; os pesadelos

do linguagem japonesa, inclusive, que toma o

pertencem quase ao romantismo e ao mundo

calor de uma pátria, essa própria poética, difusa

onírico; a própria vida é um adversário bem mais

e mínima. O livro tem um prefácio deveras inter-

temível. Um pugilista não tem pesadelos: tem

essante do Valério Romão e pode ser adquirido

adversários. Quando deixa de ter adversários

através do email da Editora Livros de Ontem.

então sim poderá ter pesadelos, até lá... Qual a influência do amor na tua obra? Autor: Não creio que sem paixão possa haver algo digno de ser lido, apreciado, etc, nem tão

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Ruínas circulares

Ketô-jin o negociante de amor Canto I – Apresentação do Poeta ou Eu poético

O próbrio cão, cão alma, alma poeta,

bebeu a febre por canecas negras

Ò Morte, vem depressa,

quem abriu trincheiras e sulcou muros dinamitados.

socorrer o degredado. Aqui jaz quem: Trazei, Ò Morte, vosso véu escuro

Fechados os portões

e cobri-lhe o coração

lavou os cadáveres

(todo todo todo)

e lhes consolou a inquietação.

pois seu músculo quase nada. Aqui jaz quem: Estancai-lhe a sina, Ó Morte, vede-lha bem!

e ainda assim de versos

O opróbrio cão, cão alma, alma poeta,

não fez pão nem estatuto nem felicidade nem infelicidade nem sol nem sombra

não estorce, não vocifera, não lamenta

nem afecto nem ódio nem pai nem mãe nem água nem sal nem amigos nem

mas continua fitando e cismando o infinito.

inimigos nem amor nem desamores nem primavera nem inverno nem sabedoria nem mil anos ou ira ou glória ou vida ou firmamento

Ó Morte, tu que és Morte, estancai-lhe a pobre sina,

ou morte.

pois seu coração somente álgido Inverno, do opróbrio cão, cão alma, alma poeta.

Aqui jaz quem: mais vivo disto saiu

Ò Morte, só teu lumaréu de vivo afecto,

ou

o fará colocar a negra venda,

Nemo

e avançar, carregar,

ou

garboso, avançar,

A Pedra de Toque. _

até ao centro,

que os arquitecto renegaram e cocheiros transportam

avançar,

como uma menina

_Alto!

morta

Apontaaaar

por tísica.

: Fooogo! avançar, depois de fuzilado na doce inscrição tumultuar. Aqui jaz quem: tendo um girassol no peito tomou profunda tristeza para cantar as pocilgas e os carros blindados e os Outonos e os navios ancorados. Aqui jaz quem: após ter lastrado o coração com mil pesos foi tomado por carniceiro, pároco e alma cruel. Aqui jaz quem:

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Ruínas circulares

Canto II - O poeta enamora-se por estranha ninfeta

Canto III – O exílio do poeta_ num lugar pátria de estética poética minimalista

A fornicação

A Ninfeta

desenhas

Brilhante ave japonesa

com os dedos minúsculos

onara kabuki1 mágico, dos teus seios:

dos pés

Água.

sobre o meu peito o cavalo de pau da tua “inocência” perdida. A fornicação toda a sua nudez negra e sã e salva embelezou o quarto até ontem. A fornicação belo arco zurzindo chamas!, mergulha teu corpo corpo-tigre no destino luminoso da exuberante virgem obscura e selvática meretriz. A fornicação despiu-se e impulsionou as ancas meneou o corpo procurando o ceptro irradiando sobre o peito os mamilos espessos e negros de toda sua luxúria.

mimurartist@gmail.com https://www.facebook.com/amimura.artist/photos_stream

1

Performance sensual de teatro, canto e dança

7


Labirintos prosaicos

Alfa

Lucian

O sangue da alma dilatando a meditação do corpo, doença imparável de escrever, colapso inevitável.

s/ título

e de beijo de um amor insondável na sola dos pés e por vezes nas pálpebras das mãos e na língua da testa e no ensalivar

embebidos os dedos em mel deslizando pela tela um rosto de sonhador ali

dos joelhos

colado de pele em pano o saborear de dois corpos por linear alimar

corro como uma corça meio aos saltos em paralelo aos velocípedes às

erodir

luzes neon aos faróis e farolins da estradas que atravessam tanto a

um simples sorriso explode pela galeria um homem nu abana os potes das

terra como os céus como as cidades debaixo do mar por todo o lado

compotas das ervas, da argila branca e do barro denso e atira tudo

corro persistente

contra a parede contra o quadro parte ali as rédeas e as regras ri

gritando para tudo um soneto em ultrasom de bom dia aquele despertar

cada vez mais enquanto se misturam as cores e se fundem os mundos e

do mago que traz em boca o folhetim olhai as boas novas sim há guerra

ele próprio se limpa deitado entre vidros e sabores

por aí em todas as fronteiras do amor da liberdade e da magia mas

no céu cadentes os anjos pegam no pó das supernovas para dar de comer

tantos novos combatentes a renascer por simbiose e simbologia

o tempo ao que os olhos vêem passar e nas auroras chegam pautas com coordenadas para um outro mundo exposto

se tu me dizes palavra eu te devolvo o conceito se me dás fundações eu completo-te a casa juntos viveremos nesse edíficio com rotas a arder

s/ título

deambulando sós para lá dos limites do compreender sabendo do respeito alimentando da harmonia dizendo adeus recomeçando semeando colhendo

como as aves fascinadas pelo brilho encerto as trivialidades naturais

ceifando até que todos os infinitos de todas as vidas se cruzem no

até firmar um sólido ninho não o habito e espero escondido

exacto momento de já não te dar nada

pousam lá outro alados viajantes que observo e absorvo atentamente

nem tu me entregares qualquer missiva ou mensagem que não seja a

faço uma prece para que algum possa permanecer mas bicada a bicada existência no mesmo lugar sagrado levam-me as pétalas os ramos os cristais as pedras os sonhos - nunca me roubarão a alma...

[O viajante ] a noite era de secura e de muitos passos apressados como uma melodia sórdida de tempos em que viajar não era para um fugitivo agora vivemos nesta era de máquinas voltadas para os anjos de halos em vitrines de uma ou outra asa no mercado negro longe dos dias em que primeiro caminhei sobre as águas e para lá dos desertos longe dos movimentos das ondas nas galáxias do sopro de explosões nos meus olhos no implodir do meu coração sou um viajante confesso no meu corpo e para lá dele não apenas nos sonhos mas nos devaneios na poética do espaço e do tempo na brevidade do instante assim como do eterno munido de visão de toque

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Alfa Lucian


Labirintos prosaicos

Malak André Consciência nasceu em Lisboa e vive na Margem Sul. É primeiro publicado na editorial Minerva, colectânea “Poesis”, em 2004, usando um

VI A nossa última noite foi por entre árvores que cresciam na estreita língua de terra. Amarrámos o barco à margem e depois acendemos fogueiras. A noite estava quente e seca. Fizemos um cordão de fogo de uma à outra margem do rio para não deter os anjos, vigiamos para lá das chamas e alimentámo-las na escuridão. Depois reunimo-nos para entoar cânticos, até que o cansaço nos venceu. Envolvemo-nos nas nossas capas debaixo das árvores. Escutei os ruídos do rio, enquanto ela respirava, até os sonhos chegarem.

VI.VII Quando me senti imóvel como uma raiz pus-me em viagem e nunca comia muito. As auroras boreais de Outono perseguiam-me ao longo de todo o mar estreito. Por vezes subiam do Sul, numa fúria de relâmpagos e névoas verdes que levavam dias a cair. Por vezes desciam do norte, frias e graciosas, com ventos selváticos que trespassavam as tábuas. Uma vez quando acordei encontrei todo o navio coberto de luz, gelado, branco como uma pérola. Era uma daquelas noites em que os clarões violeta pairam no ar com preguiça, e a ave abriu o bico, como tantas vezes fazia, mas desta vez cantando.

VII No terraço, com a vastidão verde do Nilo à minha frente, untei-a, na sua nudez, de mel e leite de cabra. A luz do pôr do Sol incidia na vela solitária e eu senti a minha alegria a encher-se. Acordei antes do alvorecer ainda com o terror a pairar sobre mim.

VIII

poema e um texto em prosa poética. Em 2007 publica “Projecto Prometeus” e “Espi hos Sem Morte” e em 2008 publica “À Beira-Lua”, pela Corpos Editora e WorldArt Friends. Finalmente, 2012 encontra-o na colectânea de contos “A Boca da Noite”, pela editora Abismo Humano. Participa em revistas inglesas como a Silver Star, a SilkMilk, e vai participar na revista portuguesa Abismo Humano tanto como na revista brasileira Mallarmargens, onde começa a publicar as suas traduções. Em 2010 começa um programa de terapia por via da escrita criativa e inicia-se na performance poética, usando poemas exclusivos às performances. Estreia com “A Insolência das Janelas” para a qual realizou a banda sonora, em 2011 faz “Portas e Penedos” acompanhado em expressão corporal pela bailarina Soraya Moon e em 2012 “Multidão Memória” com a banda Alma Púrpura na ilustração sonora. Nesse mesmo ano interpreta também na performance de dança de Soraya Moon, “O Corpo das Palavras”, os poemas da mesma. Vai depois actuar com “Andreia Carvalho Gavita”, escritora brasileira, em Animula Vagula, e em “Língua de Fogo” na associação sociocultural Kultdulé, uma peça de teatro destinada a expressar a sua poesia. Por fim, interpreta em 2013 os poemas de Luiza Nilo Nunes em “O Ventre Constelado”, abrindo para o artista australiano Orryelle Defenestrate-Bascule no clube Heaven’s.

Aqui as noites são da cor da uva, os dias são como um pôr do Sol em constante chuveiro, são muito amarelos. Na longa marquise vidrada vi chegar um pássaro brilhante como a estrela prateada. Foi igual a ver

9


Labirintos prosaicos

X

cabeça enfeitada de branco, consegue calar-se tanto como eu. E quanto mais se fica a calar mais se lhe empresta o tamanho do céu aberto de

Sudoeste de França, 13 000 a.C.

noite, caido nas imensas areias. As ovelhas da sua família tresmalharam-se a estragar colheitas vizinhas, e para a multa foi

Com o degelo de Verão, descompusemos os quebra-ventos de pedra e,

vendida, eu comprei. Ashnan tinha então catorze sóis. No Verão, gosta

sombriamente, arrastámos até ao vale as tendas. Sentámo-nos a ouvir o

do rio a correr, a seduzir as palmeiras e o vime. Por vezes os homens

rio e as árvores, e porque ouvíamos diziam que pensávamos. Entre nós

vão ali deixar o barro a secar contra o astro, depois seguem as ruas

um homem existe cujo cabelo e a barba espessa eram da cor do Inverno.

de Ur, já nas ruas, enchem-se da gente nas ruas que segue igualmente

Estava antes dos outros estarem e as crianças gostam de se aninhar

para o templo no topo do Zigurate dedicado ao Pai, mas que desta gente

junto dele como debaixo das sombras. Um homem assim é muito raro,

é mãe. Em tempos estes sacerdotes de Nanna governavam a cidade, então

quase tanto como eu, que avistara apenas dois desde que o tempo se

eu podia perfilha-la com dignidade. Com os êxitos do rei, porém, e o

lembra até ali. As mulheres cobiçam a beleza dos animais, e todos os

afastamento do sacerdócio, tornei-me indesejado: os reis dominam com o

animais desejam, mais que alimento, ter pele na mulher.

que se conhece e por isso não amam o conhecimento.

Sopé dos Montes Zagros, 10 000 a.C. Em tempos experimentei uma casa ali. Embora Ur possua ruas largas a O homem cedeu ao chão. E o homem cedeu à mulher, porque a mulher

minha casa era precedida por uma variedade de ruas estreitas, possuia

deseja o chão como o animal deseja a mulher. A mulher atira o cereal

dois andares de barro sólido e um pátio central aberto. Ajudava

no ar e, deixando-se polinizar pelo solar vento, planta a vida das

Geme-enlil a vestir-se quando agraciava as vitórias do rei, mas era

coisas e faz brotar clareiras nos homens. Então, vai cobri-los de

quando de regresso, a ajudava a despir-se, que se fazia sacerdotisa.

barro e de colmo e os pés dos homens ficam chão. Criam as formas com

Dei também a comer uma flor branca do meu cabelo a Shulgi, o menino

as pedras e com a água e os homens comem-nas. O sílex da sua foice

soldado, que o fez novamente capaz.

aterroriza as tribos e os homens, domesticados, domesticaram até o Javali. Num trono de pedra, ensinei os símbolos da escrita a alunos sentados Turquia, 6000 a.C.

em argila: e enquanto caiam numa segunda camada do mundo eu respirava os seus corpos indefesos, em botão.

Dos vulcões os homens descobriram os ossos da luz: vi mesmo um espelho. Depois muitos, como flores. E da obsidiana, e do espelho,

XII

saiu, gigantesca como o meu pai - porque ao espelho não é o homem que existe -, a civilização. Ainda anormal, ainda muito nossa - sem ruas,

1480 a.C. - Egipto, Creta

apenas escadas e telhados, telhados e estrelas. Quando as pessoas morrem, os corpos são postos em cima de plataformas e deixados ao ar

Em tempos, observei um povo de homens trabalhar o osso luminoso do

livre, onde habito, longe das cidades.

mundo. Aqui, é o sangue do Sol - o ouro - que move os homens. Um anjo maior atravessa este deserto, num desafio aos outros, e chama-se Nilo.

XI

Passo a explicar: se os homens se defendem de Deus com um circulo de cidades, a civilização dos anjos é maior: é as estrelas e o seu chão é

Iraque, 2050 a.C.

o deserto vazio. Mas mesmo as cheias, heréticas, não duram sempre. As cheias acabam quando Outubro o faz, os escravos trabalham a mando dos

A terra luxuriava entre o tigre e o rio imenso, arduamente trabalhada

chanceleres com esforço redobrado, os caçadores de aves ficam

pelos homens. Cidades-estado, chamavam-lhe, o que significava que a

emboscados entre os juncos dos pântanos, a serviço dos aviários; os

terra e as pessoas em redor das cidades, estavam ainda assim nas

homens reparam os canais com terra, os pequenos barcos movidos a remos

cidades, e as cidades expandiam, possuíam um corpo mais vasto que a

estendem as suas redes durante a noite, uma linha de homens lavra,

alma. Ou simplesmente significava algo ainda mais incrível, que o

outra semeia os sulcos, e uma terceira, de animais, pisa a terra. O

homem vencera as secas. Descobriram a forma do mundo e aplicavam-na

que me espanta é a imortalidade dos nobres, nas paredes dos seus

sobre o próprio, e os ónagros vão a puxá-la e toda a natureza lhe

túmulos, representada pela vida quotidiana que lhes foi, em vida,

obedece.

negada, como se em morte pudessem lembrar-se finalmente e com toda a presença dos sentidos, da vida que não foi.

10

Há cinco sóis, respiro Ashnan. Com a sua pele de palha dourada, a sua


Labirintos prosaicos

Aqui, numa das ruas de Dier el Medinah, fui mestre de artesãos. Os filhos de Hori vinham brincar ao meu telhado com os amigos, colhi a sua mãe no deserto e vi-me devedor ao escriba. Visito a actual esposa, Tuya, que da minha Merit é irmã, mas como se emprenhou, em que isto é para si uma estreia, fica a rezar no santuário da casa, sem saber que ouço sempre que as suas palavras se deixam voar, e nós ficamos na sala central, onde Merit nada vê pelas janelas a nível do tecto e eu, dentro, olho de fora para dentro, por todas as janelas simultâneamente. É um daqueles sóis a pôr-se que torna a brisa apetecível e o calor das casas borbulhantes repulsivo. Como girinos a sair de lagos, os homens emergem nos telhados a colher os sopros com a alma aberta, cheia de ventosas. Os homens que vêm trazer vinho e cereais ao escriba tropeçam sempre nas crianças nuas e doentes de curiosidade pelas vozes absurdas da criação. Por vezes vejo-me a olhar-me por entre o ruído e a poeira das ruas, e fico com medo de Deus. Fico, também, a lembrar-me do desespero dos mortais. Os homens pensam que o anjo que rasga o deserto preparou um Egipto perfeito para a segunda morte, tolos todos eles, porque o Nilo é senão um sinal da sua decomposição final.

Com a febre de permanecer tempo demais na terra, mudo de terra, sem aviso, quase sem levar sequer lembrança, o sol abrasador de Creta por sua vez a lembra-se de mim num lugar que não visitei, Creta ela própria, e por isso eu subo o Nilo até às ilhas rochosas do Mediterrâneo para conhecer os Reis do Mar. As azeitonas eram as melhores, os palácios os mais belos, e os saltadores de touros, nos pátios dos mesmos, no mínimo, uma irregularidade. Ali reforcei a minha aliança com o Pai, que usava a moda das cortesãs e as saias a serem um sino dos céus e das concavidades terrenas, a segurar as duas víboras como quem impede o céu, em toda a sua raiva, de se atirar ao chão. Aqui, os deuses vão viver para as encostas e para as montanhas, mas ou os meus olhos estão cegos ou me não consideram digno: apenas encontrei selos e anéis.

11


flauta de pã

Ala

crime Enquanto

Príncipe enforcado

O que importa?

de uma lapela,

em heresia

O génio da lâmpada sem desejos...

uma lágrima

se esguia ,

que não corta...

em sonhos espera !

Silêncio!

Hera !

Que entrei

Uma vez ...

Caos... Cais...

num cemitério! ___

“Kairos”. ___

O bouquet da Princeza ! E eu que sempre pensei

No more dust

Essência !

que conhecia todos

shall be shed !

___

os teus segredos .

In the dark corners where

Toda a linguagem Caocidade!

I dwell !

não escrita , não dita .

“Perder os contornos,não a luz.” Andam as ( sombras

Que em mim crescias em espinhos

musas ) poetisas

Inside the lamp.

e dos meus dedos

sobre mim ?!

Sorrow.Alone.

nasciam rosas quando te tocava .

Que tipo de fogo

O que importa? O que importa se ____

derrete a pedra ?

o tempo a mim me pertence?

No silêncio ,

Espetaste-me as lágrimas ,

O que importa a sepultura adi-

de olhos fechados ,

ardeste-me e apagaste-me

ada?

escrevo no tecto da minha cabeça ,

Nada importa.

com uma chama extinguida ...

Ainda se forjam

Nada interessa.

o teu nome ausente .

os fogos dos dragões

Nada preenche.

___

no meio dos prédios,

O tempo não passa.

filhos do alcatrão

Mudo e estático.

Foste um farol

e do betão

Em busca da imagem perfeita.

numa nox sem fim

e das miragens florestas ...

Não interessa.

quando te conheci.

Os dias vão-se preenchendo

A solidão...,tudo.

muito rápido

de palavras que se esquecem ... ,

O vazio momentaneamente

como um incêndio

no fogo.

preenchido.

desconfortado!

___

A ocupação ilusória.

Mas ... Quero-te !

Sei que avançou

Não possuir-te ,

12

Um relógio que repousa sobre

de possessão.

a mesa sem descanso.

Não sou nenhum


flauta de pã

demónio.

no altar por casar... Porque o impor-

Acompanhar-te

tante

como a terra

é chegar a horas... E hoje houve

O romper das águas é mais atroz

em relaçao ao sol.

greve...!

assim que o vento se põe.

A lua

Enfim.

em relaçao à terra ...

Na Unicornezice, os eléctricos

As lágrimas já não têm olhos,

____

atravessam o tejo e as pessoas

nem morada... nem céu...

morrem electrocutadas... Ah! Mas já

... De quando me abandonaste num

Até como todos os momentos

Inverno...

aliás...

anfíbios... mas esses são só para os

Esquece-me!

turistas.

Encravo o remorejar

Para continuar a beber

Barcos percorrem carris e as pessoas

da terra sem nome, sem promessas

desoladamente...

afogam-se

num epitáfio a sangue que é o

no cais de embarque à espera.

nosso!

Os poetas morrem sozinhos.

Deloreans levam os padres às missas e os deputados voam em vassouras

Mas vá...

Na sombra por onde passou

mágicas em prol do bem da comu-

a luz...

nidade.

Ainda assim os pássaros

Mas o importante... O importante é

sabem de cor as cores dos

... O para sempre

chegar a horas.

equinócios.

constroi-se a partir de hoje...

___

Ainda assim despontam fragilizados, encantados em os

Não precisas

Talvez respeitem as amarguradas

lamentos

de estar assim vestido....

águas de Abril...

de muitos crepúsculos por vir.

Não precisavas de

Talvez respeites... sob debaixo

... Esquece-me.

assim estar vestido...

de um dorso indomável , ainda assim, são de ausência e de pó

Talvez respeites , assim,

Os teus olhos

o que às portas do que ainda resta,

as amarguradas

acompanharam o meu corpo...

de quando me abandonaste num

madrugadas de Abril

Inverno. No rose should be left alone Tive tantos mestres... Senão tenho fé

Resta-me chorar-lhes as partidas

não tenho perdão.

ao fundo da rua num reflexo negro do rio, onde não se espelha o dia.

Mãe .. !!!!!!! Porque é que me abandonaste ?!!!!!

Esquece-me!

____ Todas essas lágrimas foram dores de um parto de uma sangrenta manhã amordaçaSe dependêssemos dos transportes

da,

públicos... Bem que podiamos arder,

em que te vias em toda a luz singela,

morrer numa quaquer cama de um

de um parir de uma estrela donzelo!

qualquer hospital... Noivos deixarmos

Mas vá, esquece-me! 13


flauta de pã

filipa borges

Filipa nasceu em Lisboa, na madrugada de 8 de Fevereiro de 1992. Sobreviveu a uma gravidez de risco nos primeiros três meses de gestação. É um peculiar início de nota biografia, mas bastante revelador. Pode-se dizer que gosta de contrariar desde o útero. Caracterizada por aquela fúria de quem não se conforma, os altos e baixos vertiginosos da montanha russa das emoções, são a energia pulsional da sua escrita.

Diluição: da Potência ao Ser Sou, Agora Esbate a barreira espaço-temporal Existo no Infinito Agora Matéria inter-estelar em expansão Cresço à medida da grande rotação galáctica Sou sentimento em estado bruto Em elipses excêntricas me perpetuo no Multiverso Relógio de relatividades absolutas

Na concepção humana da realidade

Onde a valsa dos planetas se concebe Sinto… Mergulho, marulho, ascendo Converge e diverge a emoção em saltos dimensionais E a imaginação espasmódica dilata em profecias espaciais

Sou Apoteose… Sou xamã de poesias incendiárias Copulo palavras no papel Auto-reproduzo-me, hermafrodita Do pólo negativo ao pólo positivo Fecundo poemas – levitações No magnetismo da vontade indómita

Sou Tudo… O Passado e o Futuro encontram-se no plano terrestre A consciência cósmica germina sapiências E o corpo, mártir ancestral, atravessa as grandes privações da Terra Esse campo de batalha onde as cicatrizes ascendem ao sofrimento divino, purificador A mutilação do tempo limitado 14

E as impressões imagéticas Que se sobrepõem no teu pensamento Tu não sabes o que é isto Mas sabes que é real

É a intuição empírica do mundo A vontade indómita querendo expressar-se Concretizar-se O coração do coração do coração A inspiração subjacente em cada paradoxo Não existe Tempo… Aqui, Existo O Presente é uma dádiva do Universo Onde a Eternidade se joga nos saltos quânticos do sentimento Da Potência ao Ser, o Infinito é Agora -------------------------------------------------------Os loucos vingar-se-ão Ajunta-se um batalhão de insubmissos À porta da ala psiquiátrica De um qualquer hospital da cidade


flauta de pã

Planeiam o genocídio

Saltas dimensões

Esse apocalipse onde a loucura é expelida

No zapping onírico

E ferozmente atiçada

Dos teus sonhos

Contra as ovelhas do rebanho E as paredes brancas do asilo Pastos da sanidade temporária

Sedentas de frases blasfemas

Na cegueira dos intentos

Mefistófeles de bata branca

Desprovidos dessa vontade temerária

Torturando a enfermeira

Esse furor alquímico Que vigora no fundo da revolução

Os loucos vingar-se-ão

Os loucos vingar-se-ão

Altissonantes, entoarão O hino da vitória:

De tocha em punho, assim se prepara O incêndio nas infra-estruturas da sanidade

Não tomes a medicação

E, subitamente, alastra um vermelho vivo

Não te adaptes

Afluente da revolta titânica

Diz que não!

Maculando o chão branco do asilo São psiquiatras ensanguentados Esquartejados pela ilusão da normalidade Os loucos vingar-se-ão Altissonantes, entoarão O hino de sua ascese Toma a medicação Não questiones Não digas não! Gargalharão a ironia da vida Essa mesma ironia tão hilariante Tão ridiculamente sublime Atroz, na sua trágica comédia Gargalhada trucidada Esquartejada, ensanguentadas Gargalhada da criança endiabrada

“Assim se dá a poesia em mim. Continua tal como surgiu quando eu tinha 14 anos, faz parte da minha identidade. Essa noite em que, subitamente, saltei da cama acometida pelo furor da epifania. E foi nessa noite que descobri o vício de me arriscar nas curvas vertiginosas das palavras. As palavras… Focos de consciência sempre à beira do abismo. A poesia agressiva, espontânea, desconfortável, genuína, galática, sequiosa de mais, desejosa de se mostrar, intrusiva, intensa, incomensuravelmente humana e complexa, apocalíptica. E a página branca dilatando e convergindo à medida dos multiversos que carrego dentro de mim. A poesia transumana e a alquimia das emoções.”

link - http://diluvioencefalico1.blogspot.pt/ A pupila diabólica da inocência… Shhh… Quem te veio enfurecer? Criança dos sonos irrequietos Espasmódica, te diluis Converges e diverges 15


flauta de p達

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captações imaginárias

Fotografias de Mara D’Eleán

elfic wear “O meu nome é Angélica e a Elfic Wear surgiu na minha vida em 2009 com a necessidade de eu tornar em realidade todas as personagens que habitam dentro de mim. Desde pequena que crio roupas e acessórios para mim, pois muitas vezes não conseguia encontrar artigos que gostasse. Isso mais tarde conduziu-me a criar a marca Elfic Wear dando origem a inúmeras personagens e a um leque variado de vestuário alternativo. Os mundos fantásticos do Tim Burton, Final Fantasy, Hans Zimmer, Einstein e outras personalidades que admiro, são a minha maior referência a nível de inspiração.”

17


CAPTAÇÕES IMAGINÁRIAS

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“Rainha da Terra”


CAPTAÇÕES IMAGINÁRIAS

aRIADNE Nascida de pais portugueses numa pequena cidade no Sul da Alemanha, Ariadne seguiu para Portugal com nove anos de idade. Estudou línguas e literatura em Lisboa, graduando-se de seguida em Belas Artes. Um aspecto importante do seu fundo enquanto pessoa e artista é o interessa na filosofia, na metafísica, história, antropologia e ciências naturais.A sua mente inquiridora alimenta-a de questões para as quais é necessária expressão.

“o dEPENDURADO”

“ Baphomet (O Mago)” 19


CAPTAÇÕES IMAGINÁRIAS

ENTRE\VISTA ABISMO HUMANO: Qual a tua cor favorita, e porquê?

entrada a quem não andar espantado de existir”, e tinha razão.

ARIADNE: É o branco, porque é a mistura expansiva de todas as

Algo me diz que as respostas a todas as questões estão em tudo

cores, mas claro, estou a fazer batota...

e em todo o lado.

AH: Como definirias o teu estilo e que culturas ou movimentos

AH: Acreditas que o simbolismo e o realismo podem estar depen-

culturais o terão influenciado?

dentes um do outro para transmitir uma mensagem?

AR: É difícil dar nome a um estilo, sobretudo quando se está do

AR: Podem estar mas não é absolutamente necessário. Uma repre-

lado de dentro da explosão. Diria, talvez, que o meu trabalho tem

sentação figurativa não tem de ser realista para ser compreendida.

mais de simbólico do que de surrealista; e diria que tem mais de

Qualquer rabisco, minimamente evocativo de uma forma, é o sufi-

filosófico do que de artístico.

ciente para o cérebro do observador fazer o resto. Alem disso, há

Quanto a influências, estudei autores tão díspares como Dürer,

20

muitas outras maneiras de transmitir uma emoção ou de provocar

Munch, Dalí, Pollock, Klimt e Van Gogh, quando ainda estava na

uma associação de ideias, tais como a cor, o ritmo ou a escala.

escola. Em termos de referências visuais, foi na amálgama da

AH: Retiras inspiração de poetas e escritores? E mais inspiração de

História que adquiri as primeiras ferramentas. Mais tarde, já com

que tipo de literatura?

certo distanciamento em relação à estética instalada nos meios

AR: A palavra escrita causa grande impacto em mim, quando é de

académicos, comecei a alimentar-me de perguntas e questões,

qualidade, e é frequente transfigurar-se, mais tarde, num desenho

ou seja, da física e da metafísica. Nessa altura também deixei de

ou numa pintura. Reconheço que em termos de literatura, é a

tentar definir o meu trabalho – nem sequer penso se pode ou não

poesia que me provoca mais reacções, talvez porque seja mais

pode ser considerado arte – o que faz com que esta resposta seja

gutural e menos descritiva. Um poema já é uma pintura, e vai um

a coisa mais completa que já se produziu sobre o assunto.

passo muito pequeno até às minhas imagens, que tendem a ser

AH: Acreditas que a terra em teu redor será uma fonte de inspi-

um discurso para além das palavras.

ração e condensação imagética? Se sim, de que modo?

AH: Considerarias que existe pelo menos um teor semi-sexual nas

AR: Sim, é o que tenho de mais imediato como fonte de estímulos.

tuas ilustrações?

O Cosmos é apaixonante, intrigante, e suscita-me um permanente

AR: Gosto de representar a figura humana, em especial o corpo nu,

estado de estupefacção. Como disse o J.G. Ferreira, “é proibida a

como ferramenta simbólica e de expressão. Algumas imagens têm


CAPTAÇÕES IMAGINÁRIAS

Tento traduzir possíveis facetas da realidade, fios de pensamento, questões e sentimentos humanos, mais ou menos universais.”

“ÁS de discos”

“trÊs de espadas”

uma carga erótica explícita, outras nem tanto... Em todo o caso, a

AH: Que símbolos usas mais recorrentemente? O que transmitem?

sexualidade e o impulso de vida são dos pilares que nos sustêm

AR: Os mais frequentes são as figuras humanas, as plantas e as

enquanto animais. É um ingrediente indispensável para poder

paisagens. Também incluo algum simbolismo hermético, mas que

transmitir certas emoções e ideias.

pode ser facilmente apreendido por qualquer pessoa minima-

AH: Qual, no geral, a reacção do público aos teus trabalhos?

mente interessada no assunto. Na verdade, as minhas imagens são

AR: No geral, é boa. As pessoas sentem algum fascínio ao observar

compostas por várias camadas simbólicas, que podem ser lidas em

as minhas imagens e, frequentemente, interpretam-nas de forma

conjunto ou separadamente. Noto que há sempre uma ou várias

original. Este fenómeno dá-me mais material para reflexão e

que saltam à vista dos observadores. E, como disse antes, também

acaba por se reflectir, mais tarde, em mais imagens – gera-se um

surgem leituras alternativas e igualmente plausíveis.

círculo. Também já tive pessoas a reagir mal, ficando em choque,

AH: O fundo de uma ilustração é tão importante para a tua men-

com medo ou ofendidas, mas felizmente são casos muito raros.

sagem quanto as figuras centrais?

AH: Qual a cor que mais associas à transcendência e qual a cor que

AR: Sim, todos os elementos compositivos contribuem, e geral-

mais associas à paixão?

mente são pensados para criar um efeito específico.

AR: À superfície, violeta e vermelho. Mas se esmiuçar detalhes, vou

AH: Os padrões e a repetição são importantes?

ter de fazer batota outra vez...

AR: Sim, é a natureza. Todo o equipamento corpóreo de que dispo-

AH: Procuras, com a tua arte, uma afirmação da vida?

mos foi feito para reconhecer, interpretar e reagir a padrões.

AR: Não é uma afirmação, de todo. Tento traduzir possíveis fac-

AH: Por fim, há algo que queiras acrescentar?

etas da realidade, fios de pensamento, questões e sentimentos

AR: Ainda não tenho um site mas podem seguir o meu trabalho

humanos, mais ou menos universais. Nisso, procuro resolver os

através do Facebook: https://www.facebook.com/AriadnesArt

meus próprios problemas, e os desenhos/pinturas acabam por ser o produto residual desse processo. AH: Existe uma diferença simbólica, no teu imaginário artístico, entre o mundo da figura do homem e o mundo da figura da mulher? AR: Em essência, não. Dependendo do contexto, pode ser relevante representar uma mulher em vez de um homem, ou vice-versa. Claro que o género é importante e que tem valor simbólico específico, mas é circunstancial.

21


CAPTAÇÕES IMAGINÁRIAS

akasha báthory o que tento fazer no meu trabalho como modelo é arte e nada mais que isso”

fotografia de josé calheiros Akasha Bathory é uma modelo fotográfica alternativa numa carreira rapidamente ascendente, cuja naturalidade e facilidade em ser capturada tem vindo a entusiasmar um numero crescente de fotógrafos. A Abismo Humano decidiu entrevistá-la.

ENTRE\VISTA

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ABISMO HUMANO: Olá Akasha, como estas?

Rice. Quanto ao Báthory adoro a condessa húngara e achei que a

AKASHA: Estou bem obrigada.

junção dos 2 seria perfeita.

AH: Como descreverias aquilo que fazes com o teu trabalho de

AH: Como é seduzir a câmara?

modelo?

Ak: A ligação entre modelo e câmara ou fotógrafo acho que são

Ak: Bem, o que tento fazer no meu trabalho como modelo é arte e

imensamente importantes, embora por vezes não tenha muito

nada mais que isso, normalmente as modelos a que estamos

tempo para conhecer todos os fotógrafos com quem trabalho, mas

acostumados não fazem arte e sim publicidade, o que normal-

basicamente é estudar bem o ser ou personagem que se deseja

mente dá mais dinheiro, mas devo admitir que não é bem nesse

em cada foto para poder entrar e conseguir dar ao fotografo e ao

intuito que o faço. É mesmo pela arte em si, visual, o que se

trabalho o melhor de mim.

sente através da imagem, do que pode ser dito sem nada se dizer.

AH: Como entraste na vida de modelo?

AH: Porquê o nome de Akasha Báthory?

Ak: Entrei na vida de modelo um pouco por conselho de amigos,

Ak: Quanto ao meu nome, Akasha tem inúmeros significados místi-

sempre me disseram que achavam que tinha boa imagem, que

cos o que me fez apaixonar por ele e digamos que sou fiel a Anne

seria possível, então pensei “porque não” e aqui estou.


CAPTAÇÕES IMAGINÁRIAS

fotografia de renato abreu

fotografia de fernando branquinho

AH: Qual o estilo de fotografia que mais gostas de fazer?

habitual.

Ak: Os trabalhos que mais amo são da Dark Beauty e da Critica

AH: Numa sessão, o que é necessário para entrares completamente

Visual, mas sou uma amante da fotografia em si.

no momento?

AH: Que tipo de pessoas gostarias de conhecer no teu trabalho?

Ak: Quando se vai para uma sessão fotográfica (pelo menos eu

Ak: Eu felizmente tenho conhecido pessoas fantásticas no meu

falo por mim) gosto de estudar bem a personagem ou o trabalho

trabalho, tal como tudo na vida também conheço pessoal que

pretendido para poder ir ao máximo, ao encontro daquilo que é

nem valeria a pena ter conhecido mas a vida é feita disso mesmo,

pretendido, no momento é uma questão de vestir literalmente

quanto a quem gostaria de conhecer, seria talvez e sem dúvida a

o ser ou perssonagem pretendida, por vezes é mais fácil do que

Angelina Jolie mas porque sou uma verdadeira fã do seu trabalho

parece. Cada personagem ou ser interpretado nunca deixa d ser

e das suas lutas, amo também o trabalho de Alex Stoddard e

inteiramente nosso, ou nós mesmos, no nosso melhor ou pior. Cabe

acredito que seria um prazer conhecê-lo, amo igualmente os tra-

a cada pessoa admitir se o é ou não. Por vezes o vestir a pele de

balhos de Katarzyna Konieczka.

algo que já fomos ou que não queríamos ser não significa que o

AH: Costumas ser o centro das atenções ou és low profile?

somos ou que o gostaríamos de ser, mas todos temos a capacidade

Ak: No meu trabalho acabo por ser um pouco o centro das

de vestir muitos seres ao longo dos nossos dias e vidas. É como ir

atenções mas ando sempre a tentar ser low profile.

ao guarda-roupa e escolher o que vestir.

AH: Como é que as pessoas na tua vida recebem o teu trabalho?

AH: E o que te distancia?

Ak: Bem ai está um tema delicado, nem todos aceitam o meu tra-

Ak: Bem, eu considero-me uma pessoa muito profissional, mas não

balho da melhor forma e devo dizer o mesmo de familiares, mas

hesito em criar uma certa amizade com quem trabalho pois a

a arte não é suposto que agrade a todos e muito menos a critica.

ligação entre profissionais facilita imenso, na fotografia o impor-

Não será por isso que irei deixar de a fazer.

tante é a ligação e o à-vontade entre fotografo e modelo em

AH: Como escolhes o fotógrafo?

questão. Isso não quer dizer que se conheça sempre as pessoas

Ak: Bem são mais os fotógrafos que me escolhem a mim, mas por

certas e que sabem distanciar o que é amizade profissional do

vezes sim cabe-me a mim escolher, não é fácil escolher ou ver se é

resto.

serio ou nem por isso, é uma jogada de sorte por vezes e de con-

AH: Como ouviste primeiro falar da Associação de Artes “Abismo

hecimentos (palavra passa palavra).

Humano”?

AH: Costumas trocar impressões com outros modelos?

Ak: Ouvi falar da Associação de Artes “Abismo Humano” a partir de

Ak: Por vezes o trocar impressões com outros modelos é compli-

um amigo, André Consciência.

cado pois é um ramo muito competitivo, infelizmente não é muito

AH: Obrigado! 23


a fotografia de

ana isabel

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CAPTAÇÕES IMAGINÁRIAS

“Eu nasci no belo arquipélago dos Açores, Portugal, mas estou actualmente a residir em Londres, Reino

Unido. A ilha onde eu nasci - São Miguel - é conhecida como “A Ilha Verde” devido à sua impressionante e cativante beleza natural. Não é com estranheza, que esta visão paradisíaca do mundo, desde tão tenra idade, deixou um grande impacto não só em mim, mas como na minha arte. Eu considero a Natureza uma forma de magia e ao longo dos anos, Gaia - como eu chamo essa poderosa força de energia que nos conecta - tornou-se a minha maior inspiração; pintando as minhas fotografias ao mesmo tempo que eu capturo a essência das pessoas ao lado do nosso encantado mundo natural. O meu amor pela natureza, juntamente com o meu fascínio por histórias antigas - onde as mulheres eram vistas não apenas como belas e poderosas, mas como deusas - me levaram a iniciar dois novos projectos: “Wytches and Seers” e “The Many Faces of Gaia “. Com estes projectos, eu espero recuperar os poderes e direitos que as mulheres um dia já tiveram, e também ressuscitar a conexão com o nosso planeta e todos os seus seres vivos, sejam animais ou plantas, algo que todos nós parecemos ter quase esquecido

Website: https://www.ana-isabel.com 500px: https://500px.com/ana-isabel Instagram: @Ana_Isabel_Photography DeviantArt: http://anaisaebel.deviantart.com/ Flickr: https://www.flickr.com/photos/ana-isabel/ Facebook: https://www.facebook.com/AnaIsabelPhotography 25


“countess erzsébet”

bruno tonelo 26


CAPTAÇÕES IMAGINÁRIAS

“judgement”

“eclipsim ostentor mortem”

“vacum”

Nasceu a 11 de novembro de 1981. Dedicado ao desenho e pintura há 20 anos, este auto-didacta busca a sua inspiração no oculto, música, mitologia e nas suas próprias experiências, dando origem a obras levadas ao mais ínfimo pormenor, envoltas num clima de misticismo e erotismo. www.facebook.com/ToneloArt

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CAPTAÇÕES IMAGINÁRIAS

michele hasselti

ENTRE\VISTA

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ABISMO HUMANO: Onde e quando começaste a fotografia?

apareceu com a sua dslr e microfones, foi a loucura! Quando saí da

MICHELE: Conheci fotografia em criança, Lisboa, influências dos

secundária fui logo trabalhar e o meu segundo emprego foi num

meus pais. A fotografia “ingénua”, o tudo e nada, e reparo que até

maravilhoso estudio de fotografia, onde conheci a minha primeira

tinha jeito com enquadramentos! Só tive noção do que posso fazer

mestre que me viciou o bichinho existente, a Carla Esteves!

com ela mais tarde, em Paredes de Coura, estudei informática e

Mais tarde regressei à capital para estudar fotografia no Instituto

tinha uma disciplina sobre edição de imagem, quando o professor

Português de Fotografia, e foi awesome! Conheci grandes fotogra-


CAPTAÇÕES IMAGINÁRIAS fos de várias “áreas”, incluindo colegas do curso dos quais fiquei fã,

MH: Como “todos” os fotógrafos sonham ou alguma vez já

nomeio por exemplo o Paulo Bailhote com o seu sotaque algarvio

tropeçaram nesta ideia de percorrer o mundo com a máquina

e um olhar fora da caixa recheadíssimo de emoções, também tive

na mão numa auto-caravana... Esse também é o meu sonho!

a honra de ser aluna da fotógrafa Espanta Espiritos, Rita Carmo!

(Interessados, liguem-me para agendarmos isso!) Mas fico pelos

AH: Qual a região que mais gostaste de fotografar?

sonhos mais pequenos, desde criança que desejo ir a Venezuela,

MH: Eu adoro fotografar seja onde for, mas o que mais gostei foi

Japão, Egipto e Escócia... Começaria por aí!

para um trabalho com o tema “Objecto quase perfeito” para a disci-

Quanto a modelos, não sabia fotografar pessoas, nem tinha

plina Fotografia, usei as paisagens do distrito de Viana do Castelo.

qualquer ideia de como fazer... Até que me aventurei a fotografar

Naquela altura as saudades de casa apertavam e isso também sig-

os pobres coitados dos meus amigos! (Love you all!) Sinceramente,

nifica ter saudades do cheiro, das cores e dos sons das paisagens

ainda hoje não sei fotografar pessoas mas gosto de conjugar pais-

do belo Alto Minho! Não digo que é o que mais gosto mas posso

agens/ambientes/ruínas com corpos humanos! Gosto de sentir o

dizer que foi o mais sentido!

que eles sentem e conseguir transmitir. Gosto de os fazer chorar

AH: Se pudesses escolher no mundo, qual a cultura que mais

e passado uns segundos fazê-los soltar gargalhadas! Não é só o

gostarias de fotografar? E quanto a modelos?

captar de uma imagem, é necessário congelar algo sentido e o

“clique” entre modelo e fotógrafo é fundamental, “não gosto de

MH: Portugueses: Paulo Dias, Bruno Ferreira (reload-smith), Tânia

comida sem sal”! Se pudesse escolher um modelo? É simples,

Ribeiro, Carla Esteves, Ricardo Santos Luis (Art In Light), Pedro

Angelina Jolie é o pacote completo! Transpira personalidade, um

Rebelo, Lip Photography, Nuno Bacharel (Baalrech), Francisco Feio,

misto de sedução com doçura e um ar de sacana! Oh Jolie... liga-

Luis Carvalhal, Ana Dias, Nuno Trindade, Paulo F. Mendes, Vânia

me também!!!

Santos... não consigo lembrar-me de mais!

AH: O que mais te chama a atenção num modelo?

Internacionais: são tantos e tão bons... Vou referir apenas alguns

MH: O olhar (e os dentes)!

dos que mexeram comigo e me lembro de momento.

AH: Quais os teus fotógrafos favoritos, portugueses e internacio-

Miss Aniela, Steve Winter, Peter Beard, George Kelly, Kaylin

nais?

Amabile, Arthur Manson.

29


CAPTAÇÕES IMAGINÁRIAS

AH: Quais as tuas influências? E sentes que estão ligadas à

AH: É mais importante a luz e a cor ou a história numa fotografia?

fotografia ou a outras formas de arte?

MH: Damn you!... O importante que fica registado é a história, essa

MH: Tudo o que me rodeia, principalmente porque a minha curi-

consegue ser partilhada de geração em geração mas sem a luz...

osidade pesquisa sobre tudo e nada! Cinema, videos de bandas,

AH: O que achas que torna uma fotografia tocante?

séries, desporto, dicionários de línguas, e principalmente video-jo-

MH: O que o autor sentiu para fazer essa fotografia!

gos. Sinto que está tudo ligado a fotografia, tudo pode ser fotogra-

AH: Como definirias clareza e visão numa fotografia?

fia desde que haja luz! Tudo e nada pode inspirar a uma obra.

MH: Simplicidade. Quanto mais simplicidade, mais fácil é o leitor

AH: Achas que os mestres de cinema, da escultura e da pintura

focar-se no ponto chave.

podem ser importantes para a fotografia?

AH: A fotografia desempenha, para ti, um papel de intervenção

MH: Acho, podem e são! A evolução da fotografia passa por outras

social?

artes, os pintores e ecultores retrataram-se like a boss na altura,

MH: Possui um papel de intervenção social, mas não uso esse

não era qualquer um que conseguia ter uma selfie e muito menos

propósito, além de ter algumas que preencham esse fim.

um “pau de selfie”! Na minha opinião complementam-se.

AH: A fotografia pode ser uma linguagem que ultrapassa as bar-

AH: Como sabes qual é o momento ideal para disparar quando

reiras culturais?

estás a fotografar?

MH: Sem qualquer dúvida! Fotografia e as outras artes já referi-

MH: O acto de disparar é automático mas o que me leva a fazê-lo

das.

é a luz. Não sei como sei qual é o momento ideal, mas com o pas-

AH: Conta-nos uma boa história que tenhas vivido enquanto

sar do tempo eduquei-me a não gastar “cliques à toa” e fotografo

fotógrafa.

apenas quando realmente vale a pena, quando sei que senti e que

MH: Desde desporto, festivais, estúdio, casamentos...

o leitor irá absorver algo, mesmo que não o perceba.

Passei por bastantes histórias!! Vou contar uma aventura no

O que senti na pele foi mesmo isso “FUI RAPTADA!!! Estão a mexer nas minhas máquinas!!!!”

30

airsoft. Fotografei durante 4 anos e num evento de 3 dias com

fotografar!! Vais levar uma solha que até andas de roleta!”, quem

um calor insuportável e um clima abafado, tive a minha própria

me conhece consegue imaginar! Estava com um grupo de fotojor-

personagem sem ser como jogadora com arma em punho, foto-

nalistas de passagem no território deles, eramos prai 5, quando do

jornalista. Num grande evento prai com 200 jogadores ou mais,

nada começam a chamar-nos e dizem: “A de preto! Queremos a de

(nem os vi a todos e não era só da camuflagem!) com o objec-

preto!” com o pânico instalado trocamos todos olhares, para não

tivo de angariar alimentos para uma causa, não me lembro de

variar eu era a única de preto. Ok devem ter algum recado, pensei

pormenores mas pesquisem, vale a pena seguir o airsoft em

eu... Sempre com marmanjos a apontarem-me as suas armas, o

portugal, eles fazem várias campanhas desde ajuda a associações

que já estava completamente habituada, levam-me pra dentro

de animais como recolha de tampinhas e de alimentação, entre

da tenda deles e pedem a máquina, fazendo um interrogatório

outros... Continuando... Mal sabia eu no que me estava a enfiar!

gigante sobre o inimigo e o espaço! Os tremores frios!! Já estava

Os malandros podiam raptar-me e usar as minhas fotos para saber

como a outra “faça-me tudo mas tire a faca de cima de mim!”...

como era o território inimigo! Eu não fui avisada disto!! O que

(risos, é tão estúpido escrever risos!) No final foram simpáticos,

senti na pele foi mesmo isso “FUI RAPTADA!!! Estão a mexer nas

elogiaram as imagens que viram e ainda me deram uma sandes,

minhas máquinas!!!! Mas o que é que se passa aqui!? Só vim para

bolachinhas e água! Esperta como sou, só revelei as informações


CAPTAÇÕES IMAGINÁRIAS

verdadeiras se me pagassem e me deixassem ficar protegida

AH: Alguma vez fizeste uma viagem fotográfica?

no seu campo porque era o que tinha mais sombra e o jogo iria

MH: Fotografo a viajar e viajo a fotografar!

desenrolar-se por mais tempo ali com os manifestantes revoltados

(Já percorri norte a centro-sul para fotografar arquitectura...

que queriam as suas ovelhas de volta! No final do jogo, o fotojor-

Conta?)

nalista com mais dinheiro ganhava uns brindes... E lá está, ganhei

AH: Tens percorrido um caminho recentemente com os Big Red

eu, não me lembro o quê!

Panda. Fala-nos deles, de como os conheceste, e o que despoletou

AH: Qual a tua foto mais icónica? E porquê?

o teu interesse?

MH: A que fiz com a minha querida Catarina Araújo, aquela PB, está

MH: 1º obrigada por usares a palavra despoletou, é lindíssima

numa lareira sem cabeça! Espalhou muito terror pelo facebook!

mas não me vou alongar mais sobre ela! Ora, conheci os Pandas

O melhor comentário que recebi foi “ai que horror!”, perfeito, era

porque eles... me despoletaram! (risos) São jovens de trabalho

mesmo isso! (Ela correu a ruína toda, viu uma banheira toda suja

e de trabalho muito bom! Têm mais projectos musicais juntos e

com uma entrada de luz da janela, saltou logo para dentro! Viu a

individualmente de diversos géneros, The Kanguru Project, AETNA,

lareira e toda entusiasmada fez o mesmo... Foi um clique imedi-

Monster Sex, The Picasso Killer, Dream Youth, Musica Profana, Big

ato entre nós! Ela é um doce, muito dinâmica! Espero em breve

Red Panda e um novo que está na ecobadora e vai dar que falar!

poder voltar a fotográfa-la! Aproveito para dizer, se és fotógrafo e

Vi uma actuacção de Monster Sex e fiquei in love! Partiram tudo!

estás a ler isto, precisas de uma modelo alternativa que tenha o

Pesquisei na net, adicionei no facebook... (típico né, não se pode

objectivo de evoluir e ser cada vez melhor a cada foto que faz?

ver uns rapazitos jeitosos em palco que vai-se logo adicionar!). E

Catarina Araújo!)

depois passado prai 2/3 anos(? eu sou muito esquecida!) falei com

AH: Falando de outros fotógrafos, qual a tua fotografia favorita?

2 membros da banda. Foi engraçado, porque conheceram uma tal

Porquê?

de Michele no festival de Paredes de Coura (onde já estiveram pre-

MH: Damn you, again!... Não consigo ter uma favorita, é impossiv-

sentes com AETNA, Monster Sex e mais uma, não me lembro qual!)

el! Porquê? Porque depende do meu estado de espirito a escolha

e ambos me perguntaram se era eu, “olha m’estes sanfonas a usar

de uma fotografia! Hoje sinto o que uma representa, amanhã sinto

o mesmo engate!” pensei eu e disse que não era a Michele deles.

outra, mas continuarei a amar todas! (Estou a falar de mulheres ou

Conversa puxa conversa, senti-me de imediato puxada a fotogra-

de fotografia? risos)

fa-los! Agora apercebo-me que afinal eu é que sou a Michele

Fotografo a viajar e viajo a fotografar!”

deles! Obrigada Michele, seja lá quem fores, pela oportunidade!

como o vão transmitir ao publico, saber o próximo passo que vão

Sempre tive o bichinho para fotografar concertos, recordo o meu

dar em palco... Conjugar isto tudo ao ritmo da iluminação e cap-

1º oficial com acreditação, foi Crowbar e Sepultura (não sei as

ta-lo! Que normalmente é um pesadelo e isso pica ainda mais o

restantes!) para a Rádio NemesisTv, (mas lembro-me que o Benfica

meu bichinho! Ou não há espaço para fotografar, ou não há palco,

estava a jogar a essa hora e perdeu!... (Murro na mesa!)).

ou não há luz, ou sou muito baixinha e o publico tem 2 metros

É todo um mundo incontrolável, repetitivo como muitos acham...

de altura! É brutal ir para trabalhar sem saber o que nos espera!

Mas incontrolável! E aí está o bichinho a sentir-se desafiado! O

E meus caros profissionais de iluminação, bandas que exigem luz

maior desafio é conseguir acompanhar uma banda, 5 elementos,

baixa ou apenas uma cor... Eu sei que o fotógrafo tem de se adap-

absorver as energias e a personalidade que cada um tem. Saber

tar (e possui essa capacidade) a cada ambiente que encontra mas

como transmitem e o que sentem a cada momento das suas musi-

não se esqueçam que a vossa imagem também é vendida graças

cas, a forma como se deixam penetrar e envolver pela sua obra e

aos grandes profissionais de fotografia e vídeo que vos acompan31


CAPTAÇÕES IMAGINÁRIAS ham. Uma musica com boa luz não vos doi e tiram muitas dores

ta, Kevin Pires, guitarrista cabeludo e o Francisco Dantas, baterista.

de cabeça a fotojornalistas que estão ao vosso lado a dar o litro

A razão é óbvia, microfones, pratos e baquetas mesmo na cabeça

tanto quanto vocês!

ou a sair dela, cabelo e mais cabelo pelo rosto com movimentos

AH: Como tem sido o teu percurso com a banda?

pantene! E a concentração e entusiasmo de Francisco, sente muito

MH: Awesome! (Consciência, sei que ouviste a minha voz a dizer

o que faz e sem o uso de flash com iluminação baixa, a velocidade

isto!) Acompanho-os desde o inicio dos seus eventos como

do disparo é reduzida, logo torna-se complicado fazer algo bem

Pandas... Evoluíram e muito a sua presença em palco. Estão

focado e nítido quando ele se encontra no climax, então o bichin-

sempre a pensar em mil e uma coisas para as bandas, novos

ho tira partido disso para fazer algo mais... digamos artístico!

projectos, investimentos em material, “embelezamos” para a sala

Desejo continuar a trabalhar com eles, já são os meus pandinhas

de ensaios... São um poço de cultura musical e todos possuem

de estimação!

um humor requintado e negro! Tive o privilégio e a honra de os acompanhar também no vodafone mexefest em Lisboa e foi um

AH: Qual o legado que gostavas de deixar?

orgulho quando os vi a passar na sic! Este ano já têm agendado

MH: Um livro “Sou bué de pró”. E uma Hasselblad... oh quem me

grandes festivais, em Março vão ao “Sons de Vez” com Bizarra

dera deixar uma Hasselblad!

Locomotiva, para Agosto também já têm outro festival e várias

AH: Por fim, fala-nos de como conheceste a Abismo Humano.

datas em espaços mais perto de si! Como não sei se posso falar,

MH: NÃO ME LEMBRO!!! Mas conheci pessoalmente por causa da

passem pelo facebook.com/bigredpandamusic e estarão lá todas

exposição fotográfica no Per Lunam! Não foi? Antes disso foi o

as informações! O panda que mais gosto de fotografar é o Nuno

facebook que nos apresentou! Não foi? Agradeço mais uma vez

Silva, o baixista parte a loiça toda! É muito expressivo corpo-

à equipa Abismo Humano, pelo trabalho e folêgo incrível, pelos

ralmente e jogando com o ambiente apresentado resulta quase

convites para expor e para participar novamente nesta revista! O

sempre em boas fotografias! O mais fácil de fotografar é o Hugo

vosso apoio dá-me força para continuar com mais garra! Obrigada

Quintela, guitarrista, pela sua forma de sentir o som, não é expres-

Consciência, és o maior!

sivo corporalmente, logo é mais fácil ter fotografias bem focadas, etc., mas é muito fotogénico e fica sempre bem! Os mais dificeis de fotografar são os restantes, Pedro Ferreira, vocalista e guitarris-

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CAPTAÇÕES IMAGINÁRIAS

cátia ferreira “Actualmente vivo em Penafiel, tenho o curso de Artes Gráficas, feito na Artística Soares dos Reis, no Porto. Influencio-me pelo lado obscuro e sombrio da arte, tendo como principal inspiração a artista Laurie Lipton.”

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micaela

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morgado


CAPTAÇÕES IMAGINÁRIAS

Micaela Morgado, mais conhecida por Miky, é da zona de Santarém e neste momento está a viver em Aveiro. Desde há muito que se interessou pelas artes, mais em termos do desenho, da pintura e, também da música. Mais tarde surgiu o gosto pela tatuagem e a sua aprendizagem. Actualmente tem o curso de Artes Visuais e a indecisão face a entrar na universidade ou começar outros projectos, é enorme! Com 19 anos, aventura-se em aprofundar as suas ideias e ilustra-las no papel. Escolheu, a nível artístico, o nome Mikz, fazendo lembrar Mix, os seus trabalhos transmitindo uma mistura de ideias, críticas, mensagens e de sentimentos. Uma mistura de materiais… Não se rende apenas a desenhar ou a pintar, porque acha que um artista não se pode focar só numa coisa. A colagem é algo que está muito presente na sua vida, usando a maior parte das vezes o surrealismo como ferramenta principal para a crítica que está por detrás de cada colagem. No que toca à música, nutre um grande amor, principalmente pelo mundo mais underground, tendo neste momento um blog, chamado Round Trip relacionado com a divulgação de bandas, notícias e claro, artwork! Todo o blog se debruça para o mundo do psicadelismo dentro do rock e os seus subgéneros.

No tumblr: roundtripp.tumblr.com No facebook: www.facebook.com/mikzarrrrtm No behance: https://www.behance.net/mikzzzart No facebook: www.facebook.com/ROUNDTRIPSTONER

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arautos sonoros

SUICIDE ECHOES - the curse Suicide Echoes é um projecto musical nascido em Coimbra (2007), composto por um único membro (Sid - Sidnay Aeternus). Após alguns anos de busca por outros elementos para a criação de uma banda, e depois de esta se revelar infrutífera, Sid decide então desenvolver o seu trabalho sozinho e dar-lhe o nome e de “Suicide Echoes”, misturando várias influências desde o Deathrock ao Darkwave, do Gothic Rock ao Neofolk. https://abismohumano.bandcamp.com/album/the-curse

SUICIDE ECHOES - They’re Killing Us They’re Killing Us é o oitavo álbum de Suicide Echoes, com uma sonoridade gótica e darkwave para fãs de Fields Of The Nephilim, Christian Death, Garden Of Delight e artistas semelhantes. https://abismohumano.bandcamp.com/album/theyre-killing-us

LAUTIR - Prayer / Vel Reguli Um projecto de Sidnay Aeternus aka Sid Suicide, aberto a participações de outros artistas das mais diversas áreas, pretende abordar o tema dos rituais misturando diversos estilos... Desde o ambiental ao neofolk, do Industrial ao experimentalismo... https://cosanostradarkclubofficial.bandcamp.com/album/ prayer-vel-reguli

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arautos sonoros

Code : Red Core - Lady White Death Code : Red Core´s é o segundo projecto do músico independente “Ycarus Red Core” (ex Gothic Guy and Vanilla Pleasure), criado em 2011. O projecto ronda o movimento industrial e electrónico, sendo este o lançamento de Halloween 2014. https://abismohumano.bandcamp.com/album/lady-white-death

Korvustronik - Contra a Pobreza Humana A compilação Korvustronik 2 - “Contra a pobreza humana” (v/a), é uma compilação musical que contempla vários artistas e que tem como foco a luta contra a fome em redor da humanidade. https://korvustronik.bandcamp.com/album/korvustronik-2-contra-a-pobreza-humana-v-a

Xisto - Xisto Xisto é um projecto português de Dark ambient ritualista criado por Mary Nymphection em parceria com Feline Machine. Na sua sonoridade o Xisto combina também elementos xamânicos e étnicos, sobretudo na percussão e existe também uma vertente poética inerente. https://korvustronik.bandcamp.com/album/xisto

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arautos sonoros

Mary Nymphection - Wasted Past In Lusitania A Mary Nymphection é uma artista/actriz/música multi-instrumentista crossdresser e bissexual portuguesa que age no espectro das artes em geral incluindo a multimédia e também é a directora e lider da Editora/Distribuidora de música Lateex. Existem vários projectos associados à personagem da Mary Nymphection, entre quais se destaca o polémico Leite, entre outros pequenos projectos de estúdio e o projecto principal intitulado Mary Nymphection. A sonoridade destes projectos varia muito, mas essencialmente combina parte da cultura musical industrial com outros estilos fora dela. https://mochodeprata.bandcamp.com/album/wasted-past-in-lusitania

The Horror Cabaret Um palco vazio, num velho cabaret abandonado. As sombras que o revestem contêm em si ainda os aromas da libertinagem. O piano quebrado solta um som, as luzes tremem, espectros de outro mundo aparecem então... A sala fica completa, The horror Cabaret entra em cena.The Horror Cabaret nasceu em 2012 na cidade de Lisboa. No piano Sid Suicide (Suicide Echoes, Sid Suicide, Cotard Delusion), nas vozes Sophie Kharis. A primeira Demo é um conjunto de gravações mantidas nas sombras, até ao seu lançamento em 2014. O projecto permaneceu inactivo desde o ano da sua formação até ao presente, tendo gravações agendadas (para o 1º album) ainda para este ano. https://cosanostradarkclubofficial.bandcamp.com/album/the-horror-cabaret

inkilina sazabra - maldita(mente) A meio da imprevisibilidade de uma floresta, os olhos de rapina da vida combinados com o esgazear pacifico da morte, criando a vigilia alucinada do tempo governada pelo dinheiro, este como uma miragem de salvo conduto pela perenidade: são os elementos da ilustração na capa de MALDITA(MENTE), e não poderia retratar melhor o conteúdo geral do álbum. Os ritmos são delirantes e recheados de adrenalina, adicionando ao inicial estilo industrial do projecto por vezes uma componente de composição quase orquestral. As melodias em Inkilina Sazabra encontram neste álbum o seu exponente de desenvolvimento, abrangendo várias complexidades emocionais e preenchendo todos os temas, não havendo faixas fracas ao longo do disco. Com tudo isto, não perde ainda Inkilina Sazabra o sentimento predatório e mecânico que conseguia transmitir num registo mais cru e minimalista, sendo que este registo constantemente nos acompanha, fazendo-­se acompanhado pelo requinte do rock. O álbum pode ser descrito como frontal nas sonoridades e sem medo de assumir o que pensa a nível das letras, oscilando entre a força de vida na sua experiência íntima e o medo que esta força provoca.

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arautos sonoros Line­up: César Palma – guitarras Pedro Sazabra – vocais Carlos Sobral – bateria Paulo Dimal ­teclados www.facebook.com/pages/Inkilina­Sazabra https://www.youtube.com/user/inkilinasazabra http://inkilinasazabra.webnode.pt/

publicidade “Os Candidatos e Outros Devaneios Cénicos” de Emanuel R. Marques, conjunto de guiões para interpretação em teatro, livrete de 68 páginas da colecção Mephistreatros contendo “Os Candidatos”, “Deus, ou a alucinação de um moribundo”, “Introsociocaos”, “Inspiração, ou a falta dela” e “Entre a vida e a morte”. Publicação em 2011. http://issuu.com/abismo_humano/docs/os_candidatos_e_outros_ devaneios_c_

“A Boca da Noite” conjunto de cinco densos contos por cinco autores, Tatiana Pereira, André Consciência, Emanuel R. Marques, Jesus Carlos e Nuno Bastos, sendo estes “A Morte dos Sentidos”, “A Lenda da Serra da Estrela”, “A Sombria Face de Uma Ilusão”, “Os Enviados” e “Do Buraco”, livrete de 60 páginas com publicação em 2012. http://issuu.com/abismo_humano/docs/a_boca_da_noite

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“E EU TER PÉ”

De José Amaro, encontra-se já disponível na editora Abismo Humano. Pode ser lido online, baixado gratuitamente ou encomendado por 7.32 euros em: http:// issuu.com/abismo_humano/docs/e_eu_ter_pe/1

Existe um segundo formato com diferente paginação e tratamento da imagem na Amazon, print & kindle, encontrando uma expressão focada na criatividade e na interacção para com o leitor. http://www.amazon.com/Eu-Ter-Pe-Portuguese-Edition/ dp/1508879435

Autor: José Amaro Ilustrador: José Amaro Prefácio: André Consciência Capa: André Consciência Editora literária: Abismo Humano “O Barão Vermelho disse: EU, nébula de aço. Eu, fogo das entranhas da montanha. Quero virgens a arder de dentro para fora.” Prefácio: José Amaro, nascido em Castelo Branco, estuda psicologia em Lisboa. É, se não um poeta e prosador em ascensão, um artista da palavra que, vivendo numa época de rápidas e numerosas transformações, propõe a transformação enquanto estética poética. Segue claramente uma linha simbolista agraciada pelo rasgo do que de melhor se aproveitou dos autores surrealistas, adoptando a atitude de uma existência humana enquanto ser mítico e mitológico. Esta fase da sua obra apresentará um contacto directo ou indirecto entre os pintores românticos e os dadaístas, ou entre a obra díspar de Isidore Ducasse e Antonin Artaud, seguindo o que denominaria de um existencialismo barbárico e heróico, em que o experimentalismo naif se afunila para desembocar na planície da filosofia representada nas personagens conceituais, seguindo essa mesma raiz de niilismo heróico que Friedrich Nietzsche introduz. José Amaro surge então aos olhos do leitor como um estranho numa terra alienante, mas com os pés sempre assentes na primordialidade a meio de uma poeira de urbanismo, que, estranhamente, nos conduz para a espiritualidade captada no que imaginaríamos ser uma Suméria tecnológica. A individualidade primal

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dos personagens assemelha-se à do homem-búzio, que porta às costas um pedaço da sua casa de origem e, não dependendo se não da sua memória visionária, em tudo o que faz é ambos civilizador e destruidor. É curiosamente aqui menos objectivo o plano urbano e o imaginário actual, pois que é decadente e a decair, e é o presente que é o local alienante, enquanto mais objectivo o plano imemorial em que só sobrevive o que pode ser verdadeiro e eterno, movendo-se assim a obra não de um realismo para um simbolismo, mas de um abstraccionismo para estes aspectos simbólicos. A cronologia é mapeada unicamente pela relação metafórica das anotações, dispostas numa espiral criativa que fazem desta obra um documento a não menosprezar. Ao passar a leitura pelas páginas, a acidez sarcástica do autor começa por despertar um cepticismo saudável que recai sobre o próprio, cepticismo este que só permitirá surpresa na progressão da narrativa poética, característica do escritor que para defender e definir a sua arte, não teme o olho crítico. André Consciência




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